Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.

Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Reflexões matutinas…

Hoje de manhã (mas não muito cedo) estava a fazer a barba e enquanto me olhava ao espelho - com todo o cuidado para não me cortar - dei comigo a pensar na “porca” da vida.
E pensava: desde há uns meses que acordo dorido dos diferentes músculos do corpo (diz a Amélia que essas dores são provocadas pela Sinvastatina que ando a tomar para baixar os valores do colesterol) e angustiado com este mal-estar causado por otites permanentes aqui neste ouvido esquerdo que também tem a membrana do tímpano perfurada. Enfim… chateado com a vida e ainda por cima agastado com este meu mau feitio que frequentemente me provoca insónias. 
E continuei a pensar: como se muda tanto com o tempo! Hoje pensa-se duma forma e amanhã de outra. Mas, caramba, não temos que ser amorfos e neutros. Não temos que ser (ou parecer) velhos e ainda por cima parvos. Ou que, pelo menos, não o sejamos enquanto ainda conscientes.
Tudo “isto” a propósito das eleições que decorreram no último Domingo e da minha posição inicial que era a de votar em X, anulando o meu voto. Não resisti, mudei de opinião e tive de votar em consciência com os meus princípios.
Mas aquilo que mais me incomodava, hoje de manhã, ao fazer a barba, não era só isso. Era sobretudo ao pensar na opinião hipócrita e contraditória da maioria dos “nossos” políticos ao analisarem os resultados.
Os políticos dos partidos da coligação do nosso descontentamento lá vão singrando e sangrando desta derrota que interpretam quase como uma das suas conquistas.
Oh valha-me Deus! Então não perderam as eleições!?
Os políticos do Partido Socialista nomeadamente o seu Secretário-geral, António José Seguro, vêm afirmar - com toda a convicção - que os 31% de votos que o PS obteve lhes confere uma retumbante vitória.
Ao ouvir isto chego à conclusão que vou ter de reaprender Português pois pelos vistos não sei o significado de algumas palavras.
Então não foram apenas quatro pontos percentuais de diferença para esta coligação que nos tem (des)governado?
E depois temos a esquerda que está estilhaçada. Constata-se mais uma vez a sua fragmentação e, sobretudo, a queda do Bloco de Esquerda. Que me entristece. Felizmente conseguiram manter Marisa Matias, uma excelente deputada, presumo.
Gostei no entanto do resultado do PCP. Merecido, pela combatividade, pela genuinidade, pela coerência.
Quem ganhou foi a abstenção.
Isso revolta-me porque Passos e Portas conseguem (mesmo perdendo) levar a água ao seu moinho porque há muita gente que vai (ou foi) na cantiga. Isto pode ser uma visão simplista porque é um facto que o Partido Socialista não é alternativa nenhuma. Ficou demonstrado.
Olha-se para aquele António José Seguro e percebe-se porque ficamos inSeguros.

E pronto. Acabo de me barbear e de pensar furiosamente. Mas que fico a  sofrer e a remoer com o rescaldo destas tristes eleições, lá isso fico... 

terça-feira, 20 de maio de 2014

Hitler reage à venda dos Mirós


Descobri este vídeo no youtube. 
É uma bela caricatura da situação política que se vive actualmente em Portugal. Por isso resolvi "surripiá-lo" e postá-lo aqui, sobretudo porque demonstra que (apesar de se dizer que vivemos em democracia e num estado de direito) o governo age, em determinadas situações, de forma idêntica a uma ditadura. Ou, no mínimo, aplica o: "eu quero, posso e mando", independentemente do que diz a lei e a Constituição da República.
De facto, e apesar do governo português saber que cometeu uma ilegalidade ao autorizar a saída dos 85 quadros Miró sem a permissão da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), entidade competente nessa matéria, continua a querer levar em diante essa mesma ilegalidade.

sábado, 17 de maio de 2014

A idade, o tempo e a vida...

Parece-me que ainda o outro dia olhava para os meus pais sem me preocupar minimamente com a idade deles. Pareciam-me eternos. Vivia a fase em que, quando me perguntavam quantos anos tinha me apetecia sempre acrescentar um ou dois anos à idade real. Ou então, sem mentir, dizia: tenho quase 12, ou tenho quase 14 anos. E fazia-o com a facilidade de quem tinha pressa de ser adulto, convencido de que, com uma simples data, adquiria (por decreto) um estatuto superior… ou um nível acima. Que afinal me ocuparia tantos anos a subir, pensava eu.
De repente, tirei a carta de condução, tirei o meu curso, cumpri o serviço militar obrigatório, comecei a trabalhar, casei e fui pai de dois maravilhosos filhos.
Simultaneamente, passei a assumir com naturalidade, mas com mais cautela, a minha idade real… mas agora querendo fazê-la durar todo o tempo a que sentia ter direito e sem pressas.
Depois passei rapidamente por aquela idade em que ainda tinha o privilégio de olhar para cima  e ver o meu pai vivo mas a necessitar de uma atenção especial devido à sua doença e à sua idade… e para baixo, para os meus filhos que tendo já entrado na sua idade adulta não deixaram de me trazer as naturais preocupações de um pai sempre presente. Foi aquela idade em que me senti entalado e a correr entre os filhos e os pais, na ânsia de chegar e de estar para todos com a mesma intensidade.
Foi talvez a idade mais difícil para mim, aquela em que ajudamos uns a crescer e outros a morrer... 
Este balanço entre duas realidades tão opostas deveria remeter-nos para a brevidade da nossa existência e relativizar as nossas prioridades.
Sempre ouvi dizer que: “quem de novo não morre de velho não escapa”! Mas… caramba, não gosto mesmo nada de me ver a envelhecer e não aprovo nada a ideia de morrer já. Que dilema! 
Depois vem este chato do José Saramago no seu livro "As Intermitências da Morte", que tentei ler até ao fim mas, mais uma vez, não consegui. Mesmo assim ainda deu para me aperceber que ele vai divagando sobre a morte, a vida, o amor e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência. Para ele (e neste aspecto concordo) a morte é não só uma inevitabilidade da vida como irrevogável, a bem do equilíbrio. Aqui o termo irrevogável não tem nada a ver com o conceito trazido por Paulo Portas :-).

Cheguei assim a este ponto da minha idade em que passei a considerar que o ideal seria viver cada dia como se fosse o último e com a convicção de que não teremos o dia seguinte para corrigirmos o que hoje fizermos de errado. Até por que a idade (como alguém disse) é: “algo tão fugaz na vida de cada um de nós que o melhor é chamar-lhe presente e acreditar que tem a duração do instante que passa…”

terça-feira, 13 de maio de 2014

A balança que falava…

Nota introdutória: 
Hoje reproduzo aqui uma velha estória que me foi narrada no início da década de 70 pelo meu primo Alexandre, filho do meu Tio/Avô Marcelino, que veio, ainda na sua juventude, viver e trabalhar para a cidade do Porto.

Ele contou-me que havia uma Farmácia - a Farmácia Estácio - que ficava mesmo ao lado do 
Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e que era famosa, naquela época, sobretudo por ter uma balança que falava e que, rapidamente, se tornou um ex-libris da baixa portuense, chegando mesmo a formar-se filas de pessoas à sua porta.
Dizia-me ele com todo o entusiasmo: “Ainda me recordo da primeira vez em que me fui lá pesar! Foi um momento fantástico… depois de esperar a minha vez na fila, subi para a sua base redonda, o ponteiro movimentou-se no mostrador apontando para o meu peso e, ao mesmo tempo, uma voz metálica saiu da balança, informando: Vossa Excelência pesa 64 quilos e 700 gramas"!...
E continuou: “Tu imaginas lá!!!… naquela altura... deixa cá ver... decorria o Mundial em que o Eusébio marcou 4 dos cinco golos à Coreia, pois... foi em 1966 e, naturalmente, ainda não estávamos habituados a estas novas tecnologias e muito pouca gente sabia explicar este fenómeno! Pessoalmente, só percebi a “coisa” mais tarde quando o Porfírio, que fazia a manutenção da balança falante, me explicou o seu funcionamento. A balança, colocada na entrada da farmácia, nunca mudava de lugar. Nem podia!... Estava presa ao chão por parafusos. E na cave, precisamente por baixo da balança, havia um balcão de madeira sobre o qual se encontrava outro mostrador ligado por um veio ao tecto... precisamente à base (ou prato) da balança que estava na loja! Esse balcão era o local de trabalho da Srª Hermínia, a funcionária que empacotava comprimidos e rotulava xaropes, enquanto esperava que um cliente se fosse pesar. Quando tal sucedia, o mostrador da cave apontava o mesmo peso que o cliente comprovava visualmente, ao mesmo tempo que acendia uma lâmpada vermelha, chamando a atenção da funcionária. Esta, tinha um microfone e um botão para o ligar ao mesmo tempo que dizia o peso que via no mostrador que tinha à sua frente, e que o cliente ouvia na saída do som por detrás do painel do ponteiro!
O meu primo concluiu, deixando-me um pequeno aviso: “Quando fores lá experimentar e se a balança te parecer avariada... se, por exemplo, te mostrar o peso, mas não falar, não te preocupes. Isso acontece normalmente quando a funcionária da cave foi fazer as suas necessidades fisiológicas... fazer xixi… ou...  eh eh eh eh!!!”   

Nota final: 
Em 1975, um incêndio de grandes proporções na Rua Sá da Bandeira, atingiu a Farmácia Estácio e destruiu grande parte do seu interior, incluindo a célebre balança. 

sábado, 3 de maio de 2014

A mula Berta...

Era uma mula velha e mansa, com umas enormes pestanas, que o meu avô Alfredo se lembrou de baptizar de “Berta”. Era o resultado de um cruzamento (portanto filha) de um jumento do meu tio/avô Marcelino e da égua do Senhor Simplício.
Desde as minhas primeiras lembranças da minha infância a Berta esteve sempre presente. Recordo os dias em que acompanhava o meu avô que a levava ao lameiro nos “Cerejais” lá longe na aldeia onde nasci, em Pinhal do Douro.
Num belo dia do verão de 1959, ainda não tinha completado seis anos de vida, atrevi-me a ir, sozinho visitar a Berta a esse lameiro. Interrompi a sua refeição, peguei nas rédeas e encostei-a a um muro de pedras soltas mais ou menos da sua altura e, qual cavaleiro experimentado, saltei para o seu dorso de pelo liso, suave e brilhante. Quando bati com os meus pés no sua barriga larga e escorregadia ela acelerou de repente o seu passo de forma tão surpreendente que, quando dei por mim, estava no chão a rebolar na erva macia mas que não impediu que eu me sentisse durante alguns momentos com uma grande falta de ar.
Este episódio aparentemente negativo não impediu novas e excitantes experiências deste género. Pelo contrário, serviu-me de motivação e deu-me um sentido de superação que passou a fazer parte das nossas tardes, talvez durante três semanas, não mais. E quando digo nós, englobo também os meus primos. O Toninho, filho da minha segunda prima Adozinda, que montava o macho da família que levava para um lameiro limítrofe ao nosso lá nos cerejais. E também o meu primo Acácio que levava um cavalo já idoso, mas muito grande e elegante, que era da sua avó.  Mas três semanas, naquela altura, naquela idade, naquele verão, era imenso tempo.
Um dia, no balanço diário que normalmente se fazia ao jantar lá em casa, acabei por referir, embora meio excitado por me atrever a contá-lo, que: “dei uma queda da Berta, nos Cerejais”. Tive receio de que o meu avô me viesse a proibir de voltar a montar a Berta. Mas ele sorriu, achou graça à minha imaginação e coragem e incentivou-me a voltar a fazê-lo com a condição de que até ao fim desse verão seria eu a levar a Berta para o lameiro. 
Tornou-se assim habitual ao jantar toda a família perguntar-me: “e a Berta, hoje que tal se portou?”, e eu lá ia contando os últimos episódios. E depois eles entreolhavam-se, sorrindo. E lá fui desembrulhando a história, todos os dias um pouco. E todos os dias eles ficavam a saber um pouco mais da mula Berta. Sabiam que nas corridas com o macho montado pelo Toninho e com o cavalo montado pelo Acácio, a Berta não gostava nada de perder e para não ficar atrás levava-me a velocidades que me pareciam supersónicas por caminhos de terra batida até à Fonte de Baixo que era por nós considerada a meta final.
Naquele verão, todas as tardes lá íamos buscar a mula Berta, o macho e o cavalo dos meus primos, e com eles passávamos aquelas horas que se estendiam até à hora da ceia. 
A Berta seguia-me, já naturalmente, dando as mesmas voltas, ficando-se quieta e tranquila quando nós nos sentávamos em algum dos muros do caminho, seguindo as nossas brincadeiras com os seus olhos e pestanas enormes, e por ali ficava no ócio connosco, com aquele olhar meigo, tendo-nos como companheiros. 
Depois vinha a noite, e por obrigação lá a ia deixar na loja, já com saudades, inquieto pelo dia seguinte.
Uma noite viram-me tristonho, e já na sobremesa questionaram-me. “Foi a Berta dizia-lhes, já lá não está. Tenho medo que tenha morrido”. E eles entreolharam-se, inquietos e um deles disse-me: “deixa estar, olha porque não passas a brincar com o Farrusco (que era o cão de caça do meu avô) vais ver que é um belo bicho”. Nunca mais voltei a ver a Berta, aquela mula velha e meiga, e as conversas ao serão acabaram por deixar de a trazer e eu de perguntar por ela pois fiquei magoado quando soube que o meu avô a tinha vendido a um cigano que vivia no Vilarinho da Castanheira.

Ainda hoje me lembro dos seus olhos tristonhos, aquelas pestanas enormes, a mansidão com que me matava as horas da tarde. E ouvia os meus pais contarem aos amigos, ou aos meus tios, do entusiasmo com que eu durante dias a fio, trouxe a Berta para as conversas do jantar. 

Nunca os contradisse, nem mesmo em adulto. Afinal, que importância teria?

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Donos de Portugal

Donos de Portugal é um pequeno vídeo baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luís Fazenda, Francisco Louça e Fernando Rosas, editado em 2011 pela Afrontamento. 
O filme retrata a protecção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza.
Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. 
Os novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base.