Com o conjunto das Memórias I, II, III e agora a IV, procurei
focalizar um ponto (ou o centro fulcral) do meu percurso que tenha sido o sustentáculo maior do que
foi depois a minha vida. Qualquer coisa como o fiel da balança do meu destino!
Sinceramente não sei se o consegui, provavelmente não. Pelo menos tentei e - se não consegui - pelo menos ficam as memórias!
Sinceramente não sei se o consegui, provavelmente não. Pelo menos tentei e - se não consegui - pelo menos ficam as memórias!
Nomeadamente a memória que tenho da Biblioteca do Museu Berta Cabral,
em Vila Flor.
Foi
aqui nesta Biblioteca, que passei a frequentar aos 15 ou 16 anos, que
sedimentei os meus hábitos de leitura. Na realidade passou a ser, a partir dessa altura
da minha adolescência, a minha sala de leitura e o meu local preferido de estudo.
Desde logo, porque ficava situada num local muito próximo da casa dos meus pais (3 ou 4 minutos a andar devagar), num edifício senhorial (Solar dos Aguillares) do século XII e XIV, muito próximo da Igreja
Matriz e mesmo à entrada da Praça da República.
Contrariamente à metodologia que utilizava na Biblioteca Itinerante
em que depois de selecionar os livros e fazer a sua requisição, levava-os para
casa e, passados quinze dias, ia de novo à biblioteca para os substituir por outros, nesta Biblioteca preferia utilizar
os livros e as revistas no próprio local.
Esta era uma opção minha pois a Biblioteca
também passou a facultar, a partir de certa altura, o empréstimo domiciliário. Mas, nunca senti essa necessidade. No centro da sala da Biblioteca havia uma mesa rectangular,
rodeada de cadeiras muito confortáveis. Os livros estavam colocados e
devidamente sinalizados nas enormes estantes encostadas às quatro paredes. O ambiente era agradável, calmo, tranquilo e convidando à leitura concentrada. Porquê então sair com os livros?
Para
além dos livros recordo-me das revistas que aqui lia, entretanto
desaparecidas, e que na época me ajudaram a introduzir nos meus hábitos de
leitura
o gosto pelas notícias ilustradas, comentadas e apresentadas de um modo muito diferente dos jornais. A Flama, o
Século Ilustrado e a Vida Mundial foram algumas delas.
O
Século Ilustrado era um suplemento semanal do jornal O Século,
um diário matutino de Lisboa, publicado entre 1880 e 1978, e fundado pelo
jornalista Sebastião de Magalhães Lima.
A
Flama, cujo primeiro número foi publicado em 1944, tinha um cariz católico. Mas tinha
também a tradição de entrevistar grandes figuras do mundo do espectáculo ao
mesmo tempo que fazia o tratamento de assuntos
políticos importantes.
A Vida Mundial tinha características diferentes pois preocupava-se essencialmente em
apresentar uma panorâmica daquilo que de mais importante se passava no
mundo, dentro das limitações impostas pelo regime político dessa época.
Por tudo isto, estou convencido que esta Biblioteca teve uma
importância decisiva e determinante no
meu processo de ensino/aprendizagem. Sobretudo na forma como aprendi a
organizar e a sistematizar as informações e os conhecimentos, a pensar e a
encontrar respostas para os problemas que ia enfrentando.
O contacto com os livros e com as revistas que aí
fui conhecendo, juntamente com a educação dos meus pais, foi também determinante
para o desenvolvimento de conceitos importantes tais como saber respeitar as
diferenças e tomar consciência dos meus direitos e
deveres, como pessoa e como cidadão.
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