Hoje de manhã (mas não muito cedo) estava a fazer a barba e enquanto
me olhava ao espelho - com todo o cuidado para não me cortar - dei comigo a pensar
na “porca” da vida.
E pensava: desde há uns meses que acordo dorido dos diferentes músculos do corpo (diz a Amélia que essas dores
são provocadas pela Sinvastatina que ando a tomar para baixar os valores do
colesterol) e angustiado com este mal-estar causado por otites permanentes aqui
neste ouvido esquerdo que também tem a membrana do tímpano perfurada. Enfim… chateado
com a vida e ainda por cima agastado com este meu mau feitio que frequentemente
me provoca insónias.
E continuei a pensar: como se muda tanto com o tempo! Hoje pensa-se duma forma e amanhã de outra. Mas, caramba, não temos que ser amorfos e neutros. Não temos que ser (ou parecer) velhos e ainda
por cima parvos. Ou que, pelo menos, não o sejamos enquanto ainda conscientes.
Tudo “isto” a propósito das eleições que decorreram no
último Domingo e da minha posição inicial que era a de votar em X, anulando o meu voto. Não resisti, mudei de opinião e
tive de votar em consciência com os meus princípios.
Mas aquilo que mais me incomodava, hoje de manhã, ao fazer a
barba, não era só isso. Era sobretudo ao pensar na opinião hipócrita e
contraditória da maioria dos “nossos” políticos ao analisarem os resultados.
Os políticos dos partidos da coligação do nosso
descontentamento lá vão singrando e sangrando desta derrota que interpretam
quase como uma das suas conquistas.
Oh valha-me Deus! Então não perderam as eleições!?
Os políticos do Partido Socialista nomeadamente o seu Secretário-geral,
António José Seguro, vêm afirmar - com toda a convicção - que os 31% de votos que
o PS obteve lhes confere uma retumbante vitória.
Ao ouvir isto chego à conclusão que vou ter de reaprender
Português pois pelos vistos não sei o significado de algumas palavras.
Então não foram apenas quatro pontos percentuais de
diferença para esta coligação que nos tem (des)governado?
E depois temos a esquerda que está estilhaçada. Constata-se mais uma vez a sua fragmentação e, sobretudo, a queda do Bloco de Esquerda. Que
me entristece. Felizmente conseguiram manter Marisa Matias, uma excelente deputada, presumo.
Gostei no entanto do resultado do PCP. Merecido, pela combatividade, pela genuinidade,
pela coerência.Quem ganhou foi a abstenção.
Isso revolta-me porque Passos e Portas conseguem (mesmo perdendo) levar a água ao seu moinho porque há muita gente que vai (ou foi) na cantiga. Isto pode ser uma visão simplista porque é um facto que o Partido Socialista não é alternativa nenhuma. Ficou demonstrado.
Olha-se para aquele António José Seguro e percebe-se porque ficamos inSeguros.
E pronto. Acabo de me barbear e de pensar furiosamente. Mas que fico a sofrer e a remoer com o rescaldo destas tristes eleições, lá isso fico...