Hoje, dia 4 de Abril de 2014, choveu! De manhã, à tarde e à
noite!
Qual a novidade? Tem sido assim o Inverno todo! E este
início de Primavera também! Então, por que razão estou eu aqui a protestar,
outra vez, contra a chuva? É uma boa pergunta à qual, por agora, não sei
responder. Mas… que me apetece promover um movimento BASTA contra a chuva, tal
como o presidente do Sporting fez contra os árbitros de futebol, lá isso
apetece.
Enquanto assim penso, e me interrogo desta forma rabugenta, estou encostado à porta do escritório que dá acesso à varanda de onde vejo lá
baixo na rua e no Largo de Eiróz os carros a passar com os limpa para-brisas
a funcionar incessantemente a as pessoas a caminhar também elas apressadas
debaixo dos guarda-chuvas e, provavelmente, regressando a casa depois de mais
um dia de trabalho. Em certos locais da rua o asfalto torna-se mais irregular e
formam-se pequenas poças de água que brilham com a luz artificial dos
candeeiros.
Aqui permaneço, neste meu refúgio (ou porto de abrigo) que é o escritório cá de casa e que me
serve também de farol luminoso para o exterior. Gosto de ver o movimento dos
carros e das pessoas que se encaminham para os seus destinos certos. De ver
também os reclames luminosos e coloridos de algumas casas comerciais; as luzes
ainda acesas e a brilhar que anunciam a Cerâmica de Valadares, embora já falida
e extinta; as gaivotas que se refugiam do mar bravo esvoaçando e pousando nos candeeiros
mesmo em frente à varanda; a Lua em certas noites e as nuvens a fugir empurradas pelo vento.
Quando era rapaz e vivia lá longe em Vila Flor também
gostava de me refugiar na varanda da casa dos meus pais e, de forma similar,
apreciar o movimento das pessoas na Rua e no Largo da Fonte. Nesse tempo, as
pessoas que passavam, isoladas normalmente, pareciam-me indolentes, tristes e
mal sorriam. As que passavam acompanhadas normalmente faziam-no em silêncio ou
a discutir entre si. Eram pessoas que iam e vinham frequentemente dos campos
dos arredores da Vila. Agricultores que levavam os animais, cavalos ou burros,
carregados com cestos ou canastras devidamente
colocadas nas albardas.
Hoje, recordo-me dessas pessoas que se deslocavam na rua da casa
da minha juventude e que iam normalmente acabrunhados naquela rotina que me
parecia trágica. As imagens vão desfilando e há inúmeras delas que sempre me
acompanharam. As vozes e os rostos é que já se perderam, e tenho pena.
Por que “carga d´água”
me lembrei delas?
Regressando ao presente. A Amélia aproxima-se e, vendo-me
assim meditativo, encosta-se a mim e diz: - "Não
te atormentes tanto. As coisas mudam e nem sempre isto será assim. Para a
semana já vem o Sol."
Pois! A verdade é que me sinto realmente muito aborrecido. Com o tempo, com o São Pedro
e com a Primavera que nunca mais chega. Com os nossos governantes e, sobretudo,
com o seu discurso já gasto. De facto, as palavras destes políticos, agora, de
tão debochadas e gastas, já nem sequer agitam nem estimulam a minha indignação.
Porém, tenho de continuar a fazê-lo, quanto mais não seja através de palavras. Palavras que digo e que escrevo. Tenho de continuar a trabalhá-las, a proferi-las e a escrevê-las com firmeza e
ânimo. Por muito que me custe sinto que tenho de o fazer pois acho que essa é uma das
minhas obrigações cívicas.
Há muitos anos um dos meus filhos perguntou-me: "Ó pai, escrever custa muito?" E eu: -não dói nada, mas… custa, custa muito… mas, no fim, vale a pena quando
conseguimos exprimir o nosso pensamento com as palavras certas. Agora certamente acrescentaria:
não as palavras destes políticos “jotinhas” aldrabões, que as não respeitam e que as
despejam com futilidade, ignorância e menosprezo.
Mas... hoje já não me apetece (mais) escrever sobre estes políticos manguelas
que nunca fizeram nada de jeito na vida a não ser enganar, manipular e mentir. Eles
enojam-me. Por isso viro-me para dentro de mim e para o interior do escritório. Olho para as
estantes carregadas de livros, para uma ou outra fotografia e para as medalhas
e taças que fui conquistando nos diferentes torneios de Xadrez em que participei e que ajudaram a marcar a minha
vida e o meu destino. Reavivam-me também algumas memórias dos meus amigos mais antigos e
companheiros de brincadeiras, de jogos, de causas e de lutas. Tantos que já
foram. O que demonstra que estou a ficar velho. Sento-me na cadeira da
secretária e escrevo. Penso…
Mesmo que não houvesse mais nada (e há) no teu “desabafo” contra tudo que não corre à tua feição, só pela forma sentida e apaixonada como te referes ao também posicionamento na varanda( provavelmente de madeira com a grade do mesmo material) da periferia do Fonte Romana, vales quanto pesas.
ResponderEliminar1 abraço
MAFreire
Obrigado pelo reforço positivo transmitido pelas tuas palavras. Chegou cá e bateu. A grade da varanda da casa dos meus pais já era, nessa época, de ferro pintado de verde :-)
EliminarUm abraço