Finalmente,
e para terminar este capítulo, quero dizer que continuo a acreditar nas
pessoas. Não nas pessoas todas que comigo trabalharam. Não sou tão ingénuo
a esse ponto. Mas que há boa gente lá isso há!
Estou
também convencido que mesmo as outras, aquelas em que não acredito, ou em que deixei de acreditar e que comigo se cruzaram, fizeram-no por um motivo qualquer
e desempenharam um papel importante para o meu enriquecimento pessoal.
Não vou
falar de todas por motivos óbvios. Mencionarei apenas algumas daquelas que: pela forma como
foram corrigindo os meus defeitos, pelo seu exemplo, pela sua prática e pela sua intervenção oportuna me serviram de modelo e contribuíram
decisivamente para o meu bem-estar na profissão e para que me tornasse cada vez melhor enquanto pessoa e profissional.
A
primeira dessas pessoas foi a Albertina S. Rodrigues que teve um papel curioso,
mas determinante, no meu ingresso nesta carreira. Estou mesmo convencido que se
ela não se tivesse disponibilizado, nesse dia 22 de Novembro de 1978, para
alterar o seu horário recebendo uma turma que me estava destinada, eu nunca
teria aceitado iniciar funções nesse dia.
De
facto, quando constatei que no horário que estavam a propor me
tinha sido atribuída uma turma do 11º ano de escolaridade de Geologia, fiz
saber que não podia aceitar o lugar, assumindo que não estava preparado sob o
ponto de vista científico e pedagógico para leccionar Geologia a esse nível de
ensino.
O
presidente do Conselho Directivo ainda procurou argumentar mas, vendo a minha
inflexível determinação, procurou resolver o problema de outra forma mandando chamar uma das professoras do 11º B (Biologia e Geologia) que
leccionava geologia a outras turmas. Essa colega era a Albertina que, confrontada com o problema,
serenamente, depois de analisar e ponderar muito bem, apresentou uma proposta
de solução que passava por ceder uma das suas turmas de Ciências da Natureza do
7º ano e assumir, ela própria, a turma do 11º que
me estava destinada. E pronto! Resolveu-se o problema e eu aceitei o lugar!
No
ano seguinte, já na Escola C+S de Carrazeda de Ansiães, um dos colegas que mais
me marcou e de quem me tornei amigo foi, sem dúvida, o Manuel Freire Vilares.
Pela sua atitude e pela sua postura profissional tornou-se, para mim, se calhar
sem ele o saber, uma referência profissional. Para ele o foco da aprendizagem
estava no aluno e no seu contexto. O saber/fazer e o saber/ser eram para a maioria
dos alunos daquela região e daquele tempo muito mais importantes para a
sua vida futura do que simplesmente os conteúdos teóricos das diferentes
disciplinas. As viagens, que juntos fazíamos, diariamente, no meu “bolinhas”
e/ou na sua Citroen Dyane, de Vila Flor para Carrazeda de Ansiães, eram
aulas de pedagogia pura que eu ouvia com toda a atenção e interesse.
Na segunda metade da década de 80 tive o
privilégio de trabalhar com um grande profissional, o Mário Sanches.
Já eramos amigos e vizinhos desde a infância e adolescência pois vivíamos
na mesma rua. Juntos jogávamos à bola e “hóquei” (utilizando os troncos das
couves fazendo de stick e papéis de cartão embrulhados em meias de nylon,
fazendo de bola). Aproveitávamos ainda a proximidade da muralha da Vila e do Arco D. Dinis para brincarmos aos cowboys e aos índios e a Quinta da Paz para comermos saborosos melões alheios. :-)
Depois, cada um seguiu o seu percurso até que nos voltámos a
juntar na mesma escola, que curiosamente foi construída num terreno situado a
100 metros de distância da nossa rua e do Largo da Fonte Romana, palco central das
nossas brincadeiras.
Aí nas novas instalações da Escola Secundária de Vila Flor e como profissional, o Mário mostrou-me que é possível ter sempre em
vista objectivos bem precisos e como se deve lutar até se conseguirem concretizar.
Ele trabalhava acima da média de todos os outros e a sua ambição, o seu empenho,
o seu espírito empreendedor e a sua vontade de querer sempre um pouco mais
foram, sem qualquer dúvida, para mim, um exemplo e um modelo a seguir.
Em meados dos
anos 90, vim para a EB 2/3 de Valadares implementar o Projecto o “Direito à Diferença”. Não o teria conseguido da mesma maneira se não tivesse encontrado uma colega
excepcional, a Manuela Matos, que era a Directora de Turma onde os alunos
portadores de deficiência mental foram inseridos.
A sua entrega
e disponibilidade foram desde logo fundamentais para que se criassem na escola as
condições necessárias à implementação do Currículo Alternativo desses alunos. Por
sua vez a sua
enorme sensibilidade e dedicação foram determinantes para tornar possível a criação dos contextos fundamentais para uma melhor integração na escola e posteriormente na comunidade onde, felizmente, estão integrados e exercem actividades não segregadoras.
Para
o fim deixei a Amélia Lopes. Os últimos são os primeiros. Foi a minha primeira
Delegada de Grupo e aquela que viria, passados alguns anos, a tornar-se minha
mulher, companheira e amiga. A ela devo muito daquilo que sou, ou fui, em
termos profissionais. Com ela aprendi mais Biologia e Pedagogia do que em toda
a minha formação académica. Ahh! E Anatomia também... :-) Para além do amor, da
atenção, da compreensão e do incentivo manifestados ao longo de uma vida, em
todos os contextos profissionais e pessoais.
É com ela
que continuarei a viagem,
seja ela qual for.
Juntos
vamos desfrutar a vida de uma outra forma, porque depois de tantos anos de
trabalho, de tantas preocupações, dos falhanços e sucessos acumulados e,
sobretudo, dos filhos criados, sabe bem olhar para o oceano atlântico sem
pensar em mais nada, assistir ao pôr-do-sol, seguir o voo das gaivotas, ou ler
um livro confortavelmente instalado na esplanada de um bar de praia, enquanto
se saboreia uma cerveja fresquinha...
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