Já
tive a oportunidade de falar aqui da forma como determinados factos e
acontecimentos ocorridos na juventude de quem (como eu) viveu numa vila do
interior de Portugal podem marcar e condicionar a maneira como passamos a olhar
o mundo. Ou como ficamos com mais sensibilidade para pormenores da vida que
provavelmente não teríamos se não tivéssemos passado por esse isolamento
próprio dessas localidades que ficam longe dos grandes centro urbanos onde,
normalmente, tudo acontece.
Um dos
meus primeiros contactos com a arte e com o teatro foi através do espectáculo
circense.
Em
Vila Flor, no início da década de 60 e da primavera de cada ano, era habitual
surgir por lá o circo itinerante que, para nós crianças da época, era um
acontecimento espectacular e maravilhoso. Não é por acaso que o circo é
considerado desde sempre como sendo a primeira arte no mundo e são, sem dúvida,
as crianças o seu principal objecto.
A
presença do circo na Vila era assim motivo para reunir a família e os amigos,
fazia a alegria das crianças e agitava a vida social dos mais crescidos. O primeiro
circo que tive a oportunidade de ver foi mesmo um circo de rua e, curiosamente,
no mesmo local onde também vi, mais ou menos na mesma altura, o cinema
itinerante de que vos falei numa das últimas mensagens.
Recordo-me que nessa primeira vez, enquanto montavam um pequeno palco de tábuas, um dos elementos da pequena comitiva de artistas ía fazendo a apresentação e convidando as pessoas a assistirem ao grandioso espectáculo. Depois de terem o público com um número de pessoas considerado suficiente e formando um semicírculo à volta do palco, os artistas deram início ao espectáculo com pequenas demonstrações de habilidades físicas, de acrobacias e de equilibrismo. O espectáculo continuou com a grande a exibição dos palhaços que deixou toda a gente bem-disposta e com um sorriso nos lábios. Tudo isto ao mesmo tempo que duas raparigas simpáticas contactavam directamente os espectadores convidando-os a adquirir diversos objectos, desde tapetes, a bugigangas, a pomadas e mesmo a medicamentos.
Recordo-me que nessa primeira vez, enquanto montavam um pequeno palco de tábuas, um dos elementos da pequena comitiva de artistas ía fazendo a apresentação e convidando as pessoas a assistirem ao grandioso espectáculo. Depois de terem o público com um número de pessoas considerado suficiente e formando um semicírculo à volta do palco, os artistas deram início ao espectáculo com pequenas demonstrações de habilidades físicas, de acrobacias e de equilibrismo. O espectáculo continuou com a grande a exibição dos palhaços que deixou toda a gente bem-disposta e com um sorriso nos lábios. Tudo isto ao mesmo tempo que duas raparigas simpáticas contactavam directamente os espectadores convidando-os a adquirir diversos objectos, desde tapetes, a bugigangas, a pomadas e mesmo a medicamentos.
Nos
anos seguintes tive a oportunidade de assistir a outros circos de
características algo diferentes. Desde logo porque ficavam instalados na Vila por
vários meses e se acomodavam em casas alugadas. Depois porque faziam
espectáculos diários, percorrendo as 19 freguesias do concelho de Vila Flor. E,
porque, ficando por lá muito tempo, acabavam por estabelecer uma interacção positiva com
a comunidade local. Foi nessa altura que vi (com espanto e admiração!) algumas mulheres (quase sempre louras e vistosas) a fumar enquanto conversavam com os homens no Café Liz, ou "Café de baixo", porque nessa altura só havia dois :-))), o outro - naturalmente - era o "Café de cima" ou Café Avenida!
Uns anos mais tarde apareceram companhias de circo mais ricas e estruturadas. Montavam o seu anfiteatro circular de lona
normalmente na periferia da Vila e num
espaço de terreno livre e amplo (muito próximo do Hospital). No seu interior, para
além do palco, montavam as bancadas para o público e um corredor que circundava o palco e que dava acesso à porta de entrada onde também se adquiriam os bilhetes de ingresso. No exterior, e em torno do
espaço ocupado pela lona, dispunham os camiões de transporte do material; os
camiões com os animais amestrados (cavalos, leões, cobras, etc); os veículos
ligeiros e as autocaravanas que serviam de residência a todos os intervenientes no
espectáculo, de forma a impedir a aproximação de estranhos.
Foi assim que conheci por exemplo o Circo Mariani e o
Circo Cardinali e assisti a espectáculos de ginástica, equitação, acrobacia, equilibrismo,
malabarismo, ilusionismo, animais amestrados entre outras habilidades. Foi aí, enquanto decorria o espectáculo, que comi (pela primeira vez) pipocas e algodão doce!
Estas companhias tinham também a preocupação de
interagir com a comunidade local oferecendo espectáculos especiais para os
alunos de todas as escolas e níveis de ensino.
Para além das suas actividades de
divertimento e de domínio artístico do próprio corpo, demonstravam ainda uma enorme capacidade de
improvisação e da piada do espontâneo. Com tudo isso tiveram, a meu ver, um papel pedagógico importantíssimo de
promoção e divulgação da cultura para os jovens da minha geração.
A
forma competente e
inteligente com que adaptavam os seus espectáculos ao gosto da população
local e procuravam inclusivamente conhecer figuras locais típicas e
populares que depois
recriavam e imitavam, motivaram a minha admiração e meu profundo
reconhecimento. Fazem parte de mim e das minhas memórias e, como disse no início, marcaram a minha forma de olhar para o mundo passando a dar o devido valor a este tipo de arte.
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