Ao entardecer, no cimo da serra, o Sol descia mesmo por entre os
pinheiros e as fragas de granito. Entretanto, a Vila, lá em baixo,
espraiava-se, pela Estrada Nacional nº 215, desde a Volta dos Tristes, passando
pela Fonte Romana, pela Praça da República, pela Capela de Santa Luzia,
seguindo e ziguezagueando até ao Bairro da Serração com a sua Adega
Cooperativa. Ao acompanhar visualmente todo este percurso era invadido pela
tranquilidade que a pacata Vila me transmitia.
Entretanto o Sol continuava a sua descida. Parecia-me ao alcance
da mão. Se eu lá chegasse...
Ainda pensei em subir um pouco mais a Serra para lhe tocar, para
sentir o seu calor a aquecer-me a ponta dos dedos, mas depressa percebi que não
ia chegar a tempo porque quando atingisse o cume já o Sol teria descido por
trás do outro monte.
Este pensamento que me ocorreu numa das muitas vezes que subi às
Capelinhas, em Vila Flor, no período da minha adolescência, volta sempre que aí
tenho o prazer de voltar. É um local que merece ser visitado para se poder
desfrutar dessa beleza natural que se alcança com o olhar.
Da última vez que lá fui, fiz ao contrário. Levantei-me cedo
e, ainda de noite, subi ao alto da serra e aí esperei pela
alvorada no exacto local em que o tinha visto "esconder-se" tantas vezes...
Sim, de madrugada lá estava, oculto entre os pinheiros, esperando que o sol
aparecesse. Então sim, poderia "tocá-lo" e sentir a carícia dos seus
raios na minha pele e no meu corpo todo.
Arrepiei-me, ansioso, com a claridade da manhã que anunciava a sua
vinda, imaginando e deleitando-me com a antecipação do nosso encontro.
Minutos volvidos, vejo romper a fascinante bola dourada que,
naturalmente, apareceu na cumeeira do outro monte à minha frente.
Agora, distante desse tempo e desse espaço, imagino-me muitas vezes no cimo da Serra, esperando aquela estrela, procurando o calor da minha vida cada vez mais longe, cada vez mais inacessível…
Agora, distante desse tempo e desse espaço, imagino-me muitas vezes no cimo da Serra, esperando aquela estrela, procurando o calor da minha vida cada vez mais longe, cada vez mais inacessível…
João de Sá explicou tudo em poucas palavras...