Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.

Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Porto Sentido

 Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
Vê um velho casario
Que se estende até ao mar
Quem te vê ao vir da ponte
És cascata, são-joanina
Erigida sobre o monte
No meio da neblina.
Por ruelas e calçadas
Da Ribeira até à Foz
Por pedras sujas e gastas
E lampiões tristes e sós.
E esse teu ar grave e sério
Dum rosto e cantaria
Que nos oculta o mistério
Dessa luz bela e sombria
Ver-te assim abandonada
Nesse timbre pardacento
Nesse teu jeito fechado
De quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez
Em cada regresso a casa
Rever-te nessa altivez
De milhafre ferido na asa
Porto Sentido, Rui Veloso

domingo, 29 de setembro de 2013

O poder do beijo

Vinha pela estrada uma caravana de motociclistas fortes, bigodudos, nas suas poderosas motos, quando de repente vêem uma garota a ponto de saltar de uma ponte num rio. 
Eles param e o líder, particularmente corpulento e de aspecto rude, salta, dirige-se à miúda e pergunta:
- Que diabo está a fazer??
- Vou suicidar-me! Responde suavemente a delicada garota com a voz cadenciada e ameaçando pular.
 
O motociclista pensa por alguns segundos e finalmente diz:
- Bom, antes de saltar, por que não me dá um beijo?
 
Ela acena com a cabeça, bota de lado os cabelos compridos encaracolados e dá um beijo longo e apaixonado na boca do motociclista.
 
Depois desta intensa experiência, a gangue de motoqueiros aplaude, o líder recupera o fôlego, alisa a barba e admite:
- Este foi o melhor beijo que me deram na vida. É um talento que se perderá no caso de você se suicidar. Por que quer morrer?
- Meus pais não gostam que eu me vista de mulher!!! 

(não me lembro se o caso terminou classificado como homicídio ou suicídio)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Chegou o outono...

E porque o outono, estação associada à queda das folhas e a castanhas assadas, regressou há 4 dias atrás, mais precisamente no dia 22 deste mês, às 21h44, nada melhor do que comemorar esta bela estação do ano, recordando o nosso grande poeta, Fernando Pessoa.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Melodias...

Música para relaxar...
Deixemos que ela entre como um bálsamo  e veremos como nos transmite tranquilidade, serenidade e a paz. 
Condições necessárias e essenciais para encararmos, com coragem, os tempos difíceis que atravessamos e que foram provocados por políticos corruptos, malabaristas e aldrabões que nos (des)governam e desgovernaram.


E amanhã, 25 de Setembro, lá estarei  como aposentado da função pública, no Rossio, em Lisboa, numa jornada nacional de protesto contra os cortes nas pensões, dando a cara e lutando contra o embuste da convergência das pensões que este governo nos quer impor, escondendo que em muitas áreas do sector privado são pagas pensões mais elevadas (banca, seguros, telecomunicações, transportes aéreos, etc).

sábado, 21 de setembro de 2013

Palavras para quê?


“O presidente do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, sustentou, hoje à noite, dia 21 de Setembro de 2013, que cortes nas pensões são decisivas para evitar segundo resgate…”

Confrontado com este discurso arrasador, tão "verdadeiro" e "coerente", só me apetece citar Mario Quintana, quando disse:
"Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho,
eles passarão,
eu passarinho!"

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXXIII)

Zeferino empreendeu esta caminhada na certeza de que iria chegar a bom porto, munido do propósito firme de fazer a viagem sozinho e à sua conta e risco.
Pelas últimas e excelentes experiências que viveu sentia-se optimista e, assim animado, acelerou o passo para entrar na carruagem do comboio que lhe pareceu a mais vazia. Já algo cansado da pesada mochila que levava às costas encontrou um enorme e confortável banco só para si, onde se acomodou e sentiu que poderia descansar.
Ficou então imerso nos seus pensamentos e num estado de alma ambíguo e impreciso que não conseguiria descrever ou exprimir por palavras. Por um lado sentia-se triste por estar a chegar ao fim da caminhada e por outro sentia uma enorme e exultante alegria por tudo o que tinha acabado de viver.
Ora sentado, ora deitado no banco comprido com a cabeça pousada na mochila, ora levantando-se para desentorpecer as pernas, ia consumindo os quilómetros e a distância do caminho que lhe faltava percorrer.
Viajava praticamente sozinho na carruagem e, tendo encontrado um jornal espanhol abandonado num dos bancos, entreteve-se a ler as notícias que mais lhe prenderam a atenção, ao mesmo tempo que praticava a sua leitura em língua espanhola.
Ficou por exemplo a saber que Julio Iglésias se havia casado no dia 20 de Janeiro desse mesmo ano, em Toledo (Espanha), com Isabel Preysler Arrastria, que tinham passado a lua-de-mel nas Canárias e... que iria participar no Festival da Eurovisão com a canção Gwendolyne.
Leu ainda que o Grande Prémio de Fórmula 1 se havia disputado no circuito urbano de Montjuich, em Barcelona,  3 dias antes, a 18 de Abril de 1971. O vencedor tinha sido Jackie Stewart no seu Tyrrell. 
Na Guerra da Independência do Bangladesh, lutava-se ferozmente e diariamente eram violadas dezenas e dezenas de mulheres.
Depois de ler, deitou-se mais uma vez ao comprido no banco e o seu pensamento viajou mais rápido do que o comboio e... estacionou em Vila Flor. 
Mal aí chegou, ficou ainda mais triste. Descodificar as causas dessa tristeza era entrar nos obscuros labirintos duma análise tão real quanto inverosímil do mundo que aí o rodeava. Uma enorme indignação o invadiu de tal modo que nenhuma revolta o podia apaziguar… 
Considerava-se um rapaz pacato e globalmente bem comportado. Por isso não compreendia, nem aceitava, as alegadas razões pelas quais tinha sido castigado tão duramente (três dias de suspensão das actividades lectivas) pelo Director do Externato de Santa Luzia de Vila Flor que frequentava.  
O incidente tinha acontecido na tarde do sábado que antecedeu o final do 2º período desse ano lectivo. A música de um gira-discos animava os cinco ou seis pares que dançavam na sede do Vila Flor Spor Clube. O seu par tinha ido embora momentos antes com receio de que o pai descobrisse onde ela estava e o que andava a fazer. Encontrava-se, naquele momento, no passeio junto da porta de entrada da Sede quando, de repente, viu passar na rua que subia uma bela rapariga de largas ancas e fartos peitos, com andar decidido e mais velha aí uns quatro ou cinco anos do que ele. Não resistiu a mandar-lhe uns piropos. Sem a ofender, antes pelo contrário, para a galantear disse-lhe qualquer coisa como isto: - tens uma avançada melhor do que a do Benfica! És muito jeitosa! Queres vir dançar comigo?
Ela olhou para Zeferino e respondeu: - És um malandreco! Pensas que não te conheço? Pensas que engatas as raparigas todas? Vou já dizer ao Senhor Padre!
Ele não sabia mas o Lelo Pinto, que estava a seu lado, logo o avisou que aquela rapariga era a empregada doméstica do padre Cassiano Dimas Fais, que era também o Director do Externato.
- Mau, mau, então estou feito! Pensou Zeferino.
Nessa mesma noite por volta da hora do jantar, apareceu em casa dos seus pais uma patrulha da GNR(!) acompanhada pelo sacristão(!) dizendo ao pai de Zeferino para irem, sem demoras, a casa do padre.
Pelo caminho Zeferino disse a seu pai que sabia a razão pela qual lá iam. E contou-lhe o incidente dessa tarde em que eu tinha mandado uns piropos à criada do padre. 
Logo que entraram para o escritório do Padre este mandou sentar o seu pai numa cadeira que ficava ao seu lado direito, mas num plano inferior ao seu.
A Zeferino mandou-o ficar de pé e sem grandes rodeios, virando-se directamente para o seu pai, sentenciou:
-Pois aqui o seu filho tratou mal a minha criada que é para mim como da família! Deve educar melhor os seus filhos!
Depois, virando-se para Zeferino: Vais ter que lhe pedir desculpa!
- Eu!? Porquê? Que lhe fiz? - respondeu o assarapantado Zeferino
- Então não te meteste com ela dizendo que era "boa como o milho"?
- Não foi bem esse isso... não utilizei esses termos nem essa expressão. Mas era minha intenção gabá-la, elogiá-la e convidá-la para dançar.
- Com a minha criada ninguém se mete! Ouviste?
- Mas… se eu soubesse que era sua criada, mesmo sem a ter ofendido, nada lhe teria dito!
- Não quero saber! Vamos … pede-lhe desculpa! Já!!! Apontando o dedo indicador para a empregada, que entretanto também tinha entrado, ao mesmo tempo que o olhava de lado.
Zeferino olhou para a rapariga, que tinha visto pela primeira vez nessa mesma tarde, e perguntou-lhe- Eu ofendi-te? Fiz-te algum mal? Prejudiquei-te? Diz a verdade!
Ela olhou para o padre, baixou de novo os seus grandes, lindos e tristes olhos para o chão e... não respondeu.
Mas o padre não desistiu insistindo: - Tens que lhe pedir desculpa! Vamos, pede!
Zeferino, a tremer de revolta, virou-se para seu pai e suplicou: - Pai, vamos embora daqui - nós não merecemos esta humilhação!
- Filho, pede desculpa e vamos embora! Respondeu ele.
- Mas, porquê? Porquê?
- Anda lá, não custa nada!
- Mas, pai! Só lhe quis dizer que era muito bonita! Que simpatizava com ela. Não tenho que pedir desculpa por isso.
- Bom, como não tenho a noite toda para aturar a tua teimosia e má educação, sai já daqui! Imediatamente! Vai para a rua e espera lá pelo teu pai enquanto decido quantos dias vais ficar de castigo.
- Mas isso é uma injustiça! Eu tenho que ir às aulas! O meu pai paga as propinas para eu frequentar aquele colégio e o que aconteceu nada se relaciona com os meus estudos. Não tem o direito de aplicar esse castigo. Respondeu furioso Zeferino, saindo sem olhar para trás, e espumando de raiva e de revolta. Foi directamente para casa e contou a sua mãe o que se tinha passado. Esta respondeu-lhe que deveria ter pedido desculpa pois o padre ainda podia vir a prejudicar seu pai.
Passados alguns minutos lá chegou o pai, de chapéu na mão, com a sentença do Padre: três dias de suspensão das actividades lectivas!
- O quê? O que tem a ver a criada do padre com os meus estudos?
- Deixa lá filho não digas nada. Ele pode fazer com que eu perca o emprego.

Foi assim, a pensar no castigo que cumpria precisamente nessa primeira semana do terceiro período, que Zeferino adormeceu...
(continua...)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Antes e depois das eleições...

ANTES DA ELEIÇÃO:
O nosso partido cumpre o que promete
só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção
porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais
para alcançar os nossos ideais
mostraremos que é uma grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre
asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo da nossa acção
apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política
quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas
não permitiremos de nenhum modo que
as nossas crianças morram de fome
cumpriremos os nossos propósitos mesmo que
os recursos económicos do país se esgotem
exerceremos o poder até que
compreendam que
somos a nova política


DEPOIS DA POSSE:
Basta ler o mesmo texto acima, DE BAIXO PARA CIMA

Nota: Este texto é de um autor qualquer desconhecido, mas... muito esclarecido!!! 
          :-)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXXII)

Ao atravessar a porta de entrada da estação de caminhos-de-ferro de Irun, Zeferino, caminhava lentamente, pelo peso da enorme mochila que levava às costas e também porque se encontrava toda encharcada de água que lhe escorria pela coluna abaixo. 
O desconforto, para além de físico, era sobretudo moral e psicológico. 
Sentia, de facto, um enorme desconsolo pela sensação de que a viagem entrava já no seu declínio e que aquela sugestão de aventura e de magia do desconhecido da viagem imaginada toda ela à boleia até Vila Flor se desvanecia à medida que entrava naquele enorme hangar. Por outro lado, sentia-se algo frustrado porque não gostava de ver os seus planos assim alterados por factores externos à sua vontade. Ele gostava de planear. Dava-lhe gozo aquele trabalho de cálculo mental que o levava a julgar e a ponderar as hipóteses... de ver e rever possíveis ou prováveis soluções... fazia parte da sua personalidade “arrumadinha” e “desarrumadinha” ao mesmo tempo. Ele era assim mesmo... um falso desorganizado ou um organizado pontualmente desarrumado. 
Essa chuva persistente tinha estragado toda a sua estratégia todavia proporcionara-lhe aqueles momentos deliciosos... 
Esperanza acompanhava-o e tinha sido a seu conselho que decidira fazer de comboio uma grande parte do resto da viagem.
- É impossível, com estas condições climatéricas, meteres-te na estrada à boleia. Vais de comboio e eu pago-te a viagem até Portugal. Dissera-lhe ela ao entrarem em Irun. 
- Nem penses nisso! Quero fazer a viagem à boleia pela aventura em si e não propriamente por questões de ordem financeira. Respondeu-lhe de imediato Zeferino, que pensou ainda para si mesmo que só o facto de a ter conhecido e de ter vivido tudo aquilo que com ela viveu já justificava plenamente a opção tomada. 
- Sim, sim, então não pago mas... vais na mesma de comboio. Insistiu ela, convencendo-o de vez.
Ao despedir-se de Zeferino, ao mesmo tempo que lhe metia uma caixa de preservativos no bolso (ele tinha-lhe confessado que nunca os havia utilizado anteriormente), deu-lhe um abraço bem forte enquanto lhe sussurrava ao ouvido: - Aqui está uma coisa que eu nunca dou aos meus clientes: um abraço de despedida. Quando algum deles me quer abraçar eu respondo-lhe que os abraços dão-se quando existe amizade, ternura ou amor.
Depois desprendeu-se lentamente, virou-se e partiu...

Zeferino ficou a vê-la afastar-se, a contornar as pessoas que iam e vinham dentro do enorme hall de entrada da estação e, lentamente, a diluir-se no horizonte. Para sempre.

Depois de ter adquirido o bilhete sentou-se num banco corrido de madeira da enorme sala de espera da estação enquanto aguardava pela hora de partida do comboio que o haveria de levar até Barca d´Alva. Puxou então pelo seu bloco de notas, que era uma espécie de diário, e escreveu: 
- Que dia, meu Deus!... ainda estou completamente inebriado... desfrutei hoje, dia 21 de Abril de 1971, de uma das mais extraordinárias e deslumbrantes experiências da minha vida (…) tudo aconteceu de forma inesperada e onde contava encontrar frieza, recebi ternura; (...) imaginei alguma fraqueza, pela minha inexperiência face a uma profissional, e encontrei inspiração e ardor; (...) estava à espera de indiferença e senti um enorme e empolgante entusiasmo partilhado; (...) aquilo que em princípio era para mim apenas uma relação fortuita  ou um desvario, foi, no meu corpo e na minha mente, uma revelação agradável de uma faceta desconhecida da minha natureza… enfim, o que em princípio deveria ter sido apenas um divertimento acidental e imprevisto foi, sem qualquer dúvida, um esplêndido encontro que me irá marcar indelevelmente e do qual nunca me irei esquecer…
(continua...)