Por volta das oito horas e trinta minutos Zeferino e seu avô sairam de casa preparados para um dia de passeio turistico mas que se viria também a revelar bastante divertido e instrutivo.
Para começar, o avô levou-o ao seu antigo local de trabalho - o “FORTE”-, como ele lhe chamava. Começou por lhe fazer uma resenha histórica do local: "o Fort Montrouge é uma fortificação construída entre 1843 e 1845 e que está localizado em Arcueil no Val-de-Marne, em Paris. O forte abriga uma empresa de Gendarmerie de armas e alguns serviços da Direcção de Armamento (DGA) e da Secretaria Geral de Administração (SGA)..." E, quase sem tomar fôlego, continuou: "No ano em que tu nasceste, 1953, mudou-se para aqui um laboratório da Direcção-Geral de Armamento e foi exactamente para este sector que eu vim trabalhar num dos seus atelieres, logo que regressei de Portugal, alguns anos após a II Grande Guerra".
Falou-lhe ainda com orgulho de tudo o que tinha conseguido com o seu trabalho honesto e dedicado. E disse-lhe com ênfase: "sabes Zeferino, grande parte do nosso bem estar e da nossa felicidade neste mundo depende do trabalho que fazemos e da forma como o fazemos”, procurando - desta forma - ensinar o valor do trabalho e as recompensas que ele trás ou pode trazer.
De seguida apanharam o metro até à estação de Créteil
e daí seguiram a pé até ao Cemitério de Thiais que fica já nos arredores de
Paris, no departamento de
Val-de-Marne e próximo do Aeroporto de Paris-Orly. O avô levou-o a este cemitério para lhe mostrar a campa do
filho que morreu
atropelado, em Paris, no início da década de 30, do século XX, com 8 anos de
idade, quando se dirigia a uma padaria a fim de comprar pão para um dos clientes do
pequeno restaurante que os avós exploravam nesse época.
E, enquanto se deslocavam já no interior do enorme cemitério, aproveitou para recordar, falando a Zeferino da sua avó Margarida: "Quando lá na aldeia eu e tua avó nos apaixonámos isso não foi muito bem aceite e gerou muito mal estar entre as duas famílias... sobretudo por parte dos pais e dos irmãos de tua avó que não aceitaram de bom grado o nosso namoro e perseguiram-nos aos dois. Devido a essa situação insustentável eu tive de fugir para França logo que acabou a I Grande Guerra Mundial e vim viver para a região de Lille aproveitando a abertura deste País para receber mão-de-obra barata com a finalidade de recuperar dos estragos causados pela guerra. A tua avó Margarida, meses mais tarde, veio ter comigo e foi já aqui que nasceu tua mãe dois anos após o nascimento deste teu tio Luis, que vamos agora visitar na sua campa.
Extraindo essa desgraça fomos felizes até à altura em que Paris foi invadida pelas tropas Alemãs, durante a II Grande Guerra Mundial e... infelizmente tivemos de fugir, regressando a Portugal. Entretanto, e já depois da morte precoce e por doença grave de tua avó, regressei sozinho a um País que sempre me acolheu e tratou muito bem".
O avô nunca perdia a oportunidade de falar assim desta forma procurando, também com isso, incutir em Zeferino a importância e o valor da família.
(continua...)
Sem comentários:
Enviar um comentário