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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Conto: Neto de um emigrante em Paris! (XXXI)

Depois de agradecer ao senhor que lhe tinha dado boleia e de lhe dizer, enquanto retirava a mochila do carro, que tinha apanhado uma outra boleia que o levaria mesmo até à fronteira espanhola, foi com uma sensação de alívio que Zeferino entrou no Renault 8 Gordini de cor azul berrante, com ar condicionado, estofos de couro e descapotável. Teve pena de não poder usufruir desta última característica devido à chuva intensa e persistente que os acompanhou durante toda a viagem.
Da longa conversa que se estabeleceu entre eles e que decorreu sempre num ambiente calmo e tranquilo, ao mesmo tempo que ouviam belíssima música reproduzida pelo leitor de cassetes, Zeferino reteve sobretudo quando ela lhe disse com a maior das naturalidades: "trabajo sólo por la noche" ou -"mis clientes son hombres con dinero que pagan por tener mi afecto".
Quando ela se apercebeu do estado de estupefacção com que Zeferino ficou, foi com um tom condescendente que lhe referiu: - “Está à vontade menino! Não estou a trabalhar e mesmo que estivesse nunca te aceitaria como cliente, apesar de até seres bem giro, mas… és ainda um adolescente e eu só atendo adultos e… com muito dinheiro!”.  
Eu já sou um adulto… faço 18 anos no próximo mês de Setembro! Mas… muito dinheiro de facto não tenho e mesmo que tivesse também não era desse modo que o iria gastar! Retorquiu, com convicção, Zeferino.
Ela respondeu-lhe com um sorriso lindo que realçava os seus dentes brancos e perfeitos atrás dos seus lábios bem definidos e pintados de vermelho vivo.
- Pero, seguro que no! Tu não precisas deste tipo de serviços e penso até que nunca virás a precisar… normalmente são homens na meia-idade ou até velhotes que nos procuram e, por incrível que pareça, fazem-no mais para poderem ter uma companhia, alguém que os ouça e a quem possam expor os seus segredos, as suas fantasias e insanidades saudavelmente loucas… enfim coisas que não podem dizer e fazer com as esposas e é a nós que vêm "abrir mão" dos seus pudores verbais e revelar o seu íntimo mais profundo… fazemos muitas vezes de terapeutas emocionais, comportamentais e, às vezes, sexuais... julgo que levamos a psicologia e a psiquiatria do campo teórico à prática. Em muitos casos isso resulta, podes crer.

A viagem continuou assim dentro deste registo e num ambiente extremamente delicioso para Zeferino. No interior do carro a música continuava agradável e o perfume, com cheiro a rosas, que dela emanava, deixava-o profundamente inebriado até que, depois de atravessarem Bayonne  e já perto de Biarritz, num ponto mais elevado da estrada e que podia ser ou servir de miradouro, ela encostou o carro para fumar tranquilamente um cigarro.

Lá fora a luz do dia desvanecia-se até porque continuava a chover torrencialmente. Uma sensação de bem-estar apoderou-se deles parecendo que a chuva lá fora apelava para o aconchego do interior do carro.
Em frente entendia-se um prado enorme, verde e vedado onde assistiram, sem querer, aos jogos de sedução de uma égua e do crescente entusiasmo de um cavalo, perfeitamente visível aos olhos dos dois “mirones”.
Para quebrar aquele encantamento, e por que ainda não sabiam o nome um do outro, ela disse-lhe: Podes chamar-me de Esperanza e tu como te chamas?
- Eu sou o Zeferino!
Mas… continuaram a apreciar a cena não despregando os olhares de tudo o que decorria no relvado. Até que o cavalo passou em definitivo à acção e consumava o acto com elegância e muito vigor.
Esperanza, percebendo a crescente concentração de Zeferino na visível excitação daqueles dois animais, disse-lhe, com uma pequena gargalhada: - Parece que também te estás a excitar!...
- Para falar a verdade, não te enganas, Esperanza... – Respondeu ele meio a sério meio a brincar, lançando-lhe um olhar provocador.
A Esperanza atiçou-o ainda mais, dizendo-lhe, desta vez em voz baixa e doce: - Só depende da tua vontade Zeferino! Uma palavra tua e far-te-ei a vontade com todo o prazer.
Um ciclone de pensamentos veio à mente de Zeferino. Até que se encheu de coragem e disse-lhe: - Oh Esperanza, não me provoques! Ainda há pouco tempo disseste que eu era um adolescente e comigo nunca irias...
- Eu disse-te que nunca te aceitaria como cliente… neste momento não estou a trabalhar e… sou apenas mulher… carente… e com vontade de conhecer alguém assim jovem e bonito como tu!
- Tu já percebeste qual é a minha vontade. Diz-me quando e onde!
Responde-lhe a Esperanza: - Onde? Bem, o sítio pode ser este mesmo, que é o mais adequado. Quanto ao "quando", pode ser já!

A chuva que caía no tejadilho de lona do carro nunca lhe parecera tão acolhedora… 
(continua...)

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