Já no interior do autocarro que o levaria até próximo da casa de seu avô,
Zeferino retirou do bolso o papel com a mensagem que Emeralda lhe havia deixado na despedida e começou a ler, com avidez, o seu conteúdo.
Para além do seu nome completo ela tinha também escrito uma morada e um
número de telefone.
Depois vinha o resto do texto escrito num francês tecnicamente perfeito: “Zefe: enquanto tu dormias, eu não conseguia conciliar o sono devido a esta emoção nova, mas forte, com que tu me tocaste. Resolvi, por isso mesmo e para me tranquilizar, passar para o papel tudo aquilo que me ia na alma.
Este é um tempo não muito fácil para mim... quase tudo (de bom e de mau) me tem acontecido ao mesmo tempo e em catadupa. Como te disse estou no primeiro ano do Curso de Sociologia, em Madrid, e a adaptação não tem sido nada fácil sobretudo porque estou lá sozinha, numa cidade nova e num curso extremamente exigente. Estou (ou estava) portanto a fazer esta viagem em condições muito difíceis. Vou para
Paris passar a Páscoa com a minha mãe que acabou de se separar de meu pai, que foi transferido
em Janeiro último para a Embaixada de Espanha em Roma e onde se
apaixonou por
uma cantora de ópera italiana. Como não queria trair minha mãe, comunicou-lhe que se
queria
separar primeiro para depois poder seguir a sua nova paixão. Ao abandonar minha mãe, abandonou-me também a mim... pelo menos é o que eu sinto! Assim
compreenderás melhor a minha fragilidade emocional e a minha tristeza
que tu tão bem presentiste em
mim no início da nossa viagem.
No meio de tudo isto, conhecer-te
foi uma dádiva de Deus! Quando os teus lábios se prenderam nos meus, o meu
coração saiu, disparado, voando alto nas alturas, agarrado às asas brancas
cristalinas que rodeavam os nossos corpos. Não sei como aterrei. Recordo apenas
que abri os olhos e vi o teu rosto, doce e meigo, respirando calmamente deitado
a meu lado, dentro do teu confortável saco de dormir.
Antes de adormeceres beijaste-me de novo e olhaste-me intensamente. Aproveitando a luz ténue e residual do luar que entrava pela janela, vi o branco puro e limpo
dos teus olhos, que se confundia com a luz radiosa que brotava do teu sorriso.
Afaguei teu rosto e beijei os teus olhos verdes, murmurando baixinho palavras de
amor, que tu não ouvias pois eram ditas apenas para mim. Dizer que te amo, poderia
parecer extemporâneo devido ao pouco tempo que nos conhecemos. Mas... também seria
dizer pouco e não chegaria sequer para traduzir uma migalha do que me fazes
sentir. As palavras mais próximas do meu sentimento serão dizer-te que sem ti
nada faria sentido na minha vida actual e futura. É em ti que me quero apoiar, é em ti que quero
residir. É por ti que eu tenho esperança de colocar as minhas dores de lado e
voltar a sorrir com sinceridade.
Quero que saibas que
te recebi de coração bem aberto, enquanto meus braços se fechavam para te
abraçar e naquele instante te prenderem para a eternidade!
Um beijo,
Emeralda"
PS: Telefona-me o mais
depressa que puderes.
Zeferino, mal acabou de ler, respirou fundo e engoliu em seco. Sentia-se dividido. Por um lado sentia que tudo "aquilo" só podia (ou devia) ser valorizado pelos momentos bem passados é certo mas... fugazes e/ou efémeros e que não teriam impacto ou consequência na sua vida futura. Por outro, e tento em conta exclusivamente aqueles momentos únicos que tinha vivido naquele comboio, sentia uma alegria enorme que lhe aliviava a alma e parecia torná-lo mais leve fisicamente.
Quando deu conta de si já tinha passado, há muito tempo, pela paragem de autocarro onde deveria ter saído... olhou em volta sem ver nada, sem conseguir sequer lembrar-se do rosto de Emeralda, atento apenas aos acordes de uma música lenta e celestial que parecia envolver todo o espaço e saída unicamente do interior do seu coração...
Zeferino, mal acabou de ler, respirou fundo e engoliu em seco. Sentia-se dividido. Por um lado sentia que tudo "aquilo" só podia (ou devia) ser valorizado pelos momentos bem passados é certo mas... fugazes e/ou efémeros e que não teriam impacto ou consequência na sua vida futura. Por outro, e tento em conta exclusivamente aqueles momentos únicos que tinha vivido naquele comboio, sentia uma alegria enorme que lhe aliviava a alma e parecia torná-lo mais leve fisicamente.
Quando deu conta de si já tinha passado, há muito tempo, pela paragem de autocarro onde deveria ter saído... olhou em volta sem ver nada, sem conseguir sequer lembrar-se do rosto de Emeralda, atento apenas aos acordes de uma música lenta e celestial que parecia envolver todo o espaço e saída unicamente do interior do seu coração...
(continua...)
Este Zeferino foi muito lento...Jogar ao ataque não foi o seu forte...Esta tendência para a defesa tem a ver com as suas (más)inclinações clubísticas, e deixou a pobre da Esmeralda de rastos. Prometeu,prometeu, mas depois lá pôs o autocarro à frente da baliza!!!
ResponderEliminare agora cá ficamos à espera de saber se houve mail algum reencontro a sério ou se a paixão platónica prevaleceu.
Um abraço e as habituais saudações desportivas:POOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTO e LKEVERKUUUUUUUUUUSEN.
Não é preciso pedir os serviços da astróloga Maya para saber a proveniência deste comentário :-)
EliminarDe anónimo não tem nada pois o seu anti-benfiquismo primário denuncia o seu autor. Não é assim Jorge M.?
Um abraço,
E, saudações sim mas... BENFIQUISTAS!!!