A caminho do Escalhão
A
próxima paragem técnica (para desenferrujar as pernas, apreciar a
paisagem, tirar umas fotos e… verter águas) foi nas Caldas de Moledo.
O
Rogério cumpriu todos os objetivos a preceito, enquanto o Alexandre se
entretinha a apanhar figos, o Mota ficava refastelado e contemplativo
num banco de jardim e o Jorge e o Bernardino cumpriam a função de
repórteres fotográficos.
A Régua era local de paragem obrigatória, junto ao ancoradouro, onde estava atracado um enorme navio-hotel do Douro Azul do nosso conhecido Mário Ferreira.
Tomado
o café da praxe prosseguimos caminho até à barragem de Bagaúste. Como
estava um barco a passar na eclusa, eram muitos os mirones. O Jorge
vislumbrou uma nesga e pediu a uma simpática donzela para o deixar
espreitar pela frincha para tirar umas fotos. A gaja riu-se, não sabemos
de quê.
O DOC (do chefe Rui Paula), na foz do Távora, foi objeto de romaria e espiolhagem. Foi com simples curiosidade mas algum alheamento e desdém que observamos a ementa. Nada que nos seduzisse, pois o nosso destino era claro: o Lagar, em Escalhão.
Na subida do Pinhão para a Pesqueira paramos a admirar a paisagem. E com quem havemos de deparar a fazer o mesmo que nós? Isso mesmo, a donzela a quem o Jorge pedira para lhe deixar espreitar pela frincha na barragem. Trocamos fotografias e prosseguimos viagem, que já se fazia tarde.
Já passava da uma hora quando chegamos a Foz Coa. Até ao Escalhão ainda tínhamos uns bons 50 kms e confirmamos que tínhamos mesmo de ir a Figueira de Castelo Rodrigo. Não havia volta a dar, ou seja, tínhamos mesmo de dar a volta toda: ir para um lado e depois fazer uma volta de 180.º, seguindo um caminho quase paralelo ao primeiro, mas em sentido oposto.
Passava da hora e meia quando cortamos a meta e aterramos no Lagar.
Lagarada no Lagar (N 40.944886 W-6.92777)
O
Lagar não é propriamente um restaurante, mas muito mais um “lugar de
afetos” – dixit a proprietária, D. Cristina Gomes. E quem somos nós para
a contrariar!
Uma simbiose perfeita entre o rural e o urbano, a tradição e a modernidade. Um recuo ao século XVIII e a afirmação do século XXI: uma casa muito antiga, excelentemente recuperada; a arquitetura tradicional com o toque da decoração atual; alfaias e apetrechos talvez com dois séculos a coexistirem com uma carta de vinhos apresentada num ultramoderno IPAD.
Escolhemos o espaço exterior, por estar um tempo agradabilíssimo cá fora.
O
saber receber e a hospitalidade durienses emergeram com naturalidade.
Já não havia tiras de porco preto (prato da ementa do dia), mas
ofereceram-nos (gratuitamente) uma minidose para degustação, acompanhada
de melão e presunto.
Prato escolhido para o almoço: lagarada de bacalhau, com o dito passado pelas brasas e esfiapado, acompanhado de batata a murro e regado com azeite a preceito, empurrados por um agradável tinto da casa.
A
dose era tão generosa que mesmo o bacalhau nem de empurrão marchou
todo. O sobrante e as batatas davam para alimentar uma famélica família
cigana. Quem lhes dera!
As
sobremesas eram deliciosas misturas de doçaria tradicional com
requintes de apresentação de um Master Chefe com estrela Michelin: um
hino à sabedoria caseira no dizer de um repórter da Visão.
Quando chegou a dolorosa o preço afinal foi… uma agradável surpresa: 22 euros por cabeça, o que, não sendo barato nem acessível a um professor ou reformado, era uma quantia módica face à variedade, qualidade, quantidade e serviço que nos foram proporcionados.
Quem nos dera ter à mão muitos lugares de afetos como este (ou será lagares de afetos?)
(Cont...)
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