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domingo, 3 de junho de 2012

Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo ...

Da esplanada do Bar Atlântico, mesmo junto ao mar, em Valadares - Vila Nova de Gaia -, podemos apreciar com calma e silêncio as gaivotas a esvoaçar, as ondas a morrer na areia da praia, os surfistas a surfar e as pessoas a caminhar no passadiço de madeira. Pode ler-se um livro, o jornal, ou ... nada fazer. Ou pensar, pensar na vida, no que somos, no que fomos e no que poderemos ser no futuro. Ontem foi o que fiz nessa esplanada, ou melhor, o que não fiz! 
Imbuído nos meus pensamentos mais profundos, dei por mim a tentar descobrir quem sou e o que faço aqui, porque parece-me que em cada dia sou um ser diferente do dia anterior. Mas, nada... não descortinei nada, ainda não foi desta vez que descobri esse mistério...
E, como só me vinham ao pensamento os dilemas do Fernando Pessoa, aqui deixo um dos seus pensamentos, que utilizei para dar o título a esta mensagem:
 Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. 
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem
ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. 
Sou como um quarto com inúmeros espelhos
fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única
anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me
vários seres. 
Sinto-me viver vidas alheias, em mim,
incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os
homens, incompletamente de cada [?], por uma suma
de não-eus sintetizados num eu postiço.
 

Fernando Pessoa, in 'Para a Explicação da Heteronímia'


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