Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.
Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
sábado, 20 de setembro de 2014
O "palito" dos Cerejais (III)
Este
episódio ocorreu quando eu tinha seis ou sete anos de vida e ficou para sempre
retido algures nos recônditos da minha memória. Veio ultimamente à superfície, com mais frequência e intensidade, devido às notícias propagadas em todos os
órgãos de comunicação social acerca dos acontecimentos relacionados
com um homem, também natural de Vilarinho da Castanheira, chamado Ismael
Vicente, que esfaqueou mortalmente uma mulher e feriu outra com gravidade. Ou, ainda,
do caso de Manuel Baltazar mais conhecido por Manuel “Palito” e que
matou a tiro a ex-sogra e feriu gravemente a ex-mulher e a própria filha.
Em
ambos os casos os homicidas andaram “a monte”
fugidos à justiça durante vários dias.
Não
pude, em consequência, deixar de os relacionar com aquela figura sinistra que
me assustou lá no "monte" dos Cerejais e a quem o meu avô deu (ou teve de dar?) de comer.
É
por tudo isto que, hoje em dia, sei dar valor ao sítio onde nasci, onde fui feliz
em criança e me deu a força e os conhecimentos necessários para me poder expandir
para o mundo.
Agradeço,
especialmente, ao meu avô Alfredo tudo aquilo que me deu e ensinou nos primeiros anos da
minha vida. Este acontecimento é apenas um exemplo mas a forma como ele sempre
me incentivou e motivou para o saber ser e para o saber fazer é aquilo que mais
me marcou.
Guardo
ainda a sua imagem dessa época que me parecia ser a de um homem velho, algo rezingão,
mas sempre atento e desperto para a vida e para o saber.
Parecia-me
velho, nos seus cinquenta oito ou cinquenta e nove anos, devido à sua imagem
austera, de rosto enrugado, sofrido e seco que guardei na minha memória com os
meus pequenos olhinhos e... assim permaneceu ao longo dos anos.
Algo
rezingão, porque me pareceu sempre truculento com a vida, com as pessoas e com
ele próprio talvez em consequência dos graves problemas que ainda o
atormentavam desde que teve de fugir de Paris, durante a II guerra Mundial,
completamente desprovido de qualquer bem material aí adquirido durante muitos anos
de trabalho.
Desperto
para a vida porque, apesar de só ter como habilitações académicas a 4ª classe
do ensino primário, era detentor de uma cultura vastíssima, adquirida através da
experiência de vida (sobretudo em Lille e em Paris) e da leitura de tudo que
lhe fosse parar à mão. Aliado a tudo isso tinha ainda uma personalidade forte e
uma fibra enorme.
As
memórias da minha infância estão povoadas de histórias, umas verdadeiras,
outras meras fantasias, fruto da imaginação e das mentalidades da época. No
entanto o meu avô está lá! Sempre presente. Quando teve de partir deixou-me uma
imensa tristeza, hoje uma terna e eterna saudade, porque ainda tinha muito para
me ensinar e muito para comigo conversar...
FIM
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
O "palito" dos Cerejais (II)
Aproveitando-se deste ambiente algo medonho para mim, o “Manel”, tratou logo de o por ainda mais
feio contando-me histórias protagonizadas por homens e feras, lobos e
lobisomens. Já assustado e na dúvida se tudo aquilo que ele contava eram apenas
meras fantasias ou histórias verdadeiras afastei-me um pouco, olhei para o
horizonte e… é quando vejo entre as árvores, numa das partes mais elevadas da encosta e recortado no céu azul impregnado de nuvens brancas, um homem muito
alto, de chapéu sujo e roto, vestido com roupa imunda de cor escura e com uma
arma enorme pendurada no seu ombro direito e... a dirigir-se na nossa direcção…
Um calafrio glacial percorreu todo o meu corpo e todos os
cabelos se retesaram como os picos de um ouriço-cacheiro. Ficámos os dois sem
palavras, olhámos um para o outro e, de repente, começámos a correr com todas
as nossas forças, fugindo daquela figura ameaçadora em direcção ao local onde
estava o meu avô, procurando a sua protecção.
Ainda me virei uma vez para trás e foi quando a luz solar,
de repente, pareceu começar a dar sinais de esbatimento, acentuando ainda mais
as sombras do arvoredo e aumentar a figura sinistra que de nós se
aproximava.
O meu avô depois de entender a razão da nossa preocupação reagiu
com toda a naturalidade demonstrando um sangue frio enorme e procurou acalmar-nos dizendo não haver motivo para inquietações. Mandou-nos, apesar disso, para junto da figueira que cobria o
charco de água e foi peremptório ao dizer-nos: "fiquem ai quietos e caladinhos".
Entretanto, o sinistro homem chegou, abordou o meu avô e falaram baixinho por
alguns minutos com toda a tranquilidade. Esses momentos foram terríveis para
mim. Parecia que algo pairava no ar que destoava do ambiente puro do local,
algo que, vindo de algum lugar indeterminado, penetrava nos meus sentidos e ali
permanecia dando por vezes a sensação de que provinha do interior do cérebro e
fazia com que ficasse cada vez mais atento ao que me rodeava.
De repente, o homem foi embora levando com ele o almoço e
uma garrafa de vinho tinto que estavam destinados ao meu avô e que fora o
motivo da nossa vinda aos “Cerejais”. Depois dele estar fora do nosso campo
visual, questionámos o avô que respondeu simplesmente: “o homem estava sem comer há três dias e eu não gosto de ver ninguém com
fome”!
(Continua)
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
O "palito" dos Cerejais (I)
Era
um sábado de fim de inverno/princípio de primavera límpido e com sol.
O
"Manel" e eu (após tomarmos um pequeno-almoço composto de requeijão e
doce de abóbora que barravam um enorme pedaço de pão que a minha avó Margarida
tinha torrado nas brasas da lareira da sua enorme cozinha) fomos à
"loja" dos animais que ficava na rua Larga.
O
“Manel” era mais velho do que eu aí uns quatro anos e frequentava a 4ª classe
da escola primária da minha aldeia - Pinhal do Douro. Para mim ele era um autêntico
sábio. Era um regalo ouvi-lo falar de tudo, do universo, do mundo, da sua terra, Vila Marim, da sua vida... que me parecia cheia de factos e acontecimentos grandiosos que
ficaram retidos para sempre nos arquivos da minha memória mais profunda. As viagens que ele
fazia e descrevia em pormenor... A passagem
de barco desde a margem direita do Rio Douro à sua margem esquerda era descrita como algo épico, um acontecimento de grande valentia, pela velocidade da corrente do rio e pelos perigos que tudo isso representava... O realce que ele dava à beleza da estação de caminho-de-ferro do Vesúvio, onde apanhava o comboio que o levava até à
Régua para prosseguir a viagem de camioneta até à terra onde nascera 10 anos
antes. Tudo isto era contado ao pormenor e com requintes de crueldade e malvadez. O "Manel" sabia que eu nunca tinha andado de barco, nem de camioneta e muito menos de comboio. Que inveja!
Normalmente ele vivia com os seus pais na Quinta do Lubazim, junto à margem direita do Rio Douro, onde o seu pai (o senhor Domingos) trabalhava como caseiro (feitor), e deslocava-se a pé para a escola fazendo diariamente cinco quilómetros extremamente duros por caminhos pedregosos, sinuosos e lamacentos no inverno. Até que os meus avós maternos disponibilizaram a sua casa para ele poder ficar e frequentar a escola com mais conforto e sucesso. Foi assim que tive a oportunidade de o conhecer e de com ele conviver diariamente durante quase todo um ano lectivo.
Normalmente ele vivia com os seus pais na Quinta do Lubazim, junto à margem direita do Rio Douro, onde o seu pai (o senhor Domingos) trabalhava como caseiro (feitor), e deslocava-se a pé para a escola fazendo diariamente cinco quilómetros extremamente duros por caminhos pedregosos, sinuosos e lamacentos no inverno. Até que os meus avós maternos disponibilizaram a sua casa para ele poder ficar e frequentar a escola com mais conforto e sucesso. Foi assim que tive a oportunidade de o conhecer e de com ele conviver diariamente durante quase todo um ano lectivo.
Nesse
dia, enquanto descíamos pela rua Larga, que ligava a Igreja à antiga escola primária, o
“Manel” ia-me fazendo algumas perguntas de português e de matemática para as quais eu ainda não tinha resposta, não sei bem se com o
intuito de me ensinar ou se... para ele próprio ir recordando e treinando a matéria que
teria de saber logo pela manhã da Segunda-feira seguinte. A sua professora encarregar-se-ia de o interrogar. Entretanto ele continuava de forma incisiva como se fosse ele o professor e eu o aluno:“Coloca
esta frase… no passado!"; “quantos são 8x4?", etc. etc.
Até que, sensivelmente a meio desse percurso, entrámos no quinteiro da casa dos meus avós paternos onde, na cave da mesma, se situava a dita "loja” dos animais. Aí chegados, e depois de colocarmos com alguma dificuldade a albarda no dorso do macho, rumámos até aos Cerejais onde fomos levar o almoço ao meu avô Alfredo que aí granjeava a terra, preparando-a para uma nova sementeira.
Até que, sensivelmente a meio desse percurso, entrámos no quinteiro da casa dos meus avós paternos onde, na cave da mesma, se situava a dita "loja” dos animais. Aí chegados, e depois de colocarmos com alguma dificuldade a albarda no dorso do macho, rumámos até aos Cerejais onde fomos levar o almoço ao meu avô Alfredo que aí granjeava a terra, preparando-a para uma nova sementeira.
Os Cerejais era um prédio rústico e típico daquela região transmontana, aos socalcos e situado
na encosta de um dos pequenos montes que existiam, a meia-distância, entre a aldeia onde nasci e a sua sede de Freguesia – Vilarinho da Castanheira. Num
desses socalcos existia um pequeno charco de onde o meu avô retirava a água para
regar as plantas da horta que aí tinha plantado.
(Continua)
sábado, 13 de setembro de 2014
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
domingo, 7 de setembro de 2014
Impulso de fim de tarde...
A ansiedade de saber que está na
hora de ir para casa quando ainda se vislumbra a luz dourada do
pôr-do-sol a reflectir-se sobre o azul do mar.
É, no entanto, um pouco mais à frente (ainda entre as cordas e sobre as tábuas) enquanto a luz dos candeeiros laterais já mal dá para vislumbrar onde coloca os pés que ele diz, de si para si: “Já são horas, Bernardino.
Olha que a Amélia já deve ter o jantar pronto”!
Mas o Bernardino não
ouve. Continua… já não há mais ninguém… só ele e o passadiço, cúmplices… a brisa leve que vem do mar... a luz
débil dos candeeiros… o suor frio...
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