Parece-me
que ainda o outro dia olhava para os meus pais sem me preocupar
minimamente com a idade deles. Pareciam-me eternos. Vivia a fase em que, quando
me perguntavam quantos anos tinha me apetecia sempre acrescentar um ou dois
anos à idade real. Ou então, sem mentir, dizia: tenho quase 12, ou tenho quase 14 anos. E fazia-o com a facilidade
de quem tinha pressa de ser adulto, convencido de que, com uma simples
data, adquiria (por decreto) um estatuto superior… ou um nível acima. Que
afinal me ocuparia tantos anos a subir, pensava eu.
De
repente, tirei a carta de condução, tirei o meu curso, cumpri o serviço militar obrigatório, comecei a trabalhar, casei e fui pai de dois maravilhosos filhos.
Simultaneamente,
passei a assumir com naturalidade, mas com mais cautela, a minha idade real… mas
agora querendo fazê-la durar todo o tempo a que sentia ter direito e sem
pressas.
Depois
passei rapidamente por aquela idade em que ainda tinha o privilégio de olhar
para cima e ver o meu pai vivo mas a necessitar de uma
atenção especial devido à sua doença e à sua idade… e para baixo, para os meus filhos que tendo já entrado
na sua idade adulta não deixaram de me trazer as naturais preocupações de um
pai sempre presente. Foi aquela idade em que me senti entalado e a correr entre os filhos e os
pais, na ânsia de chegar e de estar para todos com a mesma intensidade.
Foi talvez
a idade mais difícil para mim, aquela em que ajudamos uns a crescer e outros a
morrer...
Este
balanço entre duas realidades tão opostas deveria remeter-nos para a brevidade
da nossa existência e relativizar as nossas prioridades.
Sempre
ouvi dizer que: “quem de novo não morre
de velho não escapa”! Mas… caramba, não gosto mesmo nada de me ver a envelhecer e não aprovo nada a ideia
de morrer já. Que dilema!
Depois
vem este chato do José Saramago no seu livro "As Intermitências da
Morte", que tentei ler até ao fim mas, mais uma vez, não consegui. Mesmo
assim ainda deu para me aperceber que ele vai divagando sobre a morte, a vida,
o amor e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência. Para ele (e neste
aspecto concordo) a morte é não só uma inevitabilidade da vida como irrevogável,
a bem do equilíbrio. Aqui o termo irrevogável não tem nada a ver com o conceito
trazido por Paulo Portas :-).
Cheguei
assim a este ponto da minha idade em que passei a considerar que o ideal seria
viver cada dia como se fosse o último e com a convicção de que não
teremos o dia seguinte para corrigirmos o que hoje fizermos de errado. Até por que a
idade (como alguém disse) é: “algo tão fugaz
na vida de cada um de nós que o melhor é chamar-lhe presente e acreditar que tem
a duração do instante que passa…”
Muito, muito.... BONITO
ResponderEliminar1 abraço
MAFreire
Obrigado MA Fre(i)re). Gosto de te sentir por aqui, sempre atento aos meus "delírios". Um abraço
ResponderEliminarÉ a geração sandwich.
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