Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.

Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Retiro (II)

Neste meu retiro intencional (temporário ou definitivo (?) já não sei, ou ainda não sei) o tempo não corre, eu corro por ele, gastando-me depressa no seu lento vagar.
Sei, isso sim, que, neste tempo e aqui no meu espaço, as minhas preocupações político-sociais, que sempre tive, aumentaram exponencialmente.
Ainda não há muito tempo, o trabalho, a carreira, a família e a saúde eram os motivos centrais das minhas preocupações. Mas, infelizmente, neste tempo em que tudo de mau acontece tão rapidamente, fica difícil não ter outro tipo preocupações e não ter ansiedades por motivos excepcionais e extraordinários, que nos transcendem completamente e nada dependem de nós, por muitos sacrifícios que façamos e nos continuem a impor.
Motivos provocados e condicionados sobretudo por maus políticos e más políticas. Também por políticos corruptos que fizeram do carreirismo político o seu modo de vida, não se lhes reconhecendo outras competências ou habilidades.
Como eu abomino o carreirismo político e odeio a hipocrisia, a mentira e o embuste perpetrado por este tipo de gente que vai passando pelo governo e se passam rapidamente para as grandes empresas que vivem à custa do capital público!!!
Como me custa ver o impacto negativo que tudo isso custa a milhões de famílias e como me destroça a impotência dos desprotegidos, a injustiça social e o desprezo pelos mais fracos!!!
Por tudo isto e apesar de ser um optimista moderado (cada vez mais “regulado” e “modelado”), não deixo de ter uma preocupação maior, cada vez maior, tendo também em conta as nossas características enquanto povo de brandos costumes: 
- Temo que, lentamente, devagarinho, sub-repticiamente se vá desenhando uma política que institua instrumentos de manipulação, tais como a instalação do medo e da censura velada que levem a uma melhor facilitação daquilo que os nossos governantes nos querem violentamente impor!

domingo, 23 de setembro de 2012

A fábula da águia e da galinha

Existem pessoas que nos querem, por vezes, fazer pensar como galinhas. E insistem, insistem e insistem até pensarmos que somos efectivamente galinhas. Porém é preciso ser águia. Abrir as asas e voar. Voar como as águias. E nunca nos contentarmos com os grãos de “milho” que nos lançam …

A ilustrar este pensamento, deixo-vos esta história que vem de um pequeno país da África Ocidental, Gana, narrada por um educador popular, James Aggrey, nos inícios do século passado, quando se davam os embates pela descolonização. 
Oxalá nos faça pensar...

"Era uma vez um camponês que foi a uma floresta próxima da sua residência apanhar um pássaro, com a finalidade de o manter em cativeiro. Conseguiu apanhar um filho pequeno de uma águia. Colocou-o no galinheiro junto das galinhas para aí poder crescer como uma delas. 
Passados cinco anos, esse homem recebeu a visita de um biólogo. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o biólogo: - Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia. 
- De facto, disse o homem: - É uma águia, mas eu criei-a como galinha, comporta-se como galinha e deixou de ser efectivamente uma águia. 
- Não, retrucou o biólogo: - Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas. 
 - Não, insistiu o camponês. Ela transformou-se em galinha e nunca mais voará como uma águia.
Então decidiram fazer uma prova. O biólogo pegou na águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse: - Já que és de facto uma águia pertences aos céus e não à terra, então abre as asas e voa!
A águia ficou sentada sobre o braço estendido do biólogo. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá em baixo a bicar os grãos de milho e pulou juntando-se a elas.
O camponês comentou: - Eu bem lhe disse, ela transformou-se em galinha!
- Não, tornou a insistir biólogo, ela é uma águia e uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o biólogo subiu com a águia para o telhado da casa e sussurrou-lhe: - Águia, já que és uma águia, abre as tuas asas e voa!
Mas, quando a águia viu lá em baixo as galinhas, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou a carga: - Eu tinha-lhe dito, ela agora é uma galinha como as outras!
- Não, respondeu firmemente o biólogo, ela é águia e possui sempre um coração de águia, vamos experimentar ainda uma última vez, amanhã farei com que ela voe.
No dia seguinte, o biólogo e o camponês levantaram-se cedinho e pegaram na águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol nascia e dourava os picos das montanhas.
O biólogo ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
- Águia, já que és uma águia, já que pertences aos céus e não à terra, abre as asas e voa!
A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou.
Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direcção do sol, para que os seus olhos pudessem encher-se de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte. Foi quando ela abriu suas potentes asas. Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto. Voou. E nunca mais regressou."

Extraído de artigo publicado pela Folha de São Paulo, por Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor de ética da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Acordo ortográfico

Recebi, recentemente, um e-mail cujo conteúdo veio mesmo de encontro às ideias que tenho sobre o acordo ortográfico e que, aliás, expressei oportunamente nas BREVES NOTAS deste blogue. 
De facto, o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa que está em vigor, desde 2009, em vários países da CPLP, é mais uma prova da imbecilidade dessa gente que governava (e governa) Portugal! 
Afinal de onde vem a origem das palavras da nossa Língua? Do Latim!!! E desta, derivam muitas outras línguas da Europa. Até no Inglês, a maior parte das palavras derivam do latim!

Senão vejamos alguns exemplos:
Conclusão: na maior parte dos casos, as consoantes mudas das palavras destas línguas europeias mantiveram-se tal como se escrevia originalmente.

Há ainda uma regra gramatical que os “iluminados” tentam escamotear da discussão. As consoantes mudas abrem as vogais que as antecedem. Exceção deverá ser lida com a vogal fechada, enquanto Excepção abre o “e” central.

Se a origem está na Velha Europa, porque é que temos de imitar os do outro lado do Atlântico?

Mais um crime na Cultura Portuguesa e, desta vez, provocada pelos nossos intelectuais da Língua de Camões.

Por tudo isto, meus amigos, não se admirem que eu continue a NÃO seguir as regras do novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa. Enquanto tiver o discernimento mental e a capacidade intelectual necessários para escrever tal como aprendi na escola, sem necessitar do corrector ortográfico (que só confunde e remete para o engano), utilizarei sempre o português de Portugal.  

Não tive a oportunidade de lutar contra este acordo ortográfico de maneira mais efectiva mas, o Português de Portugal continuará a fazer parte da minha cultura, da minha identidade e da minha vida e não vou aceitar que ninguém me obrigue a escrever de outra forma. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma aventura – os cinco no nordeste (VI)

Toni – o salvador
O jantar, conforme o plano há muito traçado, foram peixinhos do rio no Lameirinho, em Cabanas de Baixo (N 41.18544 W-7.11739), restaurante típico propriedade do sr. João de Deus Carromão, alcunhado pelo grupo de “o cigano”. Não estavam maus de todo, mas depois de um almoço no Lagar seria exigir muito pensar que ainda sobrava espaço ou vontade para nova empanturradela. Foi só cumprir a obrigação. 
Já alguém disse que Portugal é o único país onde as pessoas ao almoço já estão a pensar naquilo que vão comer ao jantar. É capaz de ser verdade.
Em frente a nós estava em amena cavaqueira um sexteto feminino, com idades a condizer com as nossas. Naturalmente foram o alvo dos nossos dichotes, mas sem ousarmos meter conversa, não fosse o diabo tecê-las e as nossas consortes viessem a ficar amuadas. Mas também não deram a entender nada. Ou fizeram-se caras ou tinham outros polos de interesse na conversa, pois não nos ligaram nenhuma, como se não tivessem dado pela nossa presença. Não conseguimos dissimular a deceção pelo ostracismo a que fomos votados.
Por isso, já no exterior, com a música pimba a tocar alto e bom som e nós a fazer coro, conseguimos deixar de passar despercebidos. Mas foi só um pouco de show off. Nem nos demos ao trabalho de ver a reação delas e lá seguimos à nossa vida. Se ficaram frustradas, problema delas. Acordaram tarde.

No regresso a Vila Flor o Alexandre começa a sentir cólicas intestinais. De um simples mal-estar passaram a uma desagradável e difícil luta contra o tempo. No percurso, pela nova via rápida de acesso à auto-estrada, não havia recanto ou árvore convidativa a um calmo relaxamento. O previdente rolo de papel higiénico não pôde cumprir o seu papel. O melhor era esperar pela chegada a Vila Flor, sem incomodar os companheiros de viagem.
O Bernardino levou-nos então até ao restaurante do amigo Toni. Com o aproximar da meta tornou-se titânico o esforço para chegar ao fim da etapa sem deixar descarrilhar o comboio. Os últimos metros foram em indisfarçável passo de corrida. Ao baixar da bandeira correspondeu o sorriso triunfante de um vencedor de fórmula um, a que se sucedeu a paz angelical de um monge budista em meditação. Uf, que alívio! Desta safei-me, mas não chegou para o susto.
No final, um retemperador chá, que permitiu fazer depois uma calma e tranquila viagem de regresso a penates. 
Já passava da meia hora quando atingimos o nosso porto, em Valadares City. Esperava-nos o repouso do guerreiro, após uma viagem tão cheia de emoções, que vai ficar devidamente registada nos anais do grupo.

Reportagem na Visão
Esta aventura no Alto Douro Vinhateiro teve honras de reportagem na Visão de 30 de agosto de 2012, que pode ser confirmada por quem queira consultar a revista publicada nesse dia. Aí pode ver-se, por exemplo, a visita ao Lagar, inclusivamente com foto da mesa onde almoçamos. É a prova provada de que é verdade o que afirmo.

Nota do autor do texto
Nesta resenha limitei-me por isso a referir apenas os episódios que, por demasiado pessoais ou por conterem palavras ou cenas menos próprias para ouvidos sensíveis, foram omitidos pelo repórter ao serviço da Visão. Mas estava lá o cronista para guardar esses momentos para a posteridade.

Nota do autor do Blogue:
Este texto foi escrito pelo Alexandre e, como verificaram, ele fê-lo seguindo as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Eu respeitei a sua opção e publiquei na íntegra o seu texto apesar de ser profundamente contra este acordo e nunca o utilizei, nem irei utilizar, neste blogue por razões que explicarei no próximo post.

E para terminarmos esta aventura vejam neste vídeo quase tudo o que Alexandre descreveu tão bem!

(PS: para ver melhor dê um click no título "Uma Aventura os cinco no Nordeste")
  


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Uma aventura – os cinco no nordeste (V)

Barca d’Alva
Regalado o estômago, retemperadas forças e cumprida a primeira e principal etapa da devota peregrinação, a próxima estação seria Barca d’Alva, onde fica a primeira barragem no Douro Internacional.

Ficando o Escalhão num elevado planalto, obviamente o caminho era sempre a descer para o rio. No caminho o ponto de paragem obrigatório era o Miradouro (e mijadouro) do Alto da Sapinha: ao fundo, bem lá no fundo, o rio Douro, com o ancoradouro ocupado por um moderno navio-hotel; a leste os montes espanhóis, a dar um ar de cosmopolitismo à agressiva paisagem; no ar, nas suas acrobacias de caça, duas imponentes águias, quiçá reais, estavam a borrifar-se completamente para os olhares dos mirones, que gostariam de as apanhar estáticas, ao alcance das objetivas das máquinas fotográficas, de preferência recortadas contra o azul do horizonte.

A estação de Barca d’Alva foi alvo de uma romaria de saudade do Bernardino, que aqui passou momentos inesquecíveis na juventude. O espaço, que se vê claramente que foi uma grande e movimentada gare, está agora transformado num antro fantasmagórico, que nem um desesperado par de namorados se atreverá a frequentar à noite.

Freixo de Espada à Cinta e Vila Flor
Nova etapa nos espera: Freixo de Espada à Cinta, certamente mais célebre pelo colorido nome fora do comum que pela singularidade da arquitetura da vila ou por nomes sonantes de ilustres da terra.

No caminho mais uma paragem em frente ao imponente Penedo Durão, donde se avista a barragem de Saucelhe, com Espanha na outra margem.
No Freixo a nova sala de visitas é na Congida, praia fluvial com uma moderna e agradável zona balnear, com piscina no rio, cais de atracação para mini-cruzeiros e casinhas de fim-de-semana incrustadas na montanha. Visita de médico, pois o tempo urgia.

Entretanto íamos comentando o acasalamento dos grupos da champions. Naturalmente festejado e comentado o grupo do Porto, com o do Benfica a ser alvo das costumeiras farpas, ou não fossem quatro contra um, num jogo desigual onde o inocente lampião (o Bernardino) sai sempre a perder.

Entretanto, mais tentativa de pôr o CD a funcionar. Já sem muita convicção, mas surge uma boa notícia, prova provada que quem porfia sempre alcança: o leitor passa a debitar música. Prémio à persistência do Jorge.

Seguimos então para Vila Flor, terra natal do ilustre benfiquista (ilustre não por ser benfiquista, claro, mas por ser quem é e por estar no grupo em que está), após uma curta paragem em Moncorvo para nos dessedentarmos.

Como não podia deixar de ser, a visita à casa paterna tornou-se obrigatória. Daí passamos ao prédio, uma interessante quintinha onde comemos figos e colhemos uvas. Pêssegos nem vê-los. Água também nem um fio restava nas represas que o Bernardino nos garantiu que habitualmente estariam cheias. Deu para cada um encher um saco de uvas para oferecer de prenda à patroa que ficou em casa à espera da chegada dos vadios.
(Cont...)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Uma aventura – os cinco no nordeste (IV)

A caminho do Escalhão 
A próxima paragem técnica (para desenferrujar as pernas, apreciar a paisagem, tirar umas fotos e… verter águas) foi nas Caldas de Moledo.
O Rogério cumpriu todos os objetivos a preceito, enquanto o Alexandre se entretinha a apanhar figos, o Mota ficava refastelado e contemplativo num banco de jardim e o Jorge e o Bernardino cumpriam a função de repórteres fotográficos.

A Régua era local de paragem obrigatória, junto ao ancoradouro, onde estava atracado um enorme navio-hotel do Douro Azul do nosso conhecido Mário Ferreira.
Tomado o café da praxe prosseguimos caminho até à barragem de Bagaúste. Como estava um barco a passar na eclusa, eram muitos os mirones. O Jorge vislumbrou uma nesga e pediu a uma simpática donzela para o deixar espreitar pela frincha para tirar umas fotos. A gaja riu-se, não sabemos de quê.

O DOC (do chefe Rui Paula), na foz do Távora, foi objeto de romaria e espiolhagem. Foi com simples curiosidade mas algum alheamento e desdém que observamos a ementa. Nada que nos seduzisse, pois o nosso destino era claro: o Lagar, em Escalhão.

Na subida do Pinhão para a Pesqueira paramos a admirar a paisagem. E com quem havemos de deparar a fazer o mesmo que nós? Isso mesmo, a donzela a quem o Jorge pedira para lhe deixar espreitar pela frincha na barragem. Trocamos fotografias e prosseguimos viagem, que já se fazia tarde.

Já passava da uma hora quando chegamos a Foz Coa. Até ao Escalhão ainda tínhamos uns bons 50 kms e confirmamos que tínhamos mesmo de ir a Figueira de Castelo Rodrigo. Não havia volta a dar, ou seja, tínhamos mesmo de dar a volta toda: ir para um lado e depois fazer uma volta de 180.º, seguindo um caminho quase paralelo ao primeiro, mas em sentido oposto.
Passava da hora e meia quando cortamos a meta e aterramos no Lagar.

Lagarada no Lagar (N 40.944886 W-6.92777)
O Lagar não é propriamente um restaurante, mas muito mais um “lugar de afetos” – dixit a proprietária, D. Cristina Gomes. E quem somos nós para a contrariar!

Uma simbiose perfeita entre o rural e o urbano, a tradição e a modernidade. Um recuo ao século XVIII e a afirmação do século XXI: uma casa muito antiga, excelentemente recuperada; a arquitetura tradicional com o toque da decoração atual; alfaias e apetrechos talvez com dois séculos a coexistirem com uma carta de vinhos apresentada num ultramoderno IPAD.

Escolhemos o espaço exterior, por estar um tempo agradabilíssimo cá fora.
O saber receber e a hospitalidade durienses emergeram com naturalidade. Já não havia tiras de porco preto (prato da ementa do dia), mas ofereceram-nos (gratuitamente) uma minidose para degustação, acompanhada de melão e presunto.

Prato escolhido para o almoço: lagarada de bacalhau, com o dito passado pelas brasas e esfiapado, acompanhado de batata a murro e regado com azeite a preceito, empurrados por um agradável tinto da casa.
A dose era tão generosa que mesmo o bacalhau nem de empurrão marchou todo. O sobrante e as batatas davam para alimentar uma famélica família cigana. Quem lhes dera!
As sobremesas eram deliciosas misturas de doçaria tradicional com requintes de apresentação de um Master Chefe com estrela Michelin: um hino à sabedoria caseira no dizer de um repórter da Visão.

Quando chegou a dolorosa o preço afinal foi… uma agradável surpresa: 22 euros por cabeça, o que, não sendo barato nem acessível a um professor ou reformado, era uma quantia módica face à variedade, qualidade, quantidade e serviço que nos foram proporcionados. 

Quem nos dera ter à mão muitos lugares de afetos como este (ou será lagares de afetos?)

(Cont...)

domingo, 16 de setembro de 2012

Uma aventura – os cinco no nordeste (III)

Começa a aventura
O dia amanheceu cedo, pois o plano afinado na véspera era impositivo: “às 7 e 10 em ponto em casa do Jorge”.
 
À hora marcada surgiu o Bernardino no seu bólide "novo" (já com 12 anos, mas acabado de fazer a revisão) com o Rogério. Aproveitou a oportunidade para fazer a rodagem, fazendo lembrar o outro que foi fazer o mesmo à Figueira da Foz e daí em diante foi só subir até ao galho mais alto do poleiro. Força Bernardino! Os bons exemplos são para seguir. Torcemos por ti.
 
Da casa do Jorge seguimos para a casa do Mota, que já estava impaciente à nossa espera e farto de nos chamar nomes. Acalmou logo.
 
Vinte minutos depois estávamos a cumprir a primeira paragem constante do plano: um café nas bombas da Galp, na Auto-estrada para Amarante.
 
Como nada é perfeito nesta vida, os CD’s do Rogério (amorosamente preparados a pensar nesta viagem) ficavam mudos no leitor do carro do Bernardino. Falha técnica imperdoável, pois a música é uma das mais divinas componentes da vida. Frustrados mas não convencidos, o Bernardino, o Jorge e o Rogério tentavam trinta por uma linha para dar voz ao Quim Barreiros, Emanuel e quejandos. Mas sem sucesso.
 
Com o GPS foi quase a mesma coisa: o Rogério introduziu as coordenadas da longitude ao contrário. Em cada cruzamento a voz da sereia mandava-nos para a direção oposta. Mas o Rogério não se convencia. Só deu o braço a torcer quando já no destino (local do pequeno almoço) viu que o infalível indicava que faltavam ainda 8 horas de viagem para chegar a esse preciso local. Mais vale tarde que nunca.
 
Pequeno almoço
Tínhamos saído da auto-estrada no Padronelo, onde era intenção comprar o famoso pão da região para o pequeno almoço. Mas parece que a tradição já não é o que era: corridas várias padarias, umas estavam fechadas e outras só tinham pão comum. Casmurro e determinado, o Mota não aceitou o que lhe queriam impingir. A fome é negra mas não pode ser saciada de qualquer maneira. Há que manter os princípios. Em boa hora o fez, como se veio a constatar: já em Mesão Frio acabou por encontrar um pão tipo saloio que fez as delícias do pequeno almoço. Obrigado Mota.
 
No caminho para Mesão Frio surge à nossa frente uma azelha ao volante, que foi naturalmente objeto do genuíno e amplamente justificado escárnio masculino. Para evitar dissabores aproveitou-se uma curva da estrada e o surgimento de uma abandonada casa de cantoneiro para descolarmos da azelha, aproveitando para fazer a primeira (de várias) paragens técnicas (ver definição mais à frente).
 
Seguindo o roteiro pré-definido, o local do pequeno almoço foi o Monte de S. Silvestre, ponto de convergência de 4 distritos, com uma vista soberba sobre o Douro. A subida era uma rampa íngreme e de curvas apertadas, cenário ideal para uma prova de carrinhos de rolamentos, capaz de fazer soltar a adrenalina aos mais valentes.
 
Numa mesa de merendeiros, onde muitos terão já feito o gosto ao palato, montamos a nossa tenda: liteiro por baixo, toalha típica de quadrados por cima. As iguarias eram tais e a fome e vontade de comer eram tantas que tudo soube pela vida: pão saloio delicioso, salpicão, queijos, presunto, azeitonas. Como não havia leite nem café o acompanhamento foi … tintol, pois claro. No final, um trago de Porto de lavrador, a abrir o apetite para as iguarias que iríamos saborear ao almoço, o ponto alto da viagem.
(cont...)

sábado, 15 de setembro de 2012

Uma aventura – os cinco no nordeste (II)

Preparativos da viagem ao nordeste

O grupo junta-se à quarta-feira para tomar café e trocar umas bocas. De vez em quando arrancam para um programa de turismo e gastronomia, atividades que conjugam na perfeição com o cultivo da amizade e dão um importante contributo para uma vida digna e interessante.

Há vários meses o Rogério vinha sugerindo uma viagem ao Alto Douro Vinhateiro e Nordeste Transmontano. Um almoço no Lagar, no Escalhão, era o pretexto.

Assumida a decisão de concretizar a aventura, desde logo se iniciaram os preparativos. Mas é algo impróprio chamar à viagem uma aventura, pois nada foi improvisado nem deixado ao acaso. Tudo foi planeado ao milímetro.

Semanas a fio se falou na viagem e se foram acertando pormenores até tudo ficar bem definido: hora de saída; horas e locais de paragem, almoço, locais a visitar e inclusive alguns locais obrigatórios ou aconselháveis para verter águas.

A experiência de viagens anteriores e o conhecimento de raiz do Rogério e do Bernardino davam a garantia de que o programa iria ser cumprido à risca e sem sobressaltos.

Custou foi a acertar a data. Primeiro era o Jorge, que tinha de fazer tratamentos na cápsula (e com cápsulas); depois foi o Mota, que volta e meia se esgueirava para Madrid; depois foi a sogra do Rogério a empatar a viagem (já todos sabem como as sogras são umas empatas); o Bernardino procurava sempre fugir como uma enguia, parecendo ter medo de regressar à terra.

Como o grupo respeita a liberdade de cada um, claro que se podia ir sem o Bernardino. Mas não era a mesma coisa, como se veio a constatar.

No planeamento da viagem ficou distribuída a multa que cada um tinha de carregar: o Rogério levava toalha, faca de Palaçoulo e salpicão; o Mota levava salpicão, melão, presunto e comprava o pão; o Bernardino queijos, melão e faca; o Jorge levava presunto, queijo e água; o Alexandre levava um liteiro, copos e talheres de plástico, vinho do Porto e azeitonas. E, à cautela (a experiência é sempre útil e o saber não ocupa lugar), levou também uma toalha e um rolo de papel higiénico, que veio a demonstrar a sua utilidade.

Na véspera do grande dia (em sentido literal) houve estágio, para garantir que tudo estava a postos e nada ficava deixado ao acaso.

(cont ...)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Uma aventura – os cinco no nordeste (I)

30 de Agosto de 2012

Nota prévia: A crónica desta viagem é da inteira responsabilidade de Alexandre Ribeiro, Economista e autor do livro "Economia em contramão". É também o outsider do grupo (como ele próprio se intitula) mas integrou-se tão bem que até parece que está connosco desde o primeiro dia.
É um excelente texto, brilhante mesmo, que retrata com humor, rigor e precisão todos os pormenores de mais um passeio deste grupo que faz da amizade e do saudável convívio uma forma de resistir, criando as asas necessárias ao tempo que se vive…

por Alexandre Ribeiro:
Previa escrever esta crónica em duas páginas. Mas palavra puxa palavra, as emoções foram tantas, os episódios foram mais que muitos e acabou por dar nisto: um texto com tamanho desmesurado. Mas fica o relato para a posteridade. As recordações não se medem em páginas, mas convém que fiquem registos rigorosos e impressivos gravados no cérebro, mas sustentados em factos, prosa e fotos, para perdurarem na memória de quem teve a felicidade de viver momentos únicos.


Os cinco da vida airada – versão 5.com
 O outro juiz também dizia à prostituta que ela andava na boa vida.
É boa, vida, é” dizia ela. “Vá o sr. dr. Juiz apanhar…….” (como não se sabe quem vai ler esta prosa convém ser cauteloso e ficar por aqui, não usando o vernáculo nem ipsis verbis as frases proferidas) e diga-me depois se é boa vida”.
Cada qual sabe de si e, quantas vezes, por trás de uma aparente boa vida, há muita dor e confusão quanto baste. Mas adiante.
 O Jorge Matos é o pivot do grupo. Boa vida leva ele: ultimamente até passou horas dentro de uma moderníssima cápsula, qual astronauta com vontade de ir a Marte. Tudo para ver se consegue voltar a andar equilibrado.
O Rogério Calvo é uma boa pessoa, na opinião da sogra, que já nem o consegue reconhecer. Passou os últimos tempos entre o hospital e uma peregrinação por tudo o que cheirasse a lar. Ainda tens um bocado de sarna para te coçar, Rogério.
O Mota, esse anda na maior. Passa temporadas em Madrid, anda todo babado com os netos, respira saúde e felicidade. Continua assim, Mota. Invejamos-te, mas estamos muito felizes por ti. Mereces o melhor.
O Bernardino não sabe o que fazer à vida. Não é reformado, nem está no ativo. Não é doente, nem está saudável. Gosta da família, mas os parentes só lhe criam problemas. É proprietário mas daí quase só lhe advêm chatices.
O Alexandre é o benjamim do grupo e um outsider: é o único que não é professor de profissão (mas exerceu durante um ano). Na EB 2/3 de Valadares fazem o favor de o considerar um quase igual. Como fechou a empresa onde trabalhava (a crise chega a todo o lado), agora que está em cima dos 60, onde é que vai arranjar um novo emprego? Já é tarde para emigrar. Aguenta Alex!
 Que nome dar ao grupo? Deixo uma dica para inspiração, extraída do suplemento Atual do jornal Expresso de 8 de setembro: Mui nobre Confraria da chouriça de sangue de porco coxo da pata traseira esquerda (sic).


                                                                                         (continua ...)


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Insurreição política desarmada... vamos parar o país!?

Enviaram-me por e-mail este vídeo e entendi que, pela sua actualidade e pertinência, deveria partilhá-lo aqui convosco.
Ouçam e meditem nas palavras sábias deste Senhor Padre!  
Se todos os padres fossem como este até eu ia à missa!


Pela minha parte repito o que um dia disse Miguel Torga e aqui citei várias vezes: "Somos socialmente uma colectividade pacífica de revoltados". De facto, somos tão bonzinhos, tão bonzinhos, que todos abusam de nós...

Comparem o que acontece em Espanha e na França com o que nos fazem aqui em Portugal.
O primeiro-ministro espanhol admitiu recentemente ter de reduzir o défice, mas não aceita (nem permite) que lhe digam o que fazer e como. Nesta conformidade veio dizer (enviando um recado à troika) que não prevê tocar nas pensões ou alterar os impostos e contribuições sobre o trabalho em 2013.
Por sua vez o Governo francês uma das primeiras medidas que tomou foi reduzir em 30% do salário do Presidente e dos Ministros e criar um imposto sobre as grandes fortunas.


E em Portugal? Tomam-se medidas (atrás de medidas) de austeridade em que os portugueses com rendimentos mais baixos são os mais penalizados e, por sua vez, as grandes empresas (Banca, Sonae, EDP, Jerónimo Martins, Portugal Telecom e Mota-Engil) ganham com a descida da Taxa Social Única (TSU) cerca de 130 milhões de euros!!!

E nós não dizemos nem fazemos NADA???

Porque não exigirmos, desde JÁ, ao governo deste país (tão expedito a impor sacrifícios descomunais aos trabalhadores e aos aposentados) que nos explique porque razão continua a manter 3 governos no continente e ilhas; 333 deputados no continente e ilhas; 308 câmaras; 4259 freguesias; 1770 vereadores; 30000 carros; 40000(?) fundações e associações; 500 assessores em Belém e 1284 serviços e institutos públicos?

Deixo outro desafio: vamos seguir o caminho apontado pelo Padre Mário da Lixa (homem valente)! Vamos "lixá-los"! Vamos parar este país! Porque não?

CONTE COMIGO PADRE MÁRIO! 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A verdade da mentira!

Nós, Transmontanos, bem dizemos: "a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima"!

domingo, 9 de setembro de 2012

Fundamentalismos ...

Foi ontem - finalmente - libertada da prisão uma criança com 12 anos de idade (!), com trissomia 21 (síndrome de Down)!!!

Esta jovem que, naturalmente, apresenta debilidades intelectuais e défices cognitivos em consequência da sua deficiência, tinha sido detida dia 16 de Agosto de 2012, em Mehrabad, um bairro em Islamabad habitado por perto de 800 paquistaneses cristãos, depois de uma multidão em fúria ter exigido que fosse punida. 
Um responsável da polícia local disse à agência noticiosa France-Presse (AFP), que a criança terá sido vista em público com páginas queimadas entre as quais se encontravam versos do Corão e outros textos islâmicos. 
A criança chamada Rimsha foi ouvida no dia seguinte (17 de Agosto) em tribunal mas não terá conseguido explicar o que aconteceu e entendido as questões que lhe foram colocadas.
Mesmo assim ficou em prisão preventiva durante 14 dias, ao fim dos quais compareceu de novo em tribunal mas ... só ontem dia 8 de Setembro de 2012 foi libertada!!!  

A mesma agência referiu que no Paquistão, em muitos casos, aqueles que são acusados de blasfémia são mortos em ataques de multidões. Um desses casos foi registado no último mês de Julho, quando um homem acusado de blasfémia, mentalmente instável, foi capturado de uma esquadra da polícia para ser queimado vivo na zona de Bahawalpur, na província de Punjab. 
Por sua vez, a BBC lembrou que no ano passado, Shahbaz Bhatti, ministro dos Assuntos Internos, foi morto depois de ter defendido a revisão da lei sobre a blasfémia. Dois meses antes, o governador de Punjab, Salman Taseer, foi também assassinado após ter assumido a mesma posição.

Como é possível??? Como é possível que em pleno século XXI ainda existam no mundo, em nome de princípios religiosos e/ou políticos comportamentos verdadeiramente selvagens!?

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O retiro (I)

Sinto, neste meu retiro físico e espiritual, que estou há demasiado tempo desterrado, afastado do trabalho, dos colegas e dos alunos.
Este tempo de pausa, mas também de luta, obriga-me a ser imaginativo. O saber de experiência feito e acumulado até aqui, de pouco me serve se não estiver com a mente disponível e aberta a tudo o que ainda pode vir...


Esta é uma outra vida, uma experiência nova que me proporciona descobertas e experiências diferentes. Desfruto de um tempo novo, inspirador, fértil de momentos de prazer e cheio de novas ideias. 
No meio destes sentimentos ambivalentes de prazer mas também de incertezas e de dúvidas, procuro seguir os princípios de alguém que sabiamente expressou o que me vai na alma: “às vezes é necessário excluir pessoas, apagar lembranças, deitar fora o que nos magoa, abandonar o que nos faz mal, libertarmo-nos das coisas que nos prendem … esperar sempre o melhor, prepararmo-nos para o pior e aceitar o que vier. É preciso arriscar, ousar, não desistir e saber valorizar quem gosta de nós, esses sim merecem o nosso respeito. Quanto ao resto, bom, ninguém precisou de restos para ser feliz".

sábado, 1 de setembro de 2012

Isto de escrever sobre tudo e no fim das contas acabar por escrever sobre nada ... é o que dá!

Sinto, às vezes, a necessidade de colocar tudo cá para fora, mas não sou muito bom a dizer o que sinto, prefiro comunicar através da escrita do que pela comunicação oral. 
Ao escrever o que penso e o que sinto, faço-o porque tenho a noção de que não devemos guardar sempre tudo para nós. Se o fizermos acumulamos peso, amarguras, decepções e lembranças em elevado número e isso toma conta de todo o nosso interior e preenche-nos de uma forma incontrolável. O nosso corpo fica, física e espiritualmente, cheio de lixos como que de um contentor de lixo se tratasse!
Quando tomo consciência desses factos fico triste e de mau humor. 
E ... começo a escrever não sei bem o quê, nem para quê. Como agora mesmo que comecei a tentar expulsar demónios de mim, esses sentimentos maus, mas não é fácil, não sei se consigo, mas vou tentar ficar mais leve, escrevendo, apesar de ter consciência de que não sou escritor nem domino todas as regras da escrita. Também não sou um dos funcionários camarários de recolha e limpeza de contentores de lixo! 
Então convenço-me que tudo o que preciso agora é deste teclado e deste monitor para escrever qualquer coisa, qualquer coisa que ninguém tenha escrito antes.
É verdade que somos assim: uma mistura de sentimentos, bons e maus. 
Tal como uma balança, em que num determinado momento pesa mais para um lado do que o outro assim acontece com o controle dos sentimentos. 
Seria muito mais fácil se tivéssemos um controle remoto para ligar e desligar sensações e emoções quando  nos fazem sentir mal, tristes e desorientados.
Mas para além de tal não ser possível também não se aprende na escola a lidar com a dor e com as alegrias. Temos que ser nós, cada um de nós, a encontrar as respostas e o caminho que melhor nos serve em cada momento da nossa vida.

E pronto! Já está. Escrevi e se calhar nada disse mas estive concentrado num determinado ponto desviando o foco daquilo que me estava a perturbar.

Se não perceberam esta mensagem, fiquem-se pelo título.