Desde
que me aposentei, faz hoje exactamente 15 meses, quando passo em
frente à minha antiga escola raramente me lembro de que foi aí que trabalhei nos últimos 19 anos da minha longa carreira docente. Nem sequer olho para lá.
Hoje
passei lá mais uma vez. Não sei bem porquê, desta vez olhei e... reparei numa
escola a transbordar de gente dentro e fora, os portões abertos a receber quem
tanta vez neles já passou e há-de passar.
Sentei-me no café mesmo ao lado da farmácia e que fica quase em frente ao portão da escola… como que a matar saudades. Nesse momento a maioria dos clientes do café eram reformados como eu que faziam a sua tertúlia matinal falando das últimas do futebol e dos fracos políticos que ocupam cargos no governo da nossa desgraça. Outros desfolhavam ociosamente as páginas de desporto de um dos jornais de referência do Porto.
Sentei-me no café mesmo ao lado da farmácia e que fica quase em frente ao portão da escola… como que a matar saudades. Nesse momento a maioria dos clientes do café eram reformados como eu que faziam a sua tertúlia matinal falando das últimas do futebol e dos fracos políticos que ocupam cargos no governo da nossa desgraça. Outros desfolhavam ociosamente as páginas de desporto de um dos jornais de referência do Porto.
Entretanto,
eu ia lançando os olhos para o exterior e via sobretudo os alunos. Alguns a
correr, outros aos abraços com palmadinhas nas costas. Muitas alunas a sorrir e
outras aos beijinhos ou partilhando, em duo, a música que lhes vem pendurada das orelhas. Ainda mais ao longe, um grupo de rapazes a espreitar as raparigas da
Escola Secundária que fica aí mesmo paredes meias. Parecem mais adultas e
algumas até cresceram na EB 2/3, mas… agora vagueiam pelos recreios da
Secundária de forma altiva e graciosa. Os alunos mais velhos aparentam um
descontentamento altivo a esvoaçar sobre a indisfarçável alegria dos mais novos
que, por sua vez, reencontram outros ainda mais novos e, supostamente, mais
submissos. Vejo também alguns pais a dirigirem-se, presumivelmente, para a
secretaria a transbordar com pedidos de tudo e tendo de passar por corredores a
abarrotar (imagino eu) e cheios de vozes estridentes.
Entretanto,
lá fora na rua o dia está com um calor húmido que ensopa. A chuva deste dia 7
de Outubro deixa-me algo nostálgico e “transporta-me” para a sala de
professores daquela escola e para os dias que por ai passei. Tanto tempo em
incerteza com as "janelas" abertas em espírito de princípio de fim de
carreira. Enfim, respiro! Vim para a reforma com uma forte penalização
financeira mas com um grande ganho no alívio físico e emocional.
Vim
embora independentemente dos broncos ministros da educação que se sucederam,
de leis bacocas e de governos que não aprenderam a governar nem com o tempo nem
sem ele. Vim também independentemente de directores de escola obtusos e sem
palavra que decidem e retiram o que decidem; que dizem e desdizem... não cumprindo com a palavra dada e recebida
de boa-fé, sabe-se lá porquê. No seu posto são, ou foram,
judas. E no entanto foram apenas "profissionais". Considerados por
muitos, inclusivamente por mim, bons profissionais porque eram sempre os
primeiros a chegar e os últimos a partir. E eu digo simplesmente: deixá-los ir
com Deus, apesar de não ser católico.
Para
todos aqueles que, tal como eu, tiveram de partir dos seus postos de trabalho,
deixando as suas funções de que tanto gostavam (e precisavam) antes do tempo e com enormes prejuízos fica a satisfação de sair com a espinha
direita e com o sentimento de que nunca foram apenas bom professores e/ou bons
profissionais.
Foram (e
são) Homens.
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