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sábado, 11 de outubro de 2014

Hoje sinto-me uma espécie de "Mefistófeles de Celorico"…

Tenho andado afastado das habituais idas ao Cinema por comodismo, indolência ou laxismo e até por deveres de jardinagem. Sim, também tenho o meu jardim de varanda que me ocupa e entusiasma… enfim, cada um lavra, semeia e planta onde pode, à sua maneira e com as ferramentas que tem.
Apesar disso, a semana passada fui com a minha "cara metade" ao cinema do Arrábida Shoping ver os Maias, do João Botelho e revivi aquele livro que boa parte dos portugueses apenas leram na escola e… em resumos.
No final do filme senti que estou cada vez mais queirosiano, embora não me consiga “meter” no papel de qualquer um dos seus personagens. Na realidade não tenho a fantasia e a eloquência do “Mefistófeles de Celorico” embora, tal como ele, também sou leal com os amigos, algo anarquista, inconstante nos humores e pouco, ou nada, católico mas não completamente amoral.
Também não uso um vidro encravado no olho, mas sim uns óculos com lentes progressivas para ler ao perto (e ao menos perto) que a minha querida oftalmologista me receitou.
Também não tenho pernas de pernalta nem braços magricelas. Pelo contrário, estou até bem nutrido e com peso a mais. A preguiça para o exercício físico é um dos meus defeitos e só o meu querido amigo Passadiço me dá o alento necessário para aí fazer umas corridinhas. Ginásios nem vê-los! Quando me imagino no ginásio a correr em cima de uma passadeira rolante, a olhar para o espelho e para o mecanismo que contabiliza as calorias que se estão a queimar, sinto-me ridiculamente fechado e com uma vontade enorme de sair dali para fora a correr para o fino fresquinho que me espera numa das belas esplanadas de praia de Valadares ou de Miramar.
Continuando com as eventuais analogias e dissemelhanças com as personagens dos Maias. A minha mãe também é, infelizmente, viúva mas... não é rica como a mãe do Ega. Se fosse tenho a certeza que me mandava dar a volta ao mundo e também arranjava um "Vilaça" honesto para me manter a conta bancária sempre bem recheada.
Que rica vida a dos meninos ricos daquela época! Quando tinham um desgosto de amor, qualquer que ele fosse, iam curar as “feridas” para Paris, para a Europa ou mesmo para o Japão ou América do Norte. Assim sim, até dá vontade de ser infeliz nos amores. Que rica vida, caramba…
Bom! Prometo que vou deixar de ser invejoso. Mas aquilo sim era vida e ser médico era, nessa época, em Lisboa uma profissão de elite, mas simples. Era tão fácil prescrever! Bastava receitar algum resguardo, chás, repouso e pronto... a cura de qualquer maleita haveria de chegar. 
Que rica vida! E… quando faltava a carruagem de cavalos privativa, uma corridinha acelerada dava perfeitamente para apanhar o Eléctrico e ir ter com os amigos e fazer tertúlia com eles num dos salões de chá do Rossio.
O que realmente me parece (esta ideia saiu mais reforçada depois de ver o filme) é que o Eça de Queiroz não tinha uma boa imagem das mulheres, ou pelo menos nesta obra não as tratou lá muito bem. Dividiu-as em “Eduardas” e “Condessas de Gouvarinho” e não deixou de lhes dar umas boas alfinetadas. À Condessa considerou-a uma mulher devassa, de nariz empinado, sem escrúpulos e que traía o marido. A Eduarda, apesar de a definir como “um passo soberbo de deusa maravilhosamente bem feita” não deixou de a classificar como acompanhante de luxo em Paris, embora “justificado” pela necessidade de sustentar a filha que morria de fome.

Que bom ir ao cinema e recordar o Eça!...

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