Uma
considerável percentagem de portugueses tem a sua costela de mirone. Ou
"espreita", se preferirem.
Observar
o casalinho a namorar, a vizinha do prédio em frente (que não fecha as
cortinas), o corpo ensanguentado na berma da estrada (aguardando o INEM) ou
simplesmente esse enorme buraco de fechadura em formato de ecrã de televisão,
com o respectivo e inesgotável menu de temas deprimentes:
Vítimas
de acidentes ou atentados (na falta do corpo, uma grande mancha de sangue já
satisfaz), quedas de aviões, mulheres espancadas, velhinhos
abandonados, crianças abusadas, bebés abocanhados por cães, doentes terminais,
aleijões, deficientes mentais, Fátimas, Júlias e Gouchas, tudo isto é um regalo
para a vista.
Ultimamente,
uma pessoa vê-se e deseja-se para assistir a um bloco noticioso, reportagem ou
talk-show onde não surja uma imagem sinistra ou alguém a descrever o seu drama,
pessoal ou próximo.
Ele
é a deformidade, a doença rara, a
obesidade mórbida, o cancro, o erro médico, a psoríase, a tragédia, o drama, o horror...
E
o público a babar-se com o espectáculo.
Tremendo
gozo este, de ver a desgraça alheia, sentadinho no sofá e a mastigar
guloseimas.
Aonde
é que isto nos leva?
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