Embora não sendo natural de Vila Flor é desta Vila que eu me
sinto natural. De facto, poucos anos vivi na pequena aldeia onde nasci no
Concelho de Carrazeda de Ansiães. A terra que me acolheu foi Vila Flor. Aí vivi
o resto da infância, toda a adolescência e os primeiros anos já adulto. Depois
saí para estudar e cumprir o serviço militar. Entretanto regressei e aí vivi
anos a fio de forma feliz e tranquila rodeado das pessoas que mais amava e dos
amigos mais próximos. Os meus dias, meses e anos foram aí passados entre o Bairro
da Serração, o Largo da Fonte Romana, a Portela, o Rossio, a Praça e a
Avenida.
Em meados da década de 90, por imperativos da vida e de
índole familiar vim viver para Valadares, Vila Nova de Gaia. O desmame da Vila foi
lento e às vezes doloroso. Actualmente ainda dou por mim a ter saudades e
mesmo a pensar em regressar.
De facto, a região onde vivo, que nessa época era calma e
tranquila, com pinhais fantásticos, pequenos riachos e locais aprazíveis à
beira-mar, está agora transformada numa mistura de cimento, betão e alcatrão.
Pelo meio os centros comerciais.
É natural portanto, tendo em conta a minha situação de recém-aposentado, que me
sinta por vezes afectado por recordações e nostalgias por essa Vila onde fui
tão feliz.
Mas… infelizmente quando lá vou fico sempre muito triste por constactar
que não encontro ninguém. A desertificação foi quase absoluta. Pelo menos dos
meus amigos de infância e da adolescência. E penso neles que, sabe-se lá onde,
estarão, tal como eu, acantonados e empilhados em dormitórios deprimentes ou
luxuosos, mas que partilham esta visão paranoide que invadiu a nossa sociedade.
Por tudo isso sinto-me dividido entre a tristeza de ver Vila
Flor cada vez mais vazia de vida e triste, e Valadares cada vez mais cheia de gente e igualmente triste.
A vontade de voltar um dia para Vila Flor já foi maior. As
relações humanas (mesmo as familiares) mudaram. Os problemas surgiram e aumentaram exponencialmente. Hoje em dia já não se convive na Praça, na Avenida ou
na Fonte Romana. As pessoas sumiram-se para
outros espaços e acantonaram-se... tentando sobreviver.
É raro lá ir mas quando vou... chegam e ficam as saudades.
Nem imaginam as saudades
que eu tenho das pessoas e dos cheiros que já só guardo na memória. Das frutas,
dos aromas do entardecer de cada uma das estações, dos cheiros intensos e da
existência do dia-a-dia. Já nada disso existe.
Com as novas tecnologias é possível, hoje em dia, aproximar (virtualmente) alguns dos amigos que
estão longe. Por outro lado têm o grande defeito de afastar (realmente) aqueles que estão mais próximos
e que não têm culpa nenhuma destes nossos dilemas e lutas interiores.
E... sendo interiores, não podem ser totalmente aqui expostas...
E... sendo interiores, não podem ser totalmente aqui expostas...
Esqueces-te das longas horas em que jogávamos largas partidas de xadrez nas frias tardes/noites de inverno e nos cálidos tempos livres das férias de verão, quando o nosso grupo de amigos se encontrava nas mesas do canto do saudoso Café Avenida...
ResponderEliminarAbraço
Vitor Sil
Tens toda a razão Vítor! Esqueci-me (de facto) de aqui mencionar esse belo período da minha (nossa) vida em que juntos convivíamos desportivamente, aí em Vila Flor e não só, enquanto concentradamente procurávamos dar cheque mate ao rei do outro. Infelizmente, e como te deves lembrar muito bem, era o meu rei que era encurralado, torturado e finalmente derrubado pelos ataques estratégicos e ferozes das tuas linhas mais avançadas :-) Mas na minha mente esses tempos não se apagaram e um dia terei a oportunidade de aqui neste espaço reviver esses tempos. Um abraço, amigo.
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