O
almoço foi servido numa linda casa típica da região e que possuía um enorme
alpendre virado para o Rio Loire que Zeferino ia admirando enquanto degustava a
lauta refeição com que aí foi presenteado.
Ele
sabia, de ler nos livros da sua disciplina de francês do 5º ano do Liceu, que a
culinária francesa se caracterizava sobretudo pela sua extrema diversidade.
Mas, mesmo assim, não deixou de ficar espantado. Aturdido mesmo!
De entrada foram servidos queijos diversos mas todos produtos
da terra-mãe e da especialidade francesa. Havia ainda, claro, uma variedade
enorme de foie gras caseiros produzidos na própria quinta e servidos em pequenos
potes de barro de vários tamanhos e feitios. Foram servidos ainda ovos mexidos com espargos e bacon, cogumelos
fritos e/ou grelhados com moelas de aves.
O
prato principal foi Cassoulet. Um maravilhoso prato à base de carne de
pato, feijão branco, salsichão e alho.
No final, o anfitrião M. Roland disse, satisfeito e orgulhoso, enquanto afagava com carinho a face de sua
esposa e grande mestre da cozinha: "Sabes Zeferino este prato
é uma das especialidades desta região e assenta sobretudo na qualidade do
produto local e na tradição camponesa e, acima de tudo, desta casa".
Depois, e enquanto aguardava
pela boleia prometida, Zeferino deambulou pelas imediações do casario
principal
da Quinta onde teve a oportunidade de falar com trabalhadores e operários
de quem obteve a convicção de que M. Roland era respeitado
sobretudo por ser o homem mais rico daquelas redondezas e por dar
trabalho a muita gente.
Era também admirado pelo seu carácter, pela sua figura imponente de
possante estatura,
pelo respeitável bigode branco e, sobretudo, pela impecável organização de toda a
exploração agrícola e pecuária. Era também temido pelo pausado e duro tom de
voz quando algo não decorria como ele havia determinado e pelo pulso forte com
que mantinha em ordem toda aquela organização.
Talvez,
por tudo o que viu e apreciou nesse dia, Zeferino tenha optado mais tarde por
continuar os seus estudos nas áreas agrícolas. Quem sabe?
Às
quinze horas e trinta minutos partiu em direcção à cidade de Tours com o empregado da Quinta – Jean Paul - não sem antes
agradecer, de forma verdadeira e sentida, a boleia e a hospitalidade com que foi recebido por M. Roland a
quem deu a sua morada de Vila Flor, convidando-o a visitá-lo quando um dia tivesse
a oportunidade de se deslocar a Portugal.
Para Zeferino, traçar
o perfil físico de Jean Paul não era muito fácil. Era diferente de quase todos os franceses que até aí tinha conhecido quer na sua fisionomia, quer na maneira de se vestir, quer até na carregada pronúncia do seu francês esquisito que lhe dificultava o entendimento. Se lhe perguntassem provavelmente Zeferino responderia que Jean Paul era do tipo açoriano francês.
Quanto à sua
personalidade ele próprio se encarregou de o fazer durante a viagem. De
facto ele acabou por fazer uma retrospectiva de quase todo o seu percurso de vida sem deixar de
“desenhar” a traços largos as suas definições pessoais e de carácter.
Começou mais ou menos assim: Sabes eu sou originário de uma aldeia longínqua na
província da Bretanha, daquelas
absolutamente refundidas nas encostas de um vale, onde chove tanto, tanto, mas mesmo tanto, sobretudo no
inverno, que até os cavalos se assustam só de verem um homem sem guarda
chuva...
(continua...)
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