Depois de agradecer
ao senhor que lhe tinha dado boleia e de lhe dizer, enquanto retirava a
mochila do carro, que tinha apanhado uma outra boleia que o levaria mesmo até à fronteira
espanhola, foi com uma sensação de alívio que Zeferino entrou no Renault 8
Gordini de cor azul berrante, com ar condicionado, estofos de couro e descapotável.
Teve pena de não poder usufruir desta última característica devido
à chuva intensa e persistente que os acompanhou durante toda a viagem.
Da longa conversa
que se estabeleceu entre eles e que decorreu sempre num ambiente calmo e tranquilo, ao mesmo tempo que ouviam belíssima música reproduzida pelo leitor de cassetes, Zeferino reteve sobretudo quando ela lhe disse com a maior das naturalidades: "trabajo sólo por la noche" ou -"mis clientes son
hombres con dinero que pagan por tener mi afecto".
Quando ela se apercebeu do
estado de estupefacção com que Zeferino ficou, foi com um tom condescendente
que lhe referiu: - “Está à vontade
menino! Não estou a trabalhar e mesmo que estivesse nunca te aceitaria como
cliente, apesar de até seres bem giro, mas… és ainda um adolescente e eu só atendo
adultos e… com muito dinheiro!”.
– Eu já sou um adulto… faço 18 anos no próximo mês de Setembro! Mas…
muito dinheiro de facto não tenho e mesmo que tivesse também não era desse modo que o iria gastar! Retorquiu, com convicção, Zeferino.
Ela respondeu-lhe com um
sorriso lindo que realçava os seus dentes brancos e perfeitos atrás dos seus lábios
bem definidos e pintados de vermelho vivo.
- Pero, seguro que no! Tu não precisas deste tipo de serviços e penso
até que nunca virás a precisar… normalmente são homens na meia-idade ou até
velhotes que nos procuram e, por incrível que pareça, fazem-no mais para
poderem ter uma companhia, alguém que os ouça e a quem possam expor os seus segredos,
as suas fantasias e insanidades saudavelmente loucas… enfim coisas que não
podem dizer e fazer com as esposas e é a nós que vêm "abrir mão" dos seus
pudores verbais e revelar o seu íntimo mais profundo… fazemos muitas vezes de terapeutas
emocionais, comportamentais e, às vezes, sexuais... julgo que levamos a psicologia
e a psiquiatria do campo teórico à prática. Em muitos casos isso resulta, podes crer.
A viagem continuou assim dentro
deste registo e num ambiente extremamente delicioso para Zeferino. No interior
do carro a música continuava agradável e o perfume, com cheiro a rosas, que dela emanava, deixava-o profundamente inebriado até que, depois de atravessarem Bayonne e já perto de Biarritz, num ponto mais elevado da estrada e que podia
ser ou servir de miradouro, ela encostou o carro para fumar tranquilamente um
cigarro.
Lá fora a luz do dia
desvanecia-se até porque continuava a chover torrencialmente. Uma sensação de bem-estar
apoderou-se deles parecendo que a chuva lá fora apelava para o aconchego do
interior do carro.
Em frente entendia-se um prado
enorme, verde e vedado onde assistiram, sem querer, aos jogos de sedução de uma
égua e do crescente entusiasmo de um cavalo, perfeitamente visível aos olhos
dos dois “mirones”.
Para quebrar aquele
encantamento, e por que ainda não sabiam o nome um do outro, ela disse-lhe: Podes chamar-me de Esperanza e tu como te
chamas?
-
Eu sou o Zeferino!
Mas… continuaram a apreciar a
cena não despregando os olhares de tudo o que decorria no relvado. Até que o
cavalo passou em definitivo à acção e consumava o acto com elegância e muito
vigor.
Esperanza, percebendo a crescente
concentração de Zeferino na visível excitação daqueles dois animais, disse-lhe,
com uma pequena gargalhada: - Parece que
também te estás a excitar!...
-
Para falar a verdade, não te enganas, Esperanza... – Respondeu ele meio a
sério meio a brincar, lançando-lhe um olhar provocador.
A Esperanza
atiçou-o ainda mais, dizendo-lhe, desta vez em voz baixa e doce: - Só depende da tua vontade Zeferino! Uma palavra tua e far-te-ei a vontade com todo o prazer.
Um ciclone
de pensamentos veio à mente de Zeferino. Até que se encheu de coragem e
disse-lhe: - Oh Esperanza, não me
provoques! Ainda há pouco tempo disseste que eu era um adolescente e comigo
nunca irias...
- Eu disse-te que nunca te
aceitaria como cliente… neste momento não estou a trabalhar e… sou apenas mulher…
carente… e com vontade de conhecer alguém assim jovem e bonito como tu!
- Tu já percebeste qual é a minha vontade. Diz-me
quando e onde!
Responde-lhe
a Esperanza: - Onde? Bem, o sítio pode ser este mesmo, que é o mais adequado. Quanto
ao "quando", pode ser já!
A
chuva que caía no tejadilho de lona do carro nunca lhe parecera tão acolhedora…
(continua...)
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