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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Os bifes da Dona Josefa...

Quando era miúdo ouvi uma história que ainda hoje não sei se é verdadeira ou se faz parte daquelas que se contam e recontam só por terem alguma piada.
Não custa nada deixá-la aqui e cada um ficará naquilo que lhe parecer.

No dia do casamento, a noiva chegou-se ao pé da mãe quase a chorar e disse-lhe que estava muito preocupada.
E a progenitora muito aflita:
- Então, filha, acalma-te. Não fiques tão nervosa. Hoje vai ser o dia mais bonito da tua vida. Vais casar, vais viver com o homem que amas e que te ama tanto. Vai correr tudo bem, vais ver.
- Não é isso, mãezinha, eu sei que é o dia do meu casamento mas o problema é que eu e o Zé Manel nunca tivemos nada um com o outro! Nunca fizemos nada, percebe? Desde que começámos a namorar até hoje, ele nunca me tocou, nem mostrou vontade disso. Respondeu a filha.
- Oh cum caraças, filha, então e só hoje é que te lembras disso? Tou feita contigo! E agora, se se der o caso de o Zé Manel gostar tanto de homens como tu, comé que vai ser? Ai, filha, agora deixaste-me tão preocupada. Mas agora não há nada a fazer, está quase na hora de ir pró casório. Olha, vamos em frente e o que for soará...

E foram! O Zé Manel ia muito bem vestido, elegante e apessoado, ao ponto de as convidadas amigas da noiva passarem toda a cerimónia, que decorreu na Igreja Matriz de Vila Flor, a invejarem a sorte da noiva.
Seguiu-se a boda. Foi uma festança do camandro ali para os lados do Cabeço da Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas. O pai do noivo, depois de emborcar uns canecos, pendurou a gravata e dançou toda a noite com as damas de honor que estavam bonitas e andavam bem-dispostas. O noivo foi também muito solicitado prá dançaria mas comportou-se sempre exemplarmente, demonstrando ser um perfeito cavalheiro, o que fez aumentar as desconfianças da mãe da noiva.
Terminada a comezaina e a bebedeira, quando os noivos se despediam dos convidados para irem para a lua-de-mel, a mãe da miúda chamou-a de lado e perguntou-lhe:
- Então, Zulmira, estás mais confiante?
- Nada... não... minha mãe, está-me a querer parecer que tudo isto vai correr muito mal.
- Ai filha, que ralação… Olha, filhinha querida, faz um favor à mãe. Amanhã de manhã, assim que te levantares, telefona-me. Mas olha, para não preocupar o teu pai, vamos combinar o seguinte: se o Zé Manel continuar a dar uma de "anjinho agoniado", tu dizes que ele não gosta de bifes; se por acaso suceder um milagre, por pequenino que seja, tu dizes que gosta de bifes. Combinado, filha?
- Combinado, minha mãe.
E lá arrancaram os pombinhos para a Pousada, ali para os lados da Serra de Bornes, onde passariam a primeira noite.
A Dona Josefa não pregou olho, preocupadíssima, apesar de o marido, o anafado Julião ter tentado por quatro vezes cumprir a sua obrigação, antes de ter adormecido e começar a roncar que nem um porco.
Seriam umas 11 da matina quando finalmente toca o telefone em casa da Dona Josefa.
Era a filha:
- Mãezinha, mãezinha, ai mãezinha, nem sei como é que lhe vou dizer isto.
- Diz, filha, meu amor. Ai, querida, estou tão ralada, o teu pai a querer fazer passar-se por noivo durante toda a noite e eu sem notícias tuas. Ai, filha, foi uma noite de angústia, mas conta amor, como é que foi. O Zé Manel, finalmente, gosta ou não de bifes?
- Ai, mãezinha, o Zé Manel gosta tanto, mas tanto de bifes que até lambe a frigideira!

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