Era
um sábado de fim de inverno/princípio de primavera límpido e com sol.
O
"Manel" e eu (após tomarmos um pequeno-almoço composto de requeijão e
doce de abóbora que barravam um enorme pedaço de pão que a minha avó Margarida
tinha torrado nas brasas da lareira da sua enorme cozinha) fomos à
"loja" dos animais que ficava na rua Larga.
O
“Manel” era mais velho do que eu aí uns quatro anos e frequentava a 4ª classe
da escola primária da minha aldeia - Pinhal do Douro. Para mim ele era um autêntico
sábio. Era um regalo ouvi-lo falar de tudo, do universo, do mundo, da sua terra, Vila Marim, da sua vida... que me parecia cheia de factos e acontecimentos grandiosos que
ficaram retidos para sempre nos arquivos da minha memória mais profunda. As viagens que ele
fazia e descrevia em pormenor... A passagem
de barco desde a margem direita do Rio Douro à sua margem esquerda era descrita como algo épico, um acontecimento de grande valentia, pela velocidade da corrente do rio e pelos perigos que tudo isso representava... O realce que ele dava à beleza da estação de caminho-de-ferro do Vesúvio, onde apanhava o comboio que o levava até à
Régua para prosseguir a viagem de camioneta até à terra onde nascera 10 anos
antes. Tudo isto era contado ao pormenor e com requintes de crueldade e malvadez. O "Manel" sabia que eu nunca tinha andado de barco, nem de camioneta e muito menos de comboio. Que inveja!
Normalmente ele vivia com os seus pais na Quinta do Lubazim, junto à margem direita do Rio Douro, onde o seu pai (o senhor Domingos) trabalhava como caseiro (feitor), e deslocava-se a pé para a escola fazendo diariamente cinco quilómetros extremamente duros por caminhos pedregosos, sinuosos e lamacentos no inverno. Até que os meus avós maternos disponibilizaram a sua casa para ele poder ficar e frequentar a escola com mais conforto e sucesso. Foi assim que tive a oportunidade de o conhecer e de com ele conviver diariamente durante quase todo um ano lectivo.
Normalmente ele vivia com os seus pais na Quinta do Lubazim, junto à margem direita do Rio Douro, onde o seu pai (o senhor Domingos) trabalhava como caseiro (feitor), e deslocava-se a pé para a escola fazendo diariamente cinco quilómetros extremamente duros por caminhos pedregosos, sinuosos e lamacentos no inverno. Até que os meus avós maternos disponibilizaram a sua casa para ele poder ficar e frequentar a escola com mais conforto e sucesso. Foi assim que tive a oportunidade de o conhecer e de com ele conviver diariamente durante quase todo um ano lectivo.
Nesse
dia, enquanto descíamos pela rua Larga, que ligava a Igreja à antiga escola primária, o
“Manel” ia-me fazendo algumas perguntas de português e de matemática para as quais eu ainda não tinha resposta, não sei bem se com o
intuito de me ensinar ou se... para ele próprio ir recordando e treinando a matéria que
teria de saber logo pela manhã da Segunda-feira seguinte. A sua professora encarregar-se-ia de o interrogar. Entretanto ele continuava de forma incisiva como se fosse ele o professor e eu o aluno:“Coloca
esta frase… no passado!"; “quantos são 8x4?", etc. etc.
Até que, sensivelmente a meio desse percurso, entrámos no quinteiro da casa dos meus avós paternos onde, na cave da mesma, se situava a dita "loja” dos animais. Aí chegados, e depois de colocarmos com alguma dificuldade a albarda no dorso do macho, rumámos até aos Cerejais onde fomos levar o almoço ao meu avô Alfredo que aí granjeava a terra, preparando-a para uma nova sementeira.
Até que, sensivelmente a meio desse percurso, entrámos no quinteiro da casa dos meus avós paternos onde, na cave da mesma, se situava a dita "loja” dos animais. Aí chegados, e depois de colocarmos com alguma dificuldade a albarda no dorso do macho, rumámos até aos Cerejais onde fomos levar o almoço ao meu avô Alfredo que aí granjeava a terra, preparando-a para uma nova sementeira.
Os Cerejais era um prédio rústico e típico daquela região transmontana, aos socalcos e situado
na encosta de um dos pequenos montes que existiam, a meia-distância, entre a aldeia onde nasci e a sua sede de Freguesia – Vilarinho da Castanheira. Num
desses socalcos existia um pequeno charco de onde o meu avô retirava a água para
regar as plantas da horta que aí tinha plantado.
(Continua)
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