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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Desabafo (ou delírio?) de um caminhante solitário!

Percorro, correndo ao meu ritmo, o espaço de passadiço entre a Aguda e Espinho duas ou três vezes por semana. As minhas pernas que, no total, perfazem cerca de 120 anos, já o fazem sem que lhes indique o caminho. 
Andam por si mesmas. São simples pontos de contacto entre o chão e o mundo inquieto que normalmente me preenche o interior, perdido para lá do olhar que se desvanece entre os últimos raios da luz do sol e a vermelhidão que vai surgindo lá na linha do horizonte com que os meus olhos se fundem na noite que nasce.

Correndo lentamente e sem ouvir os passos que calcam as travessas do passadiço, contorno a contracurva por entre o canavial que antecede a piscina da Granja e “atravesso” o edifício restaurante que de repente me esconde o céu, reinventando e antecipando a noite nessa estreita e apertada passagem.
Dentro de mim bate-me o zunir dos talheres, abafando qualquer som de passos que as paredes pudessem devolver.

Passo pelo que é agora um parque de estacionamento mas que já foi um campo de ténis e recordo, de forma mecânica, os tempos em que aí jogava com amigos que partiram sabe-se lá para onde (não é Mário?); rodo para a direita e de novo surgem o mar, o areal, o céu, as nuvens e as gaivotas.
Neste ponto plano procuro, compulsivamente, não calcar a linha contínua e serpenteante desenhada a branco  no chão de asfalto cor de tijolo e... aproveito para fazer uma curta introspecção: "ontem passei aqui mais cedo, o sol ainda estava alto e tinha os olhos tão semicerrados pela intensidade do luz e pelo branco da areia que me doíam todos os músculos do rosto pelo esforço feito ao confiná-los a uma linha atrás da qual podia observar o azul das águas do mar e escuridão profunda desse apelo determinante do meu ser". 

Continuo a correr e o peito aspira os intensos aromas trazidos pelo vento; ora com a frescura do mar a desfazer-se a toda a hora em espumas, ora vindo da cozinha das esplanadas de praia com os seus cheiros a pão torrado e a salsichas grelhadas.

De repente surgem as dúvidas. Não sei bem quem sou nem onde estou. Para dizer a verdade, não faço sequer qualquer ideia pois desde que dei por mim aqui a correr, qual atleta de maratona, ao lado deste areal e debaixo deste céu ora coberto de nuvens que correm a esconder o sol, ora coberto de riscos traçados pelos aviões que vão e vêm de Pedras Rubras, também descobri que me perdi de mim talvez no meu interior ou por ai algures, neste tempo e neste espaço...


À entrada de Espinho "tirei" esta fotografia!
 

No regresso e já perto da Aguda tirei esta!

8 comentários:

  1. Mas vale a pena insistir.
    No fim do caminho sempre havia mais luz...

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    1. É verdade que no fim destas corridas solitárias encontro normalmente a “luz” que tem iluminado o meu caminho… e não vem do sol, não saí do mar, nem cai do céu mas sai, calma e tranquila, de um ginásio… :-)

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  2. Que lindo! Estás (com um pouco de + contraste)estás um verdadeiro artista na Arte de bem Fotografar "todavia".
    Tu não "tiraste esta Fotografia", tu, fizeste estas belas FOTOGRAFIAS. Tirar, tiram-se RETRATOS.
    1 grande abraço
    Manuel Freire

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  3. Amigo Vilares! Sabes que os nossos velhotes costumam dizer: "Aprender até morrer!". O Sócrates (o filósofo grego) dizia: "só sei que nada sei!". E eu digo: Obrigado amigo por me ensinares mais um pouco do muito que me ensinaste em tempos que já lá vão!
    De qualquer modo tive o cuidado, por insegurança nesta matéria, de colocar as aspas no tirei...
    Obrigado por ires espreitando os meus desabafos neste blogue.
    Um abraço amigo

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  4. Amigo Bernardino. Como és muito generoso no que diz respeito ao teu amigo Vilares, permite-me que seja, como sempre, mais uma vez, muito sincero contigo. Agora, nesta idade "linda", concluí que nunca ensinei nada a ninguém. Apenas coloquei e coloco à disposição de quem comigo partilhava e partilha, a minha experiência e alguns saberes acumulados. Obrigado amigo.

    Agora o teu blogue para além da qualidade, é teu. E sendo teu faz parte da nostalgia da amizade passada, presente e futura. Podes crer.

    Manuel freire

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    1. Amigo Vilares!
      Se concluíste que nunca ensinaste nada a ninguém estás profundamente enganado. Estás também a ser modesto demais e injusto contigo. Não imaginas o quanto aprendi contigo no ano lectivo de 1979/1980. A sério, para mim eram aulas de pedagogia pura as viagens que juntos fazíamos, no meu “bolinhas” e/ou (mais vezes) na tua Citroen Dyane, de Vila Flor para Carrazeda de Ansiães. Também aprendi muito nos anos seguintes, quando eras o Presidente do Conselho Directivo da EB 2/3 de Vila Flor e eu um modesto professor provisório do 11º B grupo. Belos tempos dos quais guardo gratas recordações.
      Uma grande abraço

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  5. Ricardo Silva Tavares11 de janeiro de 2013 às 21:23

    Como já lhe disse num outro comentário sou de Macedo e vivo no Canadá e hoje venho aqui dizer-lhe que aqui em casa todos gostamos do seu blog. Já percebo melhor todo o respeito que demonstra ter pelos emigrantes porque sigo o conto O Neto de um Emigrante em Paris e também quero agradecer-lhe pelas fotografias e vídeos que mostram terras e locais interessantes do meu querido Portugal onde já não vou há muitos anos. Também admiro a forma como consegue lidar tão bem com os seus amigos que são portistas doentes e que o obrigaram a ir a uma casa do FCP no Porto, segundo li na reportagem que um deles fez aí no seu blog. Eu não conseguia isso pois também sou doente pelo Benfica e só espero que no Domingo os derrotemos de uma vez por todas.
    Obrigado pelos momentos que me proporciona aqui e não desista.
    R. Tavares

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    1. Obrigado amigo! As suas palavras são um estímulo e... dão-me motivação e vontade de continuar a minha actividade neste blogue.
      Felicidades para si e para a sua família.
      Viva o SLB!!!

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