Era o último dia do mês de Agosto.
Atravessávamos um período político muito crítico e que ficou conhecido como o Verão Quente de 1975. Em pleno Período Revolucionário em Curso (PREC) que foi, de facto, um tempo marcante na História de Portugal, que teve início com o golpe militar de 25 de Abril de 1974 e viria a culminar (cerca de três meses depois) com o golpe militar de 25 de Novembro.
O Café Liz estava cheio com os clientes habituais, com a malta vinda de vários lados de Vila Flor e com alguns emigrantes mais retardados que ainda não tinham regressado ao País de acolhimento. Era mais um dia de convívio para uns e de despedidas para outros. Enquanto uns conversavam em pequenas tertúlias, outros jogavam snooker ou bilhar livre. Outros ainda visionavam o programa de Domingo à tarde que passava no ecrã da enorme televisão colocada mesmo por cima da porta de entrada do Café. Os restantes esgotavam todos os lugares do espaçoso Café. Cá dentro e lá fora na pequena esplanada não havia nenhuma mesa livre.
Atravessávamos um período político muito crítico e que ficou conhecido como o Verão Quente de 1975. Em pleno Período Revolucionário em Curso (PREC) que foi, de facto, um tempo marcante na História de Portugal, que teve início com o golpe militar de 25 de Abril de 1974 e viria a culminar (cerca de três meses depois) com o golpe militar de 25 de Novembro.
O Café Liz estava cheio com os clientes habituais, com a malta vinda de vários lados de Vila Flor e com alguns emigrantes mais retardados que ainda não tinham regressado ao País de acolhimento. Era mais um dia de convívio para uns e de despedidas para outros. Enquanto uns conversavam em pequenas tertúlias, outros jogavam snooker ou bilhar livre. Outros ainda visionavam o programa de Domingo à tarde que passava no ecrã da enorme televisão colocada mesmo por cima da porta de entrada do Café. Os restantes esgotavam todos os lugares do espaçoso Café. Cá dentro e lá fora na pequena esplanada não havia nenhuma mesa livre.
Até que, entra uma bela e jovem mulher, curvilínea, irrepreensivelmente
vestida, desconhecida de todos e que atraía os olhares dos homens, uns de forma
disfarçada, outros de maneira ostensiva.
Caminhando por entre as mesas e contornando as duas mesas de bilhar a jovem mulher tentava descobrir, sem êxito, um lugar para se sentar. Fixou os seus olhos azuis, amendoados, numa mesa, lá ao fundo onde eu me encontrava sozinho e absorvido na leitura de um artigo do jornal O Comércio do Porto, que explicava como Pinheiro de Azevedo dava início às primeiras diligências para a formação do VI Governo Provisório.
Caminhando por entre as mesas e contornando as duas mesas de bilhar a jovem mulher tentava descobrir, sem êxito, um lugar para se sentar. Fixou os seus olhos azuis, amendoados, numa mesa, lá ao fundo onde eu me encontrava sozinho e absorvido na leitura de um artigo do jornal O Comércio do Porto, que explicava como Pinheiro de Azevedo dava início às primeiras diligências para a formação do VI Governo Provisório.
- Desculpe-me estar a
incomodá-lo, mas não consigo encontrar nenhuma mesa livre. Importa-se que me
sente à sua?
Levantei os olhos do jornal, aparentemente surpreendido pela beleza daquela mulher, puxei uma cadeira e convidei-a a sentar-se, indiferente aos sorrisos da malta que seguia a cena: - Faça favor! É um prazer!
Sentou-se e agradeceu: - É muito simpático. Reparei que foi o único homem que, educadamente, não me "comeu" com os olhos enquanto eu procurava lugar.
Levantei os olhos do jornal, aparentemente surpreendido pela beleza daquela mulher, puxei uma cadeira e convidei-a a sentar-se, indiferente aos sorrisos da malta que seguia a cena: - Faça favor! É um prazer!
Sentou-se e agradeceu: - É muito simpático. Reparei que foi o único homem que, educadamente, não me "comeu" com os olhos enquanto eu procurava lugar.
- Estava a ler e, quando estou absorvido na leitura, consigo abstrair-me completamente de
tudo o que me rodeia - esclareci com o meu melhor sorriso.
- Você, além de simpático, é um rapaz polido e de boas maneiras.
- Oh!!! Obrigado, acho que não fiz nada de mais – respondi, algo envergonhado, ao mesmo tempo que pousava delicadamente a palma da minha mão nas costas da mão dela.
Ela pareceu gostar daquele toque carinhoso. Retribuiu, olhando-me directamente nos olhos.
Desviei o olhar procurando concentrar-me no outro lado da rua onde o Sr. Eusébio Ápio Garcia, na sua loja de electrodomésticos, provavelmente gaguejando, mas de forma tranquila, dava orientações ao seu jovem e "Puto" empregado.
Quebrei o silêncio que se seguiu perguntando: - e o que faz uma jovem e bonita mulher, sozinha, em Vila Flor?
- Estou de passagem. Fui colocada na escola primária de Sampaio e vou para lá ainda hoje para, com tempo, arranjar uma casa, conhecer a escola e a própria aldeia…
Depois de uma pausa, enquanto a Maximina lhe servia o café, perguntou: - Como se chama?
- Você, além de simpático, é um rapaz polido e de boas maneiras.
- Oh!!! Obrigado, acho que não fiz nada de mais – respondi, algo envergonhado, ao mesmo tempo que pousava delicadamente a palma da minha mão nas costas da mão dela.
Ela pareceu gostar daquele toque carinhoso. Retribuiu, olhando-me directamente nos olhos.
Desviei o olhar procurando concentrar-me no outro lado da rua onde o Sr. Eusébio Ápio Garcia, na sua loja de electrodomésticos, provavelmente gaguejando, mas de forma tranquila, dava orientações ao seu jovem e "Puto" empregado.
Quebrei o silêncio que se seguiu perguntando: - e o que faz uma jovem e bonita mulher, sozinha, em Vila Flor?
- Estou de passagem. Fui colocada na escola primária de Sampaio e vou para lá ainda hoje para, com tempo, arranjar uma casa, conhecer a escola e a própria aldeia…
Depois de uma pausa, enquanto a Maximina lhe servia o café, perguntou: - Como se chama?
- Bernardino, sou o Bernardino!
- Eu chamo-me Adosinda e gostava de o conhecer melhor... Não quer ir visitar-me, lá à aldeia, amanhã?
- Amanhã!? A partir de amanhã o meu destino está fora de mim, não me pertence e não sei se fará parte do seu. Amanhã, dia 1 de Setembro, parto para a Escola Prática de Cavalaria de Santarém onde vou iniciar o serviço militar obrigatório. Sim, amanhã vou para a tropa e é única certeza que tenho sobre o amanhã…
- Eu chamo-me Adosinda e gostava de o conhecer melhor... Não quer ir visitar-me, lá à aldeia, amanhã?
- Amanhã!? A partir de amanhã o meu destino está fora de mim, não me pertence e não sei se fará parte do seu. Amanhã, dia 1 de Setembro, parto para a Escola Prática de Cavalaria de Santarém onde vou iniciar o serviço militar obrigatório. Sim, amanhã vou para a tropa e é única certeza que tenho sobre o amanhã…
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E pronto. Nunca mais se viram!
Fixe:)
ResponderEliminarObrigado Luís. Esta "estória" é verdadeira, excepto o nome da "jovem curvilínea" :-)
ResponderEliminarPois, pois.... ai, ai…. eu (por acaso) "tamém" conheço esses café e tenho a dizer o seguinte:
ResponderEliminar1.º Jogava-se bem snooker.
2.º- Tirando os "mirones, onde tu estás incluído, não vejo lá ninguém com "tal.....beleza" na época.
3.º- Só estou aqui a dar-te cabo da mona, porque eu, dia 6 de Janeiro do ano de 1970 "assentei, também as nalgas" na Escola de Cavalaria onde o Comandante era o Ten. Coronel A. da Silva Banazol.
4.º O resto deixo isso para ti, pois eu sei que foste sempre bom nessa matéria. Eh!eh!eh! como tu dizes.
1 grande abraço
MAFreire
Então tu não sabes que “quem conta um conto acrescenta sempre um ponto”!?
ResponderEliminarQuanto à “tal…beleza” isso depende muito do conceito de beleza de cada um, do estado de espírito e do ângulo com que se vê…
Quando chegaste à Escola Prática de Cavalaria não te mandaram relinchar? A mim foi a 1ª coisa que me obrigaram a fazer antes, sequer, de entrar o portão principal… e de 4 no chão eh! eh! eh!
Um abraço