sábado, 22 de dezembro de 2012

Estrela da tarde...

Nesse fim de tarde, do início do mês de Março de 1979, vários sentimentos contraditórios corriam-lhe a alma e a ansiedade provocava-lhe suores frios ao entrar no Café Snack Bar-Mira Espanha, na lindíssima vila minhota de Monção. 
Sentou-se e, enquanto aguardava a chegada da sua apaixonada, leu as novidades do dia no Jornal da casa. Impaciente, levantou-se e saiu para o exterior como que a dar razão ao ditado popular: "quem espera desespera"! Do muro de granito virado a Norte de onde podia apreciar o rio Minho que aí nesse ponto nos separa de Espanha, olhou para poente e teve a oportunidade de assistir, desse local privilegiado, a um pôr-do-sol lindo e espectacular. 
No fim desse maravilhoso espectáculo proporcionado gratuitamente pela Natureza viu-a a aproximar-se enquanto atravessava a Praça Deu-la-Deu Martins... trazia no seu rosto (e no seu sorriso) um brilho encantador que substituiu, para melhor, a luz do sol que tinha acabado de ver partir. Ficou mais animado e trauteou baixinho um pequeno trecho do poema de José Carlos Ary dos Santos que deu origem a uma canção de Carlos do Carmo.  

A letra desse belíssimo poema reflectia muito do seu sentir naquele momento e dizia o seguinte:
"Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto".

 

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