Ao
sair de casa aconchegou a gola do casaco, naquela manhã fria do mês de Abril,
de 1971. Apanhou, mesmo em frente ao Grémio da Lavoura, a camioneta que pertencia à Sociedade de Transportes de
Vila Flor e que o levou, com lentas
paragens em todas as aldeias, até à estação do caminho-de-ferro do Tua, onde esperou pacientemente pelo comboio
que, por sua vez, o haveria de levar até Barca d´Alva.
Sentado num dos bancos desta estação olhava a chuva miudinha e enervante que caía de forma contínua e
incessante. De olhar errante, mirava as carruagens enquanto um
altifalante fanhoso debitava informações sobre a chegada e partida dos
comboios. Depois, fixava-se nos carris a perder de vista, até à curva onde o
olhar lhe consentia. Eram os carris do seu destino. Estava de partida para
Paris, agora que entrara no período de interrupção das actividades lectivas da
Páscoa, onde se iria reunir a alguns dos seus familiares que aí residiam e a outros que também tinham ido
passar este período a casa do seu avô.
Lá em Trás-os-Montes, dias antes, sua mãe ao partir para a cidade da sua infância e pré-adolescência, encostada à soleira da porta da cozinha e limpando as lágrimas a um guardanapo de tecido escuro que era o espelho da sua alma, dizia-lhe: "filho, sinto uma dor enorme em ter de partir numa altura destas, em que a ti não te dá jeito nenhum mas sabes ... tenho que ir visitar o teu avô ... tenho de ir... temos mesmo que ir (reforçou) ... há ainda coisas pendentes a resolver ... ele está lá e já tem 70 anos. Espero que, logo que possas, te juntes a nós para aí passarmos a Páscoa juntos". Dito isto abraçou-o em silêncio e partiu, levando na mala em partes iguais, um quinhão de esperança e outro de desespero. Saiu e ele ficou sozinho e em silêncio na casa vazia. Até agora, que lhe segue o caminho.
Lá em Trás-os-Montes, dias antes, sua mãe ao partir para a cidade da sua infância e pré-adolescência, encostada à soleira da porta da cozinha e limpando as lágrimas a um guardanapo de tecido escuro que era o espelho da sua alma, dizia-lhe: "filho, sinto uma dor enorme em ter de partir numa altura destas, em que a ti não te dá jeito nenhum mas sabes ... tenho que ir visitar o teu avô ... tenho de ir... temos mesmo que ir (reforçou) ... há ainda coisas pendentes a resolver ... ele está lá e já tem 70 anos. Espero que, logo que possas, te juntes a nós para aí passarmos a Páscoa juntos". Dito isto abraçou-o em silêncio e partiu, levando na mala em partes iguais, um quinhão de esperança e outro de desespero. Saiu e ele ficou sozinho e em silêncio na casa vazia. Até agora, que lhe segue o caminho.
O apito agudo do chefe da estação de Barca
d´Alva interrompeu-lhe os pensamentos e o
comboio partiu, com um solavanco.
Depois, seguiram-se perto de 24 horas de viagem, com episódios e paisagens diversas...
Depois, seguiram-se perto de 24 horas de viagem, com episódios e paisagens diversas...
(continua...)
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