Andam por si mesmas. São simples pontos de contacto entre o
chão e o mundo inquieto que normalmente me preenche o interior, perdido para lá
do olhar que se desvanece entre os últimos raios da luz do sol e a vermelhidão que
vai surgindo lá na linha do horizonte com que os meus olhos se fundem na noite
que nasce.
Correndo lentamente e sem ouvir os passos que calcam as travessas do
passadiço, contorno a contracurva por entre o canavial que antecede a piscina da
Granja e “atravesso” o edifício restaurante que de repente me esconde o céu,
reinventando e antecipando a noite nessa estreita e apertada passagem.
Dentro de mim bate-me
o zunir dos talheres, abafando qualquer som de passos que as paredes pudessem
devolver.
Passo pelo que é agora um parque de estacionamento mas que já foi
um campo de ténis e recordo, de forma mecânica, os tempos em que aí jogava com
amigos que partiram sabe-se lá para onde (não é Mário?); rodo para a direita e de novo surgem o mar, o areal, o céu, as
nuvens e as gaivotas.
Neste ponto plano procuro, compulsivamente, não calcar a linha contínua e serpenteante desenhada a branco no chão de asfalto cor de tijolo e... aproveito para fazer uma curta introspecção: "ontem passei
aqui mais cedo, o sol ainda estava alto e tinha os olhos tão semicerrados pela
intensidade do luz e pelo branco da areia que me doíam todos os músculos do
rosto pelo esforço feito ao confiná-los a uma linha atrás da qual podia
observar o azul das águas do mar e escuridão profunda desse apelo determinante
do meu ser".
Continuo a correr e o peito aspira os intensos aromas trazidos pelo
vento; ora com a frescura do mar a desfazer-se a toda a hora em espumas, ora vindo
da cozinha das esplanadas de praia com os seus cheiros a pão torrado e a salsichas
grelhadas.
De repente surgem as dúvidas. Não sei bem quem sou nem onde
estou. Para dizer a verdade, não faço sequer qualquer ideia pois desde que dei
por mim aqui a correr, qual atleta de maratona, ao lado deste areal e debaixo deste
céu ora coberto de nuvens que correm a esconder o sol, ora coberto de riscos traçados pelos aviões que vão e vêm de Pedras Rubras, também descobri que me perdi de mim talvez no meu interior ou por ai algures, neste tempo e neste espaço...
À entrada de Espinho "tirei" esta fotografia!
No regresso e já perto da Aguda tirei esta!
À entrada de Espinho "tirei" esta fotografia!
No regresso e já perto da Aguda tirei esta!
Mas vale a pena insistir.
ResponderEliminarNo fim do caminho sempre havia mais luz...
É verdade que no fim destas corridas solitárias encontro normalmente a “luz” que tem iluminado o meu caminho… e não vem do sol, não saí do mar, nem cai do céu mas sai, calma e tranquila, de um ginásio… :-)
EliminarQue lindo! Estás (com um pouco de + contraste)estás um verdadeiro artista na Arte de bem Fotografar "todavia".
ResponderEliminarTu não "tiraste esta Fotografia", tu, fizeste estas belas FOTOGRAFIAS. Tirar, tiram-se RETRATOS.
1 grande abraço
Manuel Freire
Amigo Vilares! Sabes que os nossos velhotes costumam dizer: "Aprender até morrer!". O Sócrates (o filósofo grego) dizia: "só sei que nada sei!". E eu digo: Obrigado amigo por me ensinares mais um pouco do muito que me ensinaste em tempos que já lá vão!
ResponderEliminarDe qualquer modo tive o cuidado, por insegurança nesta matéria, de colocar as aspas no tirei...
Obrigado por ires espreitando os meus desabafos neste blogue.
Um abraço amigo
Amigo Bernardino. Como és muito generoso no que diz respeito ao teu amigo Vilares, permite-me que seja, como sempre, mais uma vez, muito sincero contigo. Agora, nesta idade "linda", concluí que nunca ensinei nada a ninguém. Apenas coloquei e coloco à disposição de quem comigo partilhava e partilha, a minha experiência e alguns saberes acumulados. Obrigado amigo.
ResponderEliminarAgora o teu blogue para além da qualidade, é teu. E sendo teu faz parte da nostalgia da amizade passada, presente e futura. Podes crer.
Manuel freire
Amigo Vilares!
EliminarSe concluíste que nunca ensinaste nada a ninguém estás profundamente enganado. Estás também a ser modesto demais e injusto contigo. Não imaginas o quanto aprendi contigo no ano lectivo de 1979/1980. A sério, para mim eram aulas de pedagogia pura as viagens que juntos fazíamos, no meu “bolinhas” e/ou (mais vezes) na tua Citroen Dyane, de Vila Flor para Carrazeda de Ansiães. Também aprendi muito nos anos seguintes, quando eras o Presidente do Conselho Directivo da EB 2/3 de Vila Flor e eu um modesto professor provisório do 11º B grupo. Belos tempos dos quais guardo gratas recordações.
Uma grande abraço
Como já lhe disse num outro comentário sou de Macedo e vivo no Canadá e hoje venho aqui dizer-lhe que aqui em casa todos gostamos do seu blog. Já percebo melhor todo o respeito que demonstra ter pelos emigrantes porque sigo o conto O Neto de um Emigrante em Paris e também quero agradecer-lhe pelas fotografias e vídeos que mostram terras e locais interessantes do meu querido Portugal onde já não vou há muitos anos. Também admiro a forma como consegue lidar tão bem com os seus amigos que são portistas doentes e que o obrigaram a ir a uma casa do FCP no Porto, segundo li na reportagem que um deles fez aí no seu blog. Eu não conseguia isso pois também sou doente pelo Benfica e só espero que no Domingo os derrotemos de uma vez por todas.
ResponderEliminarObrigado pelos momentos que me proporciona aqui e não desista.
R. Tavares
Obrigado amigo! As suas palavras são um estímulo e... dão-me motivação e vontade de continuar a minha actividade neste blogue.
EliminarFelicidades para si e para a sua família.
Viva o SLB!!!