Na Sexta-feira da semana passada vinha da Caetano Drive, que fica ali na Rua das 12 casas, no Porto, onde fui fazer um Check-up ao carro oferecido pela Volkswagen. Ao contornar a Praça do Marquês tive que parar nos semáforos e, enquanto aguardava
pelo sinal verde, dei comigo a apreciar as pessoas que entretanto atravessavam
a passadeira dos peões.
Sim, de vez em quando dá-me para a cogitação. Cogito no meu passado, cogito nos factos do presente e só não cogito no meu futuro porque... não sou bruxo.
Desta vez, tudo começou quando reparei num jovem adolescente que, de espelho na mão, ia espremendo uma borbulha enorme e ensanguentada que irrompia mesmo no centro da sua alvíssima face. E foi nesse preciso instante que começou a a cogitação. O assunto era interessantíssimo e remeteu-me para a minha juventude.
Desta vez, tudo começou quando reparei num jovem adolescente que, de espelho na mão, ia espremendo uma borbulha enorme e ensanguentada que irrompia mesmo no centro da sua alvíssima face. E foi nesse preciso instante que começou a a cogitação. O assunto era interessantíssimo e remeteu-me para a minha juventude.
Sim, porque no meu tempo de adolescência e de jovem espigadote o
acne era uma maçada, mas um gajo escarafunchava as borbulhas, ou então
escanhoava-se deixando a cara num Cristo. Mas, pronto, resolvíamos o assunto sem grandes traumas até
porque as raparigas da nossa idade também tinham os seus próprios problemas e ficavam assim no mesmo barco. Elas normalmente preocupavam-se mais com as assimetrias e com as partes do corpo que lhes pareciam fora de um padrão tido socialmente como ideal.
Mas, nesse tempo, existia a palavra, a palavra que circulava,
a palavra que esclarecia e sossegava. Sim, porque raparigas com uma mama maior que outra,
sempre houve. Rapazes com um testículo maior que o outro, sempre houve.
Mas o facto é que todas essas diferenças nunca
impediram ninguém de ser quem é, de se realizar como pessoa e ser humano, de
ter uma vida amorosa de se formar academicamente ou profissionalmente, de
trabalhar, de formar um núcleo familiar, de dar e receber amor, de considerar e
ser considerado, de existir socialmente e desempenhar o seu papel.
Actualmente, as coisas parece que não são bem assim. Qualquer um dos exemplos citados, nos dias de hoje, torna-se num flagelo para os próprios adolescentes e para os seus pais. O culto da imagem supera todos os outros princípios e valores. Ora, isto só é bom para os profissionais de saúde que olham para isso como uma oportunidade de negócio e, por "dá cá aquela palha", vêem logo numa mama mais rechonchuda, a necessidade de um acto de cirurgia estética com o fim de rectificar um descuido
da natureza. Aqueles mais ligados à psicologia, evocam logo os distúrbios de personalidade, os
problemas de relacionamento e de auto-estima e mais uma catrefada de outras
cenas que não sei a partir de quando começaram a pesar na balança da perfeição.
As hormonas lixavam e lixam todos sem excepção, em qualquer época e em qualquer lugar. A diferença é que, no tempo da minha juventude, existia algo que se extinguiu e que ajudava a resolver as questões; existiam os tios, os amigos dos pais, os pais dos amigos e mais uma catrefada de gente que já tinha passado pelos mesmos imbróglios e que, com uma palavra, sossegava todos os nossos receios, dúvidas e temores. Hoje ninguém tem tempo para nada, muito menos para conversar. Hoje é cada um para si dentro do seu mundo...
Continuei a viagem e ao atravessar a Ponte da Arrábida ainda eu cogitava em como somos seres imperfeitos e incompletos a diferentes níveis, mas o conjunto dessas imperfeições torna-nos afinal mais completos e normais dentro de um contexto existencialista. Procuramos sempre mais
e melhor, procuramos. Mas... na realidade, não sabemos concretamente se procuramos algo que não tenhamos já.
E pronto! Cheguei ao Edifício Vyla Penedo. A casa... ao meu abrigo e ao sítio onde tenho muito daquilo que preciso...
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