Ainda
o sol não dava sinais de despontar no horizonte e já Zeferino se encontrava a
pedir boleia de polegar esticado, no fim da Avenida Jean Cordier, em Pressac, no bairro periférico mais a sul de Bordéus.
Desesperado
porque a maioria dos automobilistas que passavam o olhavam com desdém ou com ar
de gozo ao mesmo tempo que outros abrandavam, dando-lhe falsas esperanças, e
gritavam com a cabeça fora da janela frases desencorajadoras como: “vai de
autocarro” ou, “não tens idade para andar à boleia.” Outros
faziam-lhe manguitos e outros nem sequer o olhavam.
Até
que ao fim de duas horas lá apareceu uma boa alma que parou o carro e lhe
perguntou: - Para onde vais?
- Vou
para Portugal –
respondeu.
O
motorista, um idoso de cabelo grisalho, deu uma gargalhada e respondeu-lhe: ohh, lá…lá! Não vou para tão longe
mas se quiseres ir até Lesperon, podes entrar.
-
Onde fica isso?
-
É uma pequena vila já próxima de Bayonne, que é uma cidadezinha já
perto da fronteira com Espanha.
Zeferino
aproveitou esse rasgo de sorte e sentou-se sem hesitar nos estofos coçados de
um velho Citroen. Suspirava aliviado quando ouviu o senhor a justificar-se:
“Não costumo dar boleia a estranhos”, “Hoje em dia só se vêm assaltos
violentos". “Sabe-se lá que malucos se encontram na estrada…”
E
lá foi conduzindo aos soluços, a uma média de 50 km/h, enquanto discorria um
pouco sobre a sua vida dizendo que era reformado mas que ainda trabalhava mais
do que muita gente no activo, etc. etc. Entretanto o carro era ultrapassado por
todos os lados, mas o condutor parecia indiferente aos sinais de luzes e
buzinadelas furiosas. “Passem por cima”, vociferava ele num tom
colérico.
A determinado
ponto da viagem, exactamente na estação de serviço de Labouheyre, Zeferino viu
o senhor do velho Citroen encostar junto do Restaurante de apoio e dizer-lhe: - Vou demorar aqui cerca de meia hora,
podes entrar e tomar alguma coisa, se quiseres.
Pois! Que
alternativa tenho? Pensou. Por isso entrou, sentou-se e pediu um croissant com um sumo de
laranja natural e ficou ali mais de uma hora sem fazer nada de interessante.
Uma espécie hora vegetativa a ter pensamentos que ele próprio não poderia
descrever, como se não fosse ele a tê-los realmente e não passassem dum ruído
de fundo qualquer. Do televisor, por exemplo, ou da máquina de música que se
encontrava encostada a uma parede mesmo junto da porta de entrada.
Estava assim, neste estado apático, quando viu entrar uma mulher que se dirigiu directamente à casa de banho. Ao abrir a porta bateu de frente num homem que ia a sair. Ficaram ali uns segundos a falar um com o outro e depois acabaram sentados ao balcão, lado a lado. Primeiro com um banco de intervalo entre eles, depois ele moveu-se para mais perto dela. Pareceu-lhe que era a primeira vez que estavam a falar, mas talvez já se conhecessem.
Estava assim, neste estado apático, quando viu entrar uma mulher que se dirigiu directamente à casa de banho. Ao abrir a porta bateu de frente num homem que ia a sair. Ficaram ali uns segundos a falar um com o outro e depois acabaram sentados ao balcão, lado a lado. Primeiro com um banco de intervalo entre eles, depois ele moveu-se para mais perto dela. Pareceu-lhe que era a primeira vez que estavam a falar, mas talvez já se conhecessem.
Observou que a sala do restaurante estava quase cheia de
camionistas, turistas e viajantes que deambulavam apressados entre as mesas já superlotadas
e alguns outros de pé em frente do balcão. Ela contrastava pela quietude, pela
calma, pelos olhos verdes melancólicos.
Zeferino, enquanto aguardava já impaciente pelo senhor da boleia, bem tentava evitar, mas não conseguia resistir a procurá-la com o olhar, por entre a azáfama constante de pessoas a entrar e a sair. Quando lhe parecia que os seus olhares se iriam cruzar procurava dissimular imediatamente. Mas ela nem reparava nele. O seu olhar, ora se dirigia para o seu interlocutor, ora se estendia para o exterior parecendo concentrar-se na chuva que entretanto começara a cair ininterruptamente. Ele a partir do momento em que se convenceu de que ela não reparava nele, encantado com a beleza do seu rosto, não conseguia mais desviar o seu olhar.
Zeferino, enquanto aguardava já impaciente pelo senhor da boleia, bem tentava evitar, mas não conseguia resistir a procurá-la com o olhar, por entre a azáfama constante de pessoas a entrar e a sair. Quando lhe parecia que os seus olhares se iriam cruzar procurava dissimular imediatamente. Mas ela nem reparava nele. O seu olhar, ora se dirigia para o seu interlocutor, ora se estendia para o exterior parecendo concentrar-se na chuva que entretanto começara a cair ininterruptamente. Ele a partir do momento em que se convenceu de que ela não reparava nele, encantado com a beleza do seu rosto, não conseguia mais desviar o seu olhar.
O
tempo foi passando e quando os níveis de ansiedade já estavam no auge chegou, finalmente, o senhor da boleia fazendo-lhe sinal de que tinham de prosseguir a viagem.
Quebrado o encanto Zeferino levantou-se, chamou o empregado, pediu a conta, pagou e ficou de pé junto ao balcão esperando pelo troco. Enquanto esperava mesmo ao lado dela foi observando a sua silhueta perfeita, sob um vestido leve que contornava as suas formas e parecia acariciar-lhe o corpo. Ao virar-se para se ir embora ouviu-a dizer para o seu par num espanhol perfeito: - bueno me tengo que ir a Irún!
Quebrado o encanto Zeferino levantou-se, chamou o empregado, pediu a conta, pagou e ficou de pé junto ao balcão esperando pelo troco. Enquanto esperava mesmo ao lado dela foi observando a sua silhueta perfeita, sob um vestido leve que contornava as suas formas e parecia acariciar-lhe o corpo. Ao virar-se para se ir embora ouviu-a dizer para o seu par num espanhol perfeito: - bueno me tengo que ir a Irún!
Zeferino, fez um pequeno compasso de espera e com convicção mas também com delicadeza
e elegância dirigiu-se a ela: - desculpe, mesmo sem querer, ouvi dizer-lhe que ia viajar para Irun, eu estou em viagem para
Portugal, pode dar-me boleia até lá?
Ela, depois de o olhar de alto a baixo, fixou-o directamente nos olhos e respondeu-lhe sorrindo: - sin duda, por qué no?
(continua...)
(continua...)
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