O Toni de Pontevedra
Iniciamos o
percurso inverso, até Pontevedra, que se viria a revelar um dos pontos altos da
jornada.
Pontevedra é
uma cidade lindíssima, com moldura humana e movimento quanto baste. Logo à
entrada deparamos com a imponente Deputation Municipal e com as ruinas do que
terá sido um belo templo da alta idade média: a capela de S. Domingos. Toda a
cidade é um conjunto arquitetónico equilibradíssimo, com monumentos seculares rodeados
por edifícios do século XX, que não só não destoam como fazem um perfeito enquadramento
e permitem à cidade ter uma vida própria, inserida no mundo atual. O equilíbrio
é, assim, a nota dominante: equilíbrio entre o antigo e o moderno, entre a
tradição e a modernidade. Nada de caos urbanístico, nada de pessoas a
acotovelarem-se, mas também nada de ruas desertas, pelo contrário. Deve ser uma
cidade muito agradável para viver, ainda por cima podendo contar com
estabelecimentos de restauração de muito bom nível.
É bem verdade
que onde quer que vamos “há sempre um
Toni que espera por si” e que o ajuda nas suas necessidades (literalmente).
Façamos um
preâmbulo: lembro-me que quando era jovem ouvia os “oficiais” trolhas dizerem para os moços:
- Que dia é hoje, rapaz?
- São tantos de tal.
- Então aponta aí que eu vou c . .
ar.
Desta vez foi
o Bernardino. Colhendo a lição do Alexandre (na altura da viagem ao Nordeste –
a quem não leu, recomenda-se a leitura dessa memorável crónica), manteve-se
caladinho e contido, sem qualquer sinal ou alarme. Mas ao passar no Club del Café, discretamente entrou,
para regressar minutos depois, todo sorridente e aliviado. Seriam cerca das 16
horas. Para a posteridade fica o registo do dia, hora e local. Para o registo
ficar completo só faltou mesmo ter-se pesado antes e depois.
Na visita
pelas ruas mais centrais e convidativas da cidade acabamos por desembocar numa
ampla e movimentada praça, pejada de pombos, inquestionáveis reis do local
(estão-se literalmente cagando para tudo) e uma incontornável atração
turística.
Logo no
primeiro banquinho, dos vários que havia no local, um elemento do grupo
refastelou-se, meio sonolento, a apreciar os pombos e a mirar os transeuntes
pelo canto dos olhos semicerrados. Quem seria? Leia-se a crónica anterior e a
partir daí será fácil adivinhar. O que ninguém esperava é que uma espanhola entradota
(uma rapariga mais ou menos da nossa idade) se fosse sentar no mesmo banco, a
uma prudente mas convidativa distância, pouco superior a 20 cms. Sorria, mas
permanecia calada, em total sintonia com o nosso colega. Foi então que outro
elemento do grupo (quem quiser que se ponha a adivinhar, que eu não sou de
intrigas nem revelo este tipo de segredos), mais expedito, resolveu saudá-la e
iniciar a chamada conversa de chacha. Só que a espanhola deu trela, tendo por
isso direito a cerimonioso cumprimento, à despedida. Ainda pensei que ia haver
beija-mão, mas não se chegou a tanto. Não vale a pena fazer conjeturas, pois o
caso morreu por ali e, honestamente, não era merecedor de mais. Puro e simples
cavalheirismo e curiosidade natural de um turista que, amavelmente, gosta de
interagir com os autóctones. Mas ao cronista cumpre-lhe registar tudo com rigor
e isenção.
(continua...)
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