Sempre
ouvi dizer que "o trabalho dignifica o homem" e nunca entendi muito
bem esta expressão porque nunca a consegui colar à realidade. Pelo menos à
minha realidade e aquela que me rodeia.
Veja-se
o que se passa neste país onde as pessoas com melhor qualidade de vida são (por
regra) as que menos trabalham. No entanto, como têm dinheiro, são consideradas
muito dignas. Pelo menos uma dessas, depois de deixar este País na miséria,
actualmente desempregada e sem qualquer actividade profissional conhecida,
dá-se ao luxo de viver e estudar numa das capitais mais caras da Europa:
Paris! No entanto, enquanto se passeia, de férias, por Lisboa e num Mercedes
com motorista, continua a ser considerado, por muitos outros, gente muito
digna!
"O
homem não nasceu para trabalhar, mas para criar", disse o grande
pensador e filósofo. E, disse mais: "O
português não gosta de trabalhar. Se há uma tecnologia que trabalhe por ele,
ela que avance. Ele tem coisas mais interessantes para fazer como poeta, do que
a trabalhar. (...) e dentro de determinadas condições, se a vida lhe
fosse inteiramente favorável, ele gostaria muito mais de contemplar e poetar do
que trabalhar..."Agostinho da Silva, in 'Entrevista'
Por
sua vez Voltaire, disse: “o trabalho afasta de nós três grandes males: o
tédio, o vício e a necessidade.” Deste modo, “toda a sociedade adoptou
este louvável desígnio: cada um se dedicar a exercer os seus talentos.”
Eis
aqui uma divergência clara de pensamento entre estes dois grandes pensadores. E
quem sou eu para os contrariar? Ou para concordar mais com um do que com o
outro?
Apenas
posso dizer que, tal como Ortega Y Gasset, “eu sou eu e a minha
circunstância” e, por conseguinte, ao longo de toda a minha vida procurei,
com convicção e honestidade, conciliar o trabalho com os outros prazeres da
vida, sobretudo com a presença junto dos filhos e da família. Procurei sempre
organizar o meu tempo para o distribuir entre o trabalho e o lazer.
Hoje
em dia, já com os filhos criados e a trabalharem (... :-) sem dúvida que os
momentos mais preciosos para mim são aqueles em que consigo, em paz, contemplar
a natureza, em especial o mar, ouvir uma nascente cantar, ouvir o canto das
pássaros, fazer um passeio ou uma corridinha no passadiço junto à praia e assim
por diante ... há tantas coisas belas que a vida e a natureza nos oferecem!
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