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terça-feira, 2 de julho de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXVI)

Pois bem... a garota que mais o havia entusiasmado foi provavelmente a única de todas as pessoas daquela sala que não se sentou ao seu lado!
Na verdade nem sequer olhou para Zeferino durante todo esse tempo, o que o deixou, de certa forma, muito intrigado e algo angustiado. Como tinha que ir embora sentia que o tempo para a conhecer estava a passar e era limitado, como se de uma ampulheta se tratasse.
Quando a Lille finalmente chegou ele acabou por perceber que elas eram uma espécie de melhores amigas. Só nesse momento é que teve a oportunidade de a conhecer pois foi-lhe formalmente apresentada. Chamava-se Luísa e… era portuguesa!
A Lille bem tentou dizer-lhe, quando referiu a sua simpatia especial por portugueses, que tinha uma grande amiga portuguesa mas ele, despassarado como era, nem sequer a tinha ouvido com a devida atenção.
Nesse momento e de forma desinibida, porque entretanto já tinha bebido algumas cervejas, teve a oportunidade de lhe dizer que tinha estado a noite inteira à espera que ela viesse sentar-se na cadeira ao lado da sua para a poder cumprimentar e para lhe dizer que estava verdadeiramente encantado com o seu charme e com as boas sensações que ela lhe transmitia... mesmo de longe. 
Luísa, embora agradecendo simpaticamente os elogios, não gostou muito do rumo da conversa pois afastou-se de imediato o que deixou Zeferino desiludido, com um pequeno aperto no estômago e a pensar: - Agora é que está o "caldo entornado"... estraguei tudo, porra! 

Quando eram cinco da manhã pegou na mochila para se ir embora e começou a despedir-se dos poucos que ainda estavam presentes. A Luísa era uma delas e mostrou-se algo atónita. Ele explicou-lhe que estava na hora de seguir viagem e não queria perder a boleia prometida.
Ela, de forma verdadeiramente surpreendente para ele, ofereceu-se para o acompanhar até à esquina da rua Léopold-Thézard. 
E foi assim que teve, muito provavelmente, umas das melhores horas da sua ainda curta vida.
Nessa hora de vida tudo aconteceu de improviso e em turbilhão…
Antes de saírem Zeferino abraçou e beijou Lille, demonstrando-lhe toda a sua gratidão. Ela, com um enorme sorriso e um brilho matreiro nos olhos, respondeu-lhe que tinha sido um prazer e que se tratasse bem de Luísa no tempo que lhe restava da noite, então poderia considerar todas as contas saldadas. Ao dizer-lhe isso passou para a mão de Luísa um pequeno objecto (que ele não conseguiu identificar) dando simultaneamente um pequeno empurrou aos dois num sentido que não era propriamente a porta da rua.
Foi então conduzido para a garagem da moradia que ficava na cave. Aqui chegados, Luísa pegou no tal objecto dado por Lille e que era, nem mais nem menos, a chave da porta de acesso a um pequeno anexo para onde entraram. No interior deste havia um sofá verdadeiramente confortável onde se instalaram e se conheceram melhor… muito melhor! 

No fim, Zeferino olhou agradecido para ela e recitou-lhe:
“Senti-te aqui junto ao coração
e ajudaste-me a extinguir a solidão!
Mataste as saudades de outra pele também macia
 que me aqueceu num comboio e num belo dia…

Luísa sorriu com cara de quem não tinha percebido a verdadeira intenção desta mensagem. Ficou na dúvida se “aquilo” era um elogio, um lamento nostálgico ou um agradecimento.
Saíram e ela teve a gentileza de o levar, sempre de mão dada, ao local da boleia.
Ao despedirem-se projectaram voltar a encontrar-se, trocaram contactos e vários beijos.

Nunca mais se viram...
(continua...)

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