Durante
a tarde desse mesmo dia, enquanto se deslocavam no metro de Paris, o avô
falava-lhe de si, do seu passado e das suas recordações: "Sabes
Zeferino, se extrairmos a tragédia que foi a morte do
nosso filho primogénito a tua avó, eu e tua mãe vivemos aqui muito felizes até
à altura em que Paris foi invadida pelas tropas Alemãs no terrível ano de 1940, depois, claro, tivemos
de fugir para Portugal onde a tua avó adoeceu e faleceu uns anos mais tarde. Entretanto a tua mãe casou-se, foi viver para Vila Flor levando-te a ti e às tuas irmãs e eu
regressei logo que pude e... aqui estou até hoje... e é por aqui que quero ficar pois gosto muito de viver em Paris, que é sem dúvida uma cidade muito especial..."
E foi assim falando e recordando o passado até que se aproximaram do local
emblemático a visitar
e o principal símbolo de Paris: a Torre Eiffel.
E, qual guia turístico o avô ía-lhe fornecendo informações:
"Esta obra foi iniciada em 10 de Julho de 1887 e teve sua conclusão em 31 de Março de 1889. Foi construída com o objectivo de se escolher um grande símbolo para homenagear os 100 anos da
revolução francesa e no âmbito da Exposição
Mundial que nesse ano decorreu em Paris. Foi Gustave Eiffel o engenheiro
responsável pelo projeto e construção, derrotando cerca de outros 700 projetos
no concurso organizado pelo governo francês. A torre tem 318 metros de altura, pesa
sete mil toneladas, tem 1652 degraus da base ao topo, e foi montada tal como um
gigantesco quebra cabeças em três dimensões, com quase vinte mil peças e dois
milhões e meio de rebites, todos em aço. Apesar do imenso peso próprio, a
distribuição de esforços e cargas na estrutura é tão equilibrada e bem
distribuída que até hoje o projecto do engenheiro Eiffel ainda causa admiração".
Como
a torre tem três andares, que são também plataformas de observação, e diversos elevadores
tiveram, para chegar ao último andar, de trocar de elevador no segundo
pavimento.
Enquanto
apreciavam a melhor vista de Paris e quando
a noite começava já a cair desfrutaram um momento lindo e verdadeiramente extraordinário que foi verem as luzes de toda a cidade a acender, por arrondissement, até ficar toda
iluminada.
Um espectáculo grandioso ao mesmo tempo que num dos bares deste último piso o avô bebia um café acompanhado de um bom conhaque francês (sim... ele bebia muito, às vezes demais!) e Zeferino degustava um cachorro com mostarda muito (mas mesmo muitíssimo) picante que fez com que ficasse com lágrimas nos olhos e o avô "perdido" de riso porque ele já sabia e... tinha feito de propósito.
Depois deste cómico incidente o avô mais sério e com emoção, quebrando todo aquele encantamento, virou-se para o neto e disse: "Conta sempre comigo Zeferino! Sabes que a vida nem sempre é como gostaríamos que fossse... é como um mar, tanto pode estar agitada como calma, com ondas fortes que parecem querer devorar-nos ou como um lago de calmaria que se assemelha a um lar materno onde nos podemos refugiar... a vida tanto nos puxa para a frente como nos empurra para trás... tanto nos dá esperança como nos entrega ao desespero...
Por isso já sabes... se e quando precisares estarei sempre aqui para ti, para o que der e vier!".
Zeferino com a voz embargada apenas conseguiu dizer:
- Obrigado avô!
(continua...)
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