Sonhei com Vila Flor. Um sonho cheio de caras, corpos, imagens
e cheiros intensos. Apesar de me lembrar de todos os pormenores e detalhes não
sou capaz de o contar. Estou chateado. Triste, também. E não sei porquê. Por
vezes fico assim e interrogo-me: porquê? Porque sou assim? Que animal
é este que hiberna dentro de mim para, de tempos a tempos, acordar assim deste
modo furioso? É um animal muito mau. Não um animal feroz senão... estaria, com certeza, preso
ali para os lados de Évora. Mas é um bicho que abre feridas e rugas e espalha bocados
de desespero por todo o lado. Sou palerma. Sei que o sou. Mas, enfim, hoje
guardo Vila Flor só para mim, com as Capelinhas, com a Fonte Romana, com as cerejeiras
e com tinta preta escrita no papel de guardanapo, da Esplanada do Alex, que vai
riscando o papel e deixando sulcos profundos pelas letras que, crescendo, parecem
fantasmas de árvores mortas. As minhas palavras tornam-se ininteligíveis e… o
sonho ficou dentro de mim.
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