Imaginem
uma viagem feita através do tempo e do espaço, em linha recta e a grande
velocidade, desde o dia 22 de Novembro de 1978 até 12 de Julho de
2013!
Se
tal fosse possível sentiriam, com certeza, a sensação que estou a sentir neste
momento. Um grande alívio!
O
primeiro desses dias corresponde ao meu primeiro dia de trabalho na Escola
Secundária de Monção. O segundo corresponde ao último, o dia em que o despacho
de aposentação chegou à minha escola actual, EB 2/3 de Valadares.
Naquele
longínquo dia (mas aqui tão próximo) comecei com muita garra e predisposição
para o trabalho, mesmo tendo plena consciência de que a integração num novo emprego nem sempre é fácil e poderia demorar o seu tempo. No entanto, a
ideia de aprender coisas novas e conhecer pessoas e ambientes diferentes era
excitante e agradável. Por tudo isso, tentei começar com o pé direito e causar
uma boa impressão até porque a motivação estava a altas rotações.
Nesse
primeiro dia conheci a escola, o Presidente do Conselho Directivo e as colegas
do meu grupo disciplinar procurando familiarizar-me com tudo e com todos. Foi
fácil encontrar pessoas dispostas a ajudarem-me e a quem me mostrei totalmente disponível
para ouvir com atenção tudo o que me disseram, principalmente sobre horários,
regras da escola e do meu grupo disciplinar, hábitos de trabalho e de convívio
e tudo o que estava relacionado com as tarefas que iria desempenhar. Foi, sem
dúvida, um belo arranque!
Agora
estou de saída! Saio de mansinho e imbuído do tal espírito ambíguo de contentamento descontente.
Provavelmente
não saio da forma com que sonhei sair mas… saio pelo meu pé, quando e como
quis, e com a consciência plena do dever cumprido e de ter feito sempre o melhor que
pude.
Saio
já! Por vontade própria (apenas e só) por entender que já não tenho condições
anímicas para continuar a aturar este sistema educativo e esta escola em que já
não me revejo nem acredito.
A
minha passagem por esta profissão foi uma longa aprendizagem e uma lição
de vida permanente e diária.
Sei
que, muitas vezes, só o tempo julgará com objectividade e distância a
acção de cada um de nós. Não pretendo, aqui e agora, proceder a uma
avaliação exaustiva do meu trabalho ao longo da minha carreira até porque tenho
a oportunidade de o vir fazendo no meu outro espaço de dissertação - o
RAXALEBRE-, o Blogue em que eu procuro mostrar o professor que fui por
acaso e já no ocaso de o ser.
Creio,
contudo, que essa postura não colide em nada com o balanço globalmente positivo
que faço de mais de trinta e cinco anos de trabalho em algumas das áreas mais
específicas e relevantes que fui assumindo e desenvolvendo. Procurei estar
permanentemente actualizado com os novos métodos e formatos de ensino e com as novas
disciplinas e áreas disciplinares (Biologia/Ciências da Natureza,
Hortofloricultura e Criação de Animais, Educação Tecnológica e Educação
Especial) que fui assumindo sucessivamente.
Para
me sentir seguro fui frequentando e concluindo novos cursos e novas
qualificações profissionais. Fui actualizando os meus conhecimentos procurando,
em simultâneo, adaptar-me a novos conteúdos disciplinares, a nova
legislação e a novos equipamentos e softwares. Para isso estive sempre
disponível e sempre "ligado".
Tenho
consciência de ter contribuído, algumas vezes, nestas últimas duas
décadas e num caminho quase solitário para a defesa da Educação Especial e,
sobretudo, para a integração plena dos meus alunos portadores de deficiência mental
no sistema regular de ensino.
Na
defesa dos meus alunos NEE(s) fui intransigente. Arranjei por isso alguns
atritos, desinteligências e aborrecimentos pelo caminho mas, enquanto acreditei
que esse era o melhor caminho, lutei - com convicção - até ao fim. Procurei
fazê-lo com toda a honestidade e empenho. Não estive aqui para fingir e nunca
gostei do “nim”. Podia ter aprendido
mais cedo a ser mais moderado? Podia, aceito que sim… mas sempre fervi por
dentro com a mentira, a hipocrisia e a desonestidade intelectual.
Neste
contexto, e ao fim destas três décadas e meia, é perfeitamente natural achar que
esta desmotivação seja... natural. Até porque me sinto verdadeiramente
injustiçado. Durante décadas tive, agora vou repetir-me... é outro dos meus defeitos :-(, um acordo com o Estado, representado pelo
Ministério da Educação, assinado de boa-fé por ambas as partes, que garantia a
minha aposentação ao fim de trinta e seis anos de serviço, independente da
idade. Posteriormente e de forma unilateral esse mesmo Estado alterou esse
contrato permitindo a minha aposentação apenas aos sessenta anos de idade,
desde que tivesse os tais 36 anos de serviço. Mais recentemente, ainda no
Governo de Sócrates e dentro da febre legislativa que o assolou, alterou-o de
novo e mais uma vez, sem a minha assinatura e muito menos o meu consentimento,
para os 65 anos de idade. Mais recentemente, e já nesta legislatura, a idade de aposentação passou para os 66 anos!!!
Senti-me
enganado pelo próprio Estado, aquele em quem eu sempre confiei e defendi.
Perante alguém que é batoteiro, porque não cumpre os contratos que assina e,
pelo contrário, impõe novas regras a quem está, como eu, no final de carreira,
sem qualquer respeito pelos direitos e compromissos assumidos só me restava
tomar a atitude que tomei: pedir a aposentação antecipada com o consequente
corte na retribuição mensal.
É
o preço que terei de pagar pela minha liberdade e para poder dizer sempre o que
sinto e penso…
(continua...)
Simplesmente.......
ResponderEliminarParabéns meu amigo.
Benvindo ao "clube"
Como diz o poeta….” Só prolonga a vida aquele que consegue envelhecer”.
1 grande abraço
MFV
Este bem-vindo ao clube provocou-me cá uns fornicoques que nem imaginas! Primeiro interroguei-me se o clube seria o FCP! Mas ele não me ia fazer isso… pensei de mim para mim. O Vilares sabe que estou um bocadito “passado” mas, caramba, não tanto!
ResponderEliminarDepois, mas… muito depois, porque isto de ser aposentado dá cá uma lentidão… cheguei lá. Finalmente, percebi que te querias referir ao “Clube dos reformados” :-)
É verdade amigo já estou aposentado (apesar de ter que trabalhar até ao fim deste mês). Estou feliz no meio desta tristeza.
Como diz o outro (mas não sei quem): “o que temos se vai… o que somos fica!”.
E eu direi:
Não desprezarei o que na profissão vivi
E as grandes amizades que constituí!
Tu és uma dessas amizades que criei ao exercer a minha actividade profissional e que perdura apesar da distância e dos poucos contactos.
Um abraço e obrigado por me ires acompanhando por aqui
" Ómessa!" achas que o FCP aceitava adeptos de vermelho vestidos e de lampiões sem LUZ? Sabes bem que não. Prefiro-te adversário “clubístico” mas respeitador, sobretudo quando, e assim espero por muito tempo, nunca ganha nada ahaahhahah.
ResponderEliminarAs amizades, como afirmas e bem, foram o melhor de muitas coisa boas, que a profissão nos facultou.
Obrigado por me considerares nesse patamar. Sabes bem que é recíproco.
1 Grande abraço
MFV
E tu a dar-lhe com essa do “Ómessa”
ResponderEliminarComo benfiquista trocar o SLB pelo FCP seria, para mim, passar de cavalo para burro. E sabes bem que em tudo na vida, mesmo no futebol, há o tempo das vacas magras e o tempo das vacas gordas. Vocês – os andrades – estão no tempo das vacas gordas diria mesmo que estão com a “vaca” toda. E, enquanto o PAPA controlar o sistema com “fruta de dormir” então estais mesmo no tempo das "VACAS SAGRADAS". Mas virá aí o tempo em que se vai acabar com a vossa MAMA, que isto de subvenções vitalícias é só para os nossos “queridos” de-puta-dos.
Um abraço aí para Santa Comba da Vilariça, onde eu sei que há muitos benfiquistas… eheheh