Nessa manhã cinzenta do dia 13 de Abril de 1971 (terça-feira 13 - dia das bruxas?), Zeferino
foi confrontado com o destino. Um pé mal colocado na borda do passeio fê-lo desequilibrar
e estatelar-se desamparado na calçada. Enquanto praguejava, e amaldiçoava os sapatos novos que trazia calçados e se usavam assim altos nessa época, os seus familiares correram aflitos em sua
ajuda. De facto, já não conseguiu levantar-se sozinho e rapidamente foi
levado para o hospital mais próximo. Depois da respectiva radiografia ao
pé direito veio o diagnóstico: entorse grave do tornozelo com rutura dos ligamentos e
derrame sanguíneo.
Depois de lhe fazerem um tratamento à base de gelo, foi medicado com um anti-inflamatório e um analgésico, deram-lhe alta com a "promessa"
de que a recuperação seria lenta.
Ao fim de três longos dias parado em casa, mais precisamente no dia 17 de Abril, já muito impaciente e preocupado por não ter tido a oportunidade de telefonar a Emeralda (não havia telefone em casa de seu avô), mesmo ainda não totalmente recomposto e com o pé ainda débil e a doer, Zeferino fez uma incursão sozinho pela cidade de Paris, em busca do tempo perdido e da felicidade. Já não podendo esperar mais, lá foi caminhando devagar com o pé bem aconchegado a uma forte meia elástica e com a ajuda de uma canadiana até à cabine de telefone pública mais próxima. Mas... ninguém atendeu na casa de Emeralda e… achou estranho.
Não teve outro remédio senão deslocar-se a casa dela mas aí também ninguém respondeu pelo intercomunicador. Mais estranho achou... Ficou ali, parado sem saber o que fazer. Aguardou duas horas no passeio em frente até que se lembrou de um destino: o café onde Emeralda tinha tomado o pequeno almoço - o Le Pré aux Clercs. Na altura pareceu-lhe que havia uma certa familiaridade dela com os empregados. Completamente desanimado, Zeferino partiu à procura da sua amada. Ao longe a esplanada estava vazia e logo que entrou no estabelecimento, varrendo-o ansiosamente com o olhar, também verificou que nele não se encontrava ninguém conhecido a não ser o empregado que os tinha atendido na única vez que aí tinha estado. Do lado de lá do balcão, em silêncio, o outro empregado olhava-o num misto de surpresa e de compaixão - pareceu-lhe. Então, Zeferino sentou-se num dos bancos altos do balcão e perguntou por ela. O empregado olhou-o, taciturno, e de seguida retirou de uma gaveta um pequeno envelope fechado que, sem explicações, lhe entregou ao mesmo tempo que encolhia os ombros.
Com um ar grave e as mãos trémulas, Zeferino abriu o envelope que continha um pequeno bilhete e leu:
Zeferino
Não estou certa que leias estas linhas. Nunca mais voltaste e desesperei de esperar por ti... É estranho que, neste tempo que passámos juntos, nunca me tenha preocupado em saber onde moravas ou se tinhas telefone em casa de teu avô. Que pena saber tão pouco de ti! Foi um erro meu. Restou-me esperar... Penso, agora, que tudo não passou de uma fugaz ilusão e que tu rumaste a outras paragens ou, talvez, a Portugal. Entretanto tive também de partir repentinamente e sem contar... sim, já não estou em Paris. Parti para Itália com a minha mãe que procura uma reconciliação com meu pai, portanto... só me resta despedir-me desde modo na esperança que tu um dia por aqui passes e perguntes por mim. Quero dizer-te que foi por ti que um dia me apaixonei e guardarei para sempre a recordação dos momentos felizes que contigo vivi. Para terminar cito Pablo Neruda e perceberás porquê:
"E desde então, sou porque tu és
e desde então és
sou e somos...
e por amor
serei... serás... seremos..." ♥
Emeralda
Por minutos, Zeferino ficou de olhos fixos no chão, meditabundo. O garçon, varria o chão do bar, num mutismo comprometido. Então, levantou-se com dificuldade, apertou a mão ao empregado do balcão e saiu.
Por minutos, Zeferino ficou de olhos fixos no chão, meditabundo. O garçon, varria o chão do bar, num mutismo comprometido. Então, levantou-se com dificuldade, apertou a mão ao empregado do balcão e saiu.
Por Paris deambulou, até que a noite o cobriu com a sua capa
de escuridão. Sentado num lugar isolado, nas margens do Sena, a carta
amarfanhada entre os dedos, Zeferino escutava o rio, com um olhar ausente.
No seu cérebro, em turbilhão, lembrava o rosto da bela Emeralda...
(continua...)
Olá Malta:
ResponderEliminarJá nem sei o qoe dizer deste Zefinho.Então agora que o moço estava a começar a sair da casca,não é que tudo lhe acontece...
deixa lá rapaz. O que mais há por aì são Meraldas...
Um abraço.
POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTO
JM
:-)
EliminarUm abraço