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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Joan Baez e as minhas hérnias discais...

Eram 5 horas e 30 minutos dessa noite cerrada que nunca mais acabava e ainda não se vislumbravam sinais de que a luz do sol iria aparecer tão cedo. A dor e o desconforto não me deixavam dormir nem me deixavam fazer aquilo de que tanto gosto: ler e escrever.
É ensurdecedor o barulho que este silêncio faz!”. Esta citação que ouvira, ou lera algures, ajustava-se justamente àquele instante em que sentia a alma cheia de uma dose extra de dor, tristeza e… silêncio. Ao mesmo tempo que os meus ouvidos se "enchiam" com esse barulho silencioso, receei não me lembrar destes pensamentos/tormentos no momento em que, utilizando o teclado, os quisesse transferir para o texto.

É o que estou a tentar fazer neste momento… embora com medo de que a minha memória me traia mais uma vez e que essa mensagem se perca...

Voltando a essa noite. Enquanto percorria o escritório de lá para cá e de cá para lá, o pensamento levou-me para o dia em que tudo “isto” começou. Ou melhor para o dia em que verdadeiramente tomei consciência de que tinha este problema. Na verdade já tinha ido ao médico no dia anterior mas foi só no dia 31 de Março de 2015 que senti, a sério, os efeitos maléficos do meu problema. Paradoxalmente isso aconteceu no exacto momento em que concretizava um sonho de décadas e batia palmas a um ídolo musical da minha juventude. Batia palmas ao mesmo tempo que uma dor lancinante partia da minha zona cervical, irradiava pelo meu braço "mordendo" todo o antebraço e se instalava em dormência nos dedos da minha mão esquerda. A dor física era, de facto, muita mas... a minha “alma” sentia-se feliz ao ver e ouvir, ao vivo e a cores, a Joan Baez, no concerto que deu nessa noite no Coliseu do Porto!!!

Sempre admirei a Joan Baez, sobretudo após a Revolução dos Cravos do dia 25 de Abril de 1974. E essa admiração deve-se não só à sua voz melodiosa mas também, e sobretudo, às letras das suas canções, que sempre revelaram uma personalidade lutadora e interventiva.
Ela cantava pela liberdade dos povos oprimidos, pelos direitos civis, contra o racismo, contra a guerra e… pela paz e amor. 
Eu identificava-me com tudo isso e tocava-me profundamente. 
Ao ouvi-la nessa noite no Coliseu não pude prender o pensamento que “voou” para o ano de 1978 e para a lindíssima vila de Monção. Numa noite também de insónias e do meu quarto que alugara na Pensão Central, contemplava com olhar triste o exterior e o céu estrelado que perscrutava através da janela. No meio dessa solidão, natural de quem tinha chegado há pouco tempo a uma terra desconhecida para dar início à minha carreira profissional, escutava, para me abstrair dos meus pensamentos, os rumores e murmúrios da rua e da Praça Deu-la-Deu Martins, enquanto ouvia várias canções da Joan Baez, nomeadamente Diamonds and Rust - Live.

Regressando ao concerto, e nesta ambiguidade entre a dor física e o prazer espiritual, apesar das dores que sentia fui desfrutando da forma como Joan Baez foi interagindo com o público, falando sobre várias das canções antes de as tocar e procurando integrar-se connosco sobretudo quando, de forma inesperada, começou a cantar, em português, o clássico de Zeca Afonso "Grândola Vila Morena", sendo acompanhada por todo o público que, por sua vez, lhe foi enviando para o palco vários cravos vermelhos. Vivi, emocionado, este momento empolgante.

Tenho um amigo, a quem chamo com afecto de "Grande Cronista", que viveria todo este episódio de forma pragmática, positiva e optimista considerando que ele constituiria apenas mais um ingrediente para a "Sopa de Pedra" que é a sua vida.
Por sua vez o mestre Agostinho da Silva diria que “o melhor é não fazermos muitos planos para a vida para não baralharmos os planos que a vida guardou para nós”

Já eu (e embora não seja um fatalista) só me apetece dizer: Porra! (E uns palavrões depois) Que merda... estas hérnias discais a chatearem-me... que não me deixaram desfrutar a Joan Baez... que não me deixam dormir e que não me deixam escrever confortavelmente...

2 comentários:

  1. Amigo Bernardino
    Invejo-te a sorte. Não das dores, obviamente (essas compreendo-as e partilho-as), mas de teres assisto ao concerto da Joan Baez, artista que igualmente me marcou na juventude e sobre quem perfilho exatamente as mesmas opiniões que tu.
    Um abraço, com os votos de rápida recuperação.

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  2. Obrigado amigo. Tudo de bom também para ti. Um abraço

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