Quando
era miúdo ouvi uma história que ainda hoje não sei se é verdadeira ou se faz
parte daquelas que se contam e recontam só por terem alguma piada.
Não
custa nada deixá-la aqui e cada um ficará naquilo que lhe parecer.
No dia
do casamento, a noiva chegou-se ao pé da mãe quase
a chorar e disse-lhe que estava muito preocupada.
E a
progenitora muito aflita:
- Então, filha, acalma-te. Não
fiques tão nervosa. Hoje vai ser o dia mais bonito da tua vida. Vais casar,
vais viver com o homem que amas e que te ama tanto. Vai correr tudo bem, vais
ver.
- Não é isso, mãezinha, eu sei
que é o dia do meu casamento mas o problema é que eu e o Zé Manel nunca tivemos
nada um com o outro! Nunca fizemos nada, percebe? Desde que começámos a namorar
até hoje, ele nunca me tocou, nem mostrou vontade disso. Respondeu a filha.
- Oh cum caraças, filha, então
e só hoje é que te lembras disso? Tou feita contigo! E agora, se se der o caso
de o Zé Manel gostar tanto de homens como tu, comé que vai ser? Ai, filha,
agora deixaste-me tão preocupada. Mas agora não há nada a fazer, está quase na
hora de ir pró casório. Olha, vamos em frente e o que for soará...
E
foram! O Zé Manel ia muito bem vestido, elegante e apessoado, ao ponto de as
convidadas amigas da noiva passarem toda a cerimónia, que decorreu na Igreja Matriz de Vila Flor, a invejarem a sorte da
noiva.
Seguiu-se
a boda. Foi uma festança do camandro ali para os lados do Cabeço da Nossa Senhora
da Assunção, em Vilas Boas. O pai do noivo, depois de emborcar uns canecos,
pendurou a gravata e dançou toda a noite com as damas de honor que estavam bonitas
e andavam bem-dispostas. O noivo foi também muito solicitado prá dançaria mas
comportou-se sempre exemplarmente, demonstrando ser um perfeito cavalheiro, o
que fez aumentar as desconfianças da mãe da noiva.
Terminada
a comezaina e a bebedeira, quando os noivos se despediam dos convidados para irem
para a lua-de-mel, a mãe da miúda chamou-a de lado e perguntou-lhe:
- Então, Zulmira, estás mais confiante?
- Então, Zulmira, estás mais confiante?
- Nada... não... minha mãe, está-me
a querer parecer que tudo isto vai correr muito mal.
- Ai filha, que ralação… Olha,
filhinha querida, faz um favor à mãe. Amanhã de manhã, assim que te levantares,
telefona-me. Mas olha, para não preocupar o teu pai, vamos combinar o seguinte:
se o Zé Manel continuar a dar uma de "anjinho agoniado", tu dizes que ele não
gosta de bifes; se por acaso suceder um milagre, por pequenino que seja, tu
dizes que gosta de bifes. Combinado, filha?
- Combinado, minha mãe.
E lá
arrancaram os pombinhos para a Pousada, ali para os lados da Serra de Bornes, onde
passariam a primeira noite.
A Dona
Josefa não pregou olho, preocupadíssima, apesar de o marido, o anafado Julião
ter tentado por quatro vezes cumprir a sua obrigação, antes de ter adormecido e
começar a roncar que nem um porco.
Seriam
umas 11 da matina quando finalmente toca o telefone em casa da Dona Josefa.
Era a
filha:
- Mãezinha, mãezinha, ai
mãezinha, nem sei como é que lhe vou dizer isto.
- Diz, filha, meu amor. Ai, querida, estou tão ralada, o teu pai a querer fazer passar-se por noivo durante toda a noite e eu sem notícias tuas. Ai, filha, foi uma noite de angústia, mas conta amor, como é que foi. O Zé Manel, finalmente, gosta ou não de bifes?
- Diz, filha, meu amor. Ai, querida, estou tão ralada, o teu pai a querer fazer passar-se por noivo durante toda a noite e eu sem notícias tuas. Ai, filha, foi uma noite de angústia, mas conta amor, como é que foi. O Zé Manel, finalmente, gosta ou não de bifes?
- Ai, mãezinha, o Zé Manel
gosta tanto, mas tanto de bifes que até lambe a frigideira!
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