quinta-feira, 14 de junho de 2012

Recordando o início da década de 70 ...

Ontem fui a Coimbra e aproveitei para visitar a Escola Superior Agrária, em Bencanta.
Ao entrar no portão da antiga (e então designada) Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra dificilmente reconheci a maior parte dos espaços que tão bem conheci e frequentei até há 38 anos atrás. À medida que fui entrando os meus pensamentos e as minhas recordações foram-se centrando nas ruas, nos edifícios e nos restantes espaços físicos onde tanto estudei e aprendi. Rebuscando na memória fui buscar a imagem de alguns dos professores que ajudaram a moldar o meu carácter e a preparar-me para a vida.
Ía na esperança de encontrar um deles, o Engenheiro Dias Pereira que, tanto quanto sei, embora já aposentado há muitos anos, ainda a frequenta.
Conheci o Engº Dias Pereira quando este desempenhava as funções de Director da Escola Agrícola de Mirandela, onde funcionou, no início da década de 70, uma Secção da Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra.  
Sensivelmente a meio do curso ele transferiu-se para Coimbra e muitos dos alunos que o frequentavam seguiram-no e transferiram-se também. Eu fui um deles. A admiração e o respeito que por ele nutríamos “obrigou-nos” a segui-lo e nunca nos arrependemos de o ter feito. 
Na realidade, ele foi para mim um exemplo como professor e como Homem. Era um professor que ensinava dialogando, escutando e partilhando o seu saber, sempre com um enorme prazer.
Recordo também o dia em que me chamou ao seu gabinete e, com os seus olhos azuis, muito vivos e penetrantes, me chamou a atenção para aspectos menos positivos da minha conduta enquanto estudante. Ralhou-me zangado e … valeu a pena! Se há pessoas que nos marcam para sempre, apesar de não pertenceram ao universo daqueles com quem privamos com frequência, o Engenheiro Dias Pereira foi, para mim, uma delas.
Deu para recordar ainda um episódio ocorrido no final do ano lectivo 1972/73, com o Eng. Ruque, professor de Topografia do qual nunca mais me esqueci. No final do exame prático desta disciplina e depois de fazer vários exercícios com o Teodolito (medidas de ângulos verticais e horizontais) o professor virou-se para mim e disse-me com um tom muito acertivo:
- Fonseca, já que estás a mexer nessa peça do Teodolito diz rapidamente o seu nome.
Atrapalhado com esta inesperada questão e também porque estava convencido de que o exame tinha acabado (até me tinha corrido bem!) respondi gaguejando:
- Bem … booom …hummmm  … eu sei como se chama!
- Então diz! ... insistiu o professor.
- Não me recordo assim de repente, mas… mas nas aulas práticas, para podermos olhar e ver o ponto de partida que se situa no centro do tripé onde assenta o Teodolito, até lhe chamávamos o “espreitómetro”, respondi eu - sem geito nenhum.
Os colegas que estavam a assistir riram à gargalhada e ainda mais se riram quando o Engenheiro se virou para mim e disse:
- Ai sim!? Então, para que nunca mais te esqueças do “espreitómetro”, vens cá espreitar em Setembro!
E pronto, na segunda época de exames, lá fui fazer o exame prático e bastou-me dizer o nome correcto do Prumo Óptico do Teodolito (espreitómetro) para fazer a cadeira.

Recordando ainda esse tempo dos cabelos ao vento, dos sonhos, das esperanças e das generosidades desmedidas não pude deixar de pensar, com nostalgia, em alguns momentos de sã camaradagem passados com alguns dos colegas e amigos, sobretudo do Manuel Dias Carrelo (que nunca mais vi!), com quem partilhei um dos apartamentos da casa nº 9, da Rua Ferreira Borges e que, com a sua generosidade, me prestou esta singela homenagem no livro de fim de curso (desculpando-lhe os erros ortográficos :-)) .

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