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sábado, 8 de dezembro de 2012

Conto: O neto de um emigrante em Paris! (IV)

Até que... já perto da cidade de Bayonne, procurando demonstrar alguma descontracção, ele a questionou, simpaticamente, mas de forma atabalhoada na inocência dos seus 17 anos: - Sinto que não estás bem... pareces triste … li no teu olhar e no teu semblante pensativo que vais preocupada com algo que te deixa triste. Queres contar-me o que se passa? Queres desabafar? Ou preferes que me afaste?
Ela, primeiro, olhou-o algo surpreendida... mas não muito. Depois, com uma firmeza e uma auto confiança que o deixou maravilhado, respondeu: -Traté de entender, pero no sé sabe hablar portugués, lo sient
- "Isto" é Espanhol!? Interrogou-se ele, pois estava habituado à língua espanhola falada junto da fronteira com Portugal, nomeadamente na Galiza, que entendia com relativa facilidade. Mas já mais confiante propôs de imediato: -Falemos então numa língua que possamos entender os dois
- Pues bien, ale para el español, hablo Inglés y Francés, retorquiu ela
- Ele, tentando falar calma e lentamente em Castelhano (mas que lhe saiu numa espécie de Portunhol) respondeu-lhe: -Chamo-me Zeferino, tenho 17 anos (faço 18 já em Setembro) e tu?
- Eu sou a Emeralda, espanhola de 18 anos, feitos agora em Março, mas... acho que é melhor falarmos em Francês, retorquiu ela sorrindo.

E pronto! Desde esse momento mágico partiram para um diálogo calmo e tranquilo, versando os mais variados assuntos. 
Emeralda, apesar de parecer frágil e de ser muito feminina nos seus gestos e na forma de se vestir e falar, demonstrou ser também muito culta, ter uma forte personalidade e uma maturidade intelectual superior à média para a idade. Tudo isso cativou Zeferino. Falaram em espanhol, francês e até algumas "coisitas" em inglês, procurando ser sinceros e fugindo a gestos subtis ou a palavras mais dúbias, para não serem mal interpretados.

Quando chegaram à estação de Bayonne, no Sudoeste de França, já noite escura, lá fora a Lua vislumbrava-se bem definida no horizonte. No exterior não se podia mais ver a paisagem, somente luzes acesas que se reflectiam nas águas do Rio L`Adour. Tinham parado de falar uns minutos antes enquanto atravessavam o rio pela ponte do caminho de ferro e apreciavam as luzes da Cathedrale Saint-Marie de Bayonne que se viam lá ao longe e à esquerda e o movimento dos automóveis que atravessavam, do lado direito, a Pont Saint-Frédéric. 
Tudo isto sob o patrocínio e a inspiração do brilho da Lua. Lindo, nostálgico mas que deu um toque de romantismo.
Enquanto se deu a paragem nesta estação, levantaram-se e percorreram toda  a carruagem que era daquelas com um corredor lateral e compartimentos de dois bancos corridos transversais ao deslocamento do comboio e com porta deslizante para isolamento, até chegarem ao pequeno bar, onde tomaram as bebidas que cada um pediu. Emeralda preferiu café com leite. Zeferino tomou um café simples. Regressaram e sentaram-se nos seus lugares mas... coladinhos um ao outro, revelando uma intimidade própria de quem já se conhece há muito tempo. 

Através da noite o comboio entretanto acelerava. Dentro da noite os seus olhos procuravam dormir e esquecer essa paixão que se sentava ao lado. Zeferino sentia o corpo de Emeralda a tocar-lhe. Sentia todo o seu perfume no ar, em silêncio procuravam-se telepaticamente. Uma paixão telepática certamente acontecia entre eles, não pronunciavam palavras, no entanto trocavam energia e olhares.
A noite avançava e eles continuavam a encontrar-se um ao outro, intensamente, dentro da noite. 

Por um instante ele adormeceu e sonhou...
(continua...)

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