Ao acabar de ler o longo texto fiquei
muito mais tranquilo mas verifiquei, com espanto, que alguns dos meus colegas
tinham os olhos cheios de lágrimas. As colegas das primeiras carteiras
olhavam-me com admiração e com um olhar meigo e terno… pelo menos eu senti-o
dessa forma.
Nessa altura compreendi também
uma coisa muito importante: gosto de escrever e posso fazê-lo. Felizmente é um
gosto que não exige senão tempo, uma caneta ou um lápis e papel. Ora,
felizmente, eu tinha tudo isso. Portanto tinha a sorte de gostar do que gostava
e daquilo que tinha! Senti-me feliz e por isso pensei: que me importa aquilo
que o Padre Cassiano pensa? Até lhe estou agradecido por me ter dado a
oportunidade de me dar conta de tudo isso.
Agora, e assim à distância de
45 anos, até o desculpo e reconheço que nessa época os professores ainda não
tinham a preocupação e o interesse pela melhoria da auto-estima e
do auto-conceito como forma de estimular o sucesso escolar dos seus
alunos. De facto, o estudo da auto-estima em contexto escolar,
sobretudo na sua interligação com o aproveitamento dos alunos com
capacidades cognitivas só assume particular importância muitos anos mais tarde.
O professor, embora Padre de
profissão e (talvez) vocação, não podia ter - nessa época - conhecimentos de
psicologia do desenvolvimento e educação de crianças e jovens adolescentes para
saber que a estabilidade emocional e o auto-conceito dos alunos
contribuem decisivamente para a melhoria da sua qualidade de vida. De
facto, são os alunos que recebem estímulos afectivos positivos a esse nível, em
casa e nas salas de aula, que apresentam níveis de rendimento escolar mais
elevados, quando comparados com alunos que não recebem qualquer estímulo ou com
aqueles que, por qualquer motivo, recebem estímulos contrários e que lhes
baixam a auto-estima como aconteceu comigo nesta situação concreta
e mesmo noutras que agora não vêm ao caso.
Nesse dia, e nessa aula de Português, o melhor estímulo afectivo positivo que obtive foi captado de mim para mim, cá do fundo do meu interior, ao dar-me conta de que também era capaz de fazer algo positivo e competente. E... incrivelmente também vindo do exterior, mas não do professor como seria suposto e desejável mas sim das lágrimas que vi em algumas das minhas colegas e, sobretudo, do meu colega e amigo Tino Navarro, quando da sua carteira lá do fundo sala se levantou e disse alto e bom som: Senhor Padre Cassiano eu também ouvi o “marancha” contar esta história aos meus irmãos mais velhos!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário