sábado, 29 de dezembro de 2012

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (VIII)

Nota prévia:
Este será o último post deste blogue no ano de 2012!
Para marcar simbolicamente este facto quero dedicá-lo ao meu 
avô Alfredo que faleceu, em 1991, com 90 anos de idade.
 
No dia seguinte, sexta-feira santa, 9 de Abril de 1971, logo pela manhã e enquanto tomavam o pequeno-almoço em família, o avô virou-se para Zeferino e disse-lhe: “hoje gostaria que estivesses disponível para mim... quero mostrar-te um pouco de Paris ... o que achas?”

Zeferino, antes de responder, pensou  na enorme admiração que tinha por seu avô que nunca parava de o surpreender com pequenas brincadeiras, com truques engraçados, com sugestões e com actividades que o divirtam e o faziam sentir-se especial. 

De facto, apesar de viverem afastados praticamente durante todo o ano, sempre o considerou um elemento fundamental da sua família e, para além de sua mãe, foi aquele que mais se preocupou com a sua formação e educação. Nos momentos importantes da vida de Zeferino o avô esteve sempre presente com a sua forma muito especial e singela de demonstrar o seu amor e carinho, sem ser lamechas e muito menos sem querer parecê-lo. 
Era directo no trato (às vezes rude) mas desde muito novo e sempre que estava por perto, normalmente nas férias de verão, Zeferino sentia-se permanentemente estimulado por seu avô nomeadamente para as áreas do saber e do saber fazer e, ainda, para a cultura em geral e para o valor do trabalho.

Politicamente o seu avô era um socialista e um defensor convicto de François Mitterrand e, acima de todos, de Leon Blum, de quem falava com admiração mas com todo o cuidado, pois em Portugal ainda se estava no tempo do regime ditatorial imposto por Oliveira Salazar e continuado por Marcelo Caetano. Contava-lhe também, vezes sem conta, o interrogatório a que tinha sido submetido na sede da PIDE, na cidade do Porto, em finais da década de 50. 
E, mais uma vez, nesse dia lá lhe repetiu: "Sabes que com A PIDE (polícia Internacional e de Defesa do Estado) não se pode facilitar (...)  "O Salazar não brincava em serviço... ele e o seu Estado Novo criaram esta polícia com o fim de condicionar, controlar ou eliminar as manifestações de opinião e impedir a organização política das forças que se lhe opunham (...) era um ditador na linha de Hitler na Alemanha, de Francisco Franco em Espanha e de Benito Mussolini em Itália...". Terminava normalmente este tipo de discurso com este aviso: "tu, vê lá ... tem cuidado... mas... nunca apoies e, sobretudo, nunca te deixes subjugar por ditadores".
De facto e sem ser ferrenho ele venerava a independência e a igualdade entre os povos e religiosamente guardava no seu apartamento em Paris, todo o tipo de jornais e transcritos proibidos pelo regime salazarista, que mostrava e citava com orgulho.

Zeferino, assim estimulado pelo seu avô, Interessou-se de forma quase doentia por relatos e livros que contavam a bestialidade do ser humano praticados, sobretudo, durante a 2º guerra mundial. E, por vezes, dava consigo a sonhar e a imaginar-se  um herói que salvava o mundo da intolerância e das injustiças praticadas pelos mais poderosos.

Por tudo isto, por gostar da sua companhia e, claro, porque queria de facto conhecer Paris, Zeferino acabou por responder todo contente e brincalhão: "Acho muito bem, avô!... et pourquoi pas?"

(continua...) 
 

2 comentários:

  1. Não tinha como contactar, mas julgo que vais gostar de visitar este link: https://scontent-a-mad.xx.fbcdn.net/hphotos-frc3/t1.0-9/p417x417/10314515_10201979888080238_7884355794985287876_n.jpg

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    1. Gostei! É um documento quase histórico tendo em conta a sua idade. Gostaria de agradecer (e AGRADEÇO) mas não sei bem a quem :-) O nome Miguel, assim sozinho, não me diz muito... És filho do meu primo Alexandre? Um abraço

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