O
caixeiro-viajante (que nunca mais vi na vida) era um conversador nato. Fiquei pasmado a ouvi-lo durante o resto da tarde, mesmo em frente à Farmácia Vaz
e ao lado da barbearia onde frequentemente ía cortar o cabelo.
A
partir do momento em que ele se apercebeu do meu estado de espírito, sobretudo
da minha falta de confiança e de motivação para os estudos, foi a vez de ele
assumir o papel de "psicólogo" e, como estratégia motivacional, tratou logo de me contar uma história
(que reproduzirei num dos próximos posts) e que achei verdadeiramente
extraordinária.
Como a conversa fluía com muita facilidade tive a oportunidade, em jeito de vingançazinha, de "traçar" resumidamente o seu perfil. O Sr. Celso Vaz era - de facto - um bom farmacêutico, daqueles em quem se podia confiar para os curativos e para as injecções, bom profissional e muito boa pessoa. Mas... (e há sempre um mas) considerava-se um erudito! Tinha a mania de querer sobressair numa conversa por muito banal que fosse e querer ser sempre o protagonista central numa boa tertúlia. Era sem dúvida uma das figuras típicas da Vila! Contavam-se várias estórias dele nessa altura. Recordo-me daquela em que respondeu (!) a uma senhora sexagenária analfabeta, quando esta lhe pediu para lhe “medir” meio litro de álcool para um frasco que trazia de casa, do seguinte modo:
-
“pois muito bem, se o recipiente for
susceptível de levar tal quantidade eu medir-lho-ei, com certeza!”!
-Aãããhhh!
Bô!! "Atão" em que ficamos? Vende-me ou não o álcool? Perguntou a senhora aturdida com a resposta do
Farmacêutico.
Falava-se também daquela mania que ele tinha de, em pleno Inverno, vir para junto da porta da
Farmácia e depois de molhar um dedo na boca e de o colocar cá fora, ficando com todo o corpo recolhido no interior, dizer para os presentes e com
todo o ênfase: “hoje a brisa está extremamente gélida”!
Depois desta divertida conversa e ao despedir-se, ele fê-lo com respeito, educação e um formalismo a que eu não estava habituado, ele agradeceu a minha companhia relevando ainda o facto de o ter ajudado
de forma desinteressada e sem o conhecer de lado nenhum. Referiu que gostou de
me conhecer e que se um dia tivesse filhos gostaria de ter um como eu. Entrou
na carrinha e partiu.
A verdade é que a história que ele contou e aquele último elogio me caíram mesmo bem e vieram na hora que eu mais precisava. Naquele dia cinzento, em que não havia esperança de nada, para nada e por nada, tiveram um efeito muito, mas mesmo muito, positivo na minha vida. Reforçaram a minha autoestima e melhoraram a minha autoeficácia.
Estou convencido que melhorando a percepção que eu tinha de mim próprio, como de facto aconteceu, passei a acreditar que era possível, através do meu esforço pessoal, realizar o meu sonho ...
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