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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XII)

Sábado, 10 de Abril de 1971. Zeferino mal saiu da estação do Metro de la Place d´Italie pôs-se a passear pela cidade de Paris. 
A primeira sensação de novidade que teve foi a de poder olhar sozinho e descontraidamente para todas as mulheres que passavam por ele como se fossem suas potenciais namoradas... Talvez por isso precisasse de estar sozinho naquele dia. Andou toda a manhã a deambular perdido pelas Avenidas de Gobelins e de Choisy, até se meter de novo no Metro e sair na estação Charles de Gaulle-Étoille, mesmo junto ao Arco do Triunfo.
Aproveitou para visitar este monumento que fica situado no coração de Paris (Praça Charles de Gaulle) e que foi pensado por Napoleão com a finalidade de celebrar as suas vitórias militares. Entrou no museu que existe no seu interior em homenagem ao Soldado Desconhecido, onde uma chama é acesa diariamente.
Ao sair do Museu teve tempo e oportunidade de olhar ao redor da praça e contar até as 12 avenidas que aí desembocam. 
Nesse dia, em que se sentia tão cinzento quanto a própria vida, acabou a passear sozinho e optou por entrar na Avenida dos Campo Elíseos e interiorizou que se encontrava, nesse preciso momento, num dos locais mais famosos do Mundo onde, no dia 14 de Julho de cada ano, se comemora a Queda da Bastilha, com desfiles e fogos de artifício. Percorreu a pé e devagar os seus 2 Km de comprimento, admirando as esplanadas dos luxuosos cafés e restaurantes, os belos e monumentais edifícios com lojas de decoração, as embaixadas, bancos e discotecas famosas da época.
No fim da Avenida entrou e apreciou, pela primeira vez, a Praça da Concórdia, recordando as aulas de história onde aprendeu que foi no centro desta praça que se colocou a guilhotina que acabou com a vida de Luis XVI e Maria Antonieta. Admirou o famoso Obelisco de Luxor aí colocado desde que foi oferecido à França pelo rei do Egipto.
Continuou a andar e, já cansado, acabou por se sentar num banco de um parque de diversões situado mesmo ao lado do Jardim das Tuileries.
Pensativo e já mais descontraído, Zeferino acendeu um cigarro de um maço que seu avô lhe tinha oferecido na véspera e certificou-se, mais uma vez, que detestava o tabaco francês. Enjoou aquele sabor artificial e a constante sensação de estar intoxicado, fartou-se daquele cheiro a fumo impregnado na roupa e até já se tinha esquecido do prazer que tinha dos cigarros SG filtro, a sua marca preferida. Mesmo assim acabou por acender outro cigarro, talvez porque também detestava não fumar.
Para além do tabaco, detestar uma coisa e o seu contrário só lhe tinha acontecido no amor. Lá está... sentia-se cansado de namorar Helena (antevia a separação definitiva no início do próximo ano lectivo porque ele ía estudar não sabia ainda bem para onde e ela ia viver e estudar para Bragança) mas também detestaria não a namorar. 
Por conseguinte, temos que resolver isso quando regressar a Portugal, acabando com esta incerteza e colocando um ponto final na relação, pensou de forma decidida.

Deu consigo a rir-se sozinho entre duas passas sem sabor e dizia e perguntava a si mesmo: "eu não estou maluquinho! ou estou?"
 (continua...)

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