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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O meu emprego de sonho...

Setembro de 1981.
Lia o Jornal de Notícias na sala de estar da casa dos meus sogros na Madalena, Vila Nova de Gaia e ao deparar-me, na página dos anúncios, com uma proposta de emprego que se enquadrava dentro do meu perfil não hesitei e respondi, candidatando-me imediatamente.
De forma um tanto inesperada, e passados poucos dias, fui convocado para uma entrevista que ocorreu nos escritórios de uma casa da Rua da Restauração, no Porto.
Apresentei-me no local à hora marcada de forma perfeitamente descontraída e com o “à vontade” de quem não dá grande importância ao caso. Diante de três altos funcionários da empresa de alimentos para animais do Distrito de Aveiro que tinha colocado o dito anúncio fui submetido a uma bateria de testes de características mais técnicas e a um interrogatório oral em Português e em Francês.

Respondi, mais ou menos, do seguinte modo:
- Sou Bernardino Fonseca, nome que o meu pai me deu, recalcando o do seu próprio pai que se chamava António Bernardino da Fonseca.
- Nasci em 1953. Cresci dividido entre Pinhal do Douro e Vila Flor, dos Concelhos de Carrazeda de Ansiães e Vila Flor, do Distrito de Bragança.
- Ainda hoje, apesar da minha idade, 28 anos, procuro crescer todos os dias quer seja no trabalho, na família ou com os amigos, mas se calhar não o suficiente para chegar aos calcanhares daqueles que mais admiro. Que são muitos.
- Sou apaixonado pela família, por livros, música e imagino-me como escritor desde pequeno e é isso que tenciono fazer um dia. 
- Estudei Em Vila Flor, Mirandela e Coimbra onde tirei o Curso de Engenheiro Técnico Agrário (antigamente chamado de Curso de Regente Agrícola).
- Hoje, como Professor de Ciências da Natureza e Biologia vejo-me numa profissão pouco ou nada relacionada com a minha formação de base e agarrado, em segredo, nos meus tempos livres aos meus sonhos de trabalhar na minha área de formação de base e a de um dia vir a ser um escritor reconhecido.
- Gosto de quem sou, um pouco desinserido mas feliz e luto por mim, pela minha família, sobretudo pela minha filha nascida há poucos dias. Luto e lutarei por isso na totalidade, mental e fisicamente.
- Sou algo aéreo e distraído e não se admirem se um dia ao passar mesmo junto a vocês não vos cumprimente ou se num outro dia qualquer vos cumprimente na rua atirando-vos um sorriso patético. A não ser que tenha ido ao dentista. Nesse caso devo preferir ser antipático do que babar-me pelo canto dormente da boca.
A descontracção e até a forma irónica como respondi (sem me rir) pelos vistos caíram bem aos entrevistadores e, em consequência, fui de novo contactado. Desta vez, para me comunicarem que, se eu quisesse aceitar as condições que me propunham, tinha o lugar à minha disposição e poderia ocupar a vaga a partir do primeiro dia do mês de Outubro.

E essas condições eram para mim, naquela época, verdadeiramente extraordinárias. Triplicava o vencimento que auferia enquanto professor provisório mais as ajudas de custo para refeições e deslocações e combustível para o automóvel da empresa que me seria distribuído no primeiro dia de trabalho.
Pedi uns dias para ponderar.

A conjuntura pessoal e familiar falou mais alto. Tinha regressado a Vila Flor no ano anterior logo depois do casamento e a Amélia tinha deixado a sua terra, a sua família, os seus amigos e a sua escola para me acompanhar. Vivíamos numa casa situada mesmo do outro lado da Avenida onde ficava a Escola onde tinha sido colocado recentemente. A nossa filha tinha acabado de nascer.
Enfim, atendendo a todas estas condicionantes, agradeci a oportunidade e...  disse não!

E pronto. Foi assim que recusei o meu emprego de sonho. 

2 comentários:

  1. E recusaste muito bem, senão...bem, senão não estavas, orgulhosamente, a escrever de tão leve, mais um,bela "passagem" da tua vida.
    MAFreire

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    1. Nunca me arrependi de ter recusado esta oportunidade de trabalhar na minha área. Apesar de ter perdido muito em termos materiais ganhei muito mais a todos os níveis. Sem esquecer que fui trabalhar na escola onde encontrei um Presidente do Conselho Directivo que muito me ensinou, sobretudo aos sábados de manhã... onde me queria (e colocava) sempre. Belos tempos!!! Um abraço

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