Pretendo, despretensiosamente, divulgar aqui ideias, pensamentos, acontecimentos, imagens, músicas, vídeos e tudo aquilo que considere interessante, sem ferir susceptibilidades.

Falando de tudo e de nada... correndo o risco de falar demais para nada!


terça-feira, 28 de agosto de 2012

À conquista do espaço e primeira viagem do Homem à Lua ...

Dias depois da morte de Neil Armstrong, aos 82 anos de idade, e para aqueles que tal como eu assistiram, em 1969, pela televisão ainda a preto e branco, à primeira viagem do Homem à Lua, ou para aqueles que nunca viram e ainda para aqueles  que (também os há) não acreditam, aqui fica aquele que foi tido como o "grande passo para a humanidade": o momento em que Neil Armstrong pisou, pela primeira vez, solo lunar. 


Para verem numa outra perspectiva e com pormenores de toda a viagem carreguem aqui
Passem de stage1 a stage2, e assim por diante. 

Liguem o som. Fantástico!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Reportagem fotográfica 1: Barcelona

Hoje dou início a uma série de reportagens fotográficas que irei publicar, sempre que achar oportuno, com fotografias que fui tirando dos locais por onde fui passando.



E ... é sempre bom beber água da Fonte de Canaletes, nas Ramblas, porque dizem que quem bebe dessa fonte vai certamente voltar a Barcelona. 
Vale a pena tentar!...

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Porto aqui tão perto ...

Por vezes não valorizamos as coisas boas que temos e procuramos noutras paragens aquilo que podemos encontrar mesmo do outro lado da ponte. 

De facto, e falo por mim, o Porto aqui tão perto e eu sistematicamente a passar-lhe ao lado, ou por cima, nesta minha enorme vontade de conhecer o mundo, de viajar e de visitar outros países e outras paragens. Não que isso seja errado ou esteja arrependido, mas é uma pena desperdiçar ingloriamente aquilo que é nosso, tão valioso e bonito.

Por tudo isso (e também porque tenho tido mais disponibilidade) vou aproveitando o tempo para descobrir a cidade do Porto! E, quanto mais a percorro a pé, de carro, de metro ou nos autocarros turísticos, mais me convenço que tenho sido muito injusto para esta cidade tão esplendidamente situada junto à foz do Douro. Tenho visto, com mais rigor e pormenor, a harmonia do seu conjunto arquitectónico de valor excepcional e a beleza do seu centro histórico, que é Património da Humanidade desde 1996.

Comprovem viajando comigo neste vídeo! Tenham atenção às casas e a alguns pormenores belíssimos aos quais não prestamos, muitas vezes, a atenção merecida. 


Acedam também a este link (que um amigo me enviou por email, juntamente com as fotos) e depois digam-me se tenho razão, ou não, quando digo que o Porto é uma das mais belas cidades do Mundo!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Depois logo se vê ...

Hoje eu ia (queria) escrever alguma coisa. Não sei nem me recordo o que era. Estou num estado de espírito em que me falta quase tudo. Não tenho paciência nem para mim. Apetece-me estar em silêncio ou então com o som muito alto para escorraçar os pensamentos.
Não me apetece ler e escrever também não. Conversar e ouvir opiniões nem pensar e emitir juízos de valor muito menos. 

Perante este dilema, lembro-me de Haruki Murakami, in Kafka À Beira-Mar quando escreveu: "Meu caro Kafka, a maioria das pessoas chega a um ponto na vida em que já não se pode voltar atrás. E, em raríssimos casos, a um ponto em que já não é possível avançar. E quando se chega a esse ponto, não temos outro remédio senão aceitar calmamente o facto consumado. Só assim é que se sobrevive".

É assim que me sinto, é assim que eu estou. Não posso fazer mais nada. Portanto, vou tentar deixar andar e depois logo se vê.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

32 anos ... é muito tempo!?

O caminho que juntos trilhámos, no dia 21 de Agosto de 1980, é a vida que tem valido a pena ser vivida.
Se ser feliz é consequência dos nossos pensamentos e das nossas atitudes então a atitude que tomámos nesse dia foi, de todas, a melhor.

Poderia justificá-lo de várias formas mas, aqui e agora, uma chega: os nossos dois maravilhosos filhos.

Para ti, Amélia 

sábado, 18 de agosto de 2012

Pare, Escute e Olhe e, já agora, "Veja" o nosso SNE.!

"Se puderes olhar vê, se puderes ver repara", escreveu José Saramago, no Livro “Ensaio sobre a cegueira”, que (ainda) não acabei de ler. 
Esta afirmação suscitou-me um leque de sentimentos que por vezes estão um pouco esquecidos e fez-me recordar aquela expressão que se lê nas placas que costumam colocar nas passagens de nível sem guarda dos Caminhos de ferro: Pare, Escute e Olhe
Sou da opinião que devemos aplicar este Pare, Escute e Olhe todos os dias da nossa vida e em relação a tudo o que nos rodeia. Mas, imbuídos nos nossos problemas quotidianos, quantas vezes paramos, escutamos e vemos, mas ... não reparamos?
Ultimamente tenho tido mais tempo e oportunidades para fazer um pouco de tudo isso.
E ... lá está!... Reparei, por exemplo, naquilo a que eu passarei a chamar o nosso SNE (sistema nacional de educação)!
- Mas isso não existe!! Ó Fonseca do Pinhal, estás parvo? Estarão neste momento a pensar alguns dos que me estão a ler.
Pois … formalmente não, não existe! Responderia eu. Na realidade o que existe é um Ministério da Educação que tem vindo a funcionar - ao longo de décadas - como se fosse um sistema de favores aos investidores privados na educação deste país, acrescentaria ainda. 

Vejam as editoras que publicam todos os anos os mesmos manuais escolares, às centenas de milhares, com os mesmos conteúdos coloridos e cheios de bonecada, mas com capas diferentes. Deste modo, vendem sempre o mesmo produto e aumentam exponencialmente os seus lucros. É um escândalo que os pais sejam obrigados a gastar todos os anos uma fortuna na compra desses livros escolares que depois quase não são utlizados pelos filhos. 
 O "nosso SNE." ao permitir que esta situação se perpectue não promove a educação, parecendo preferir salvaguardar o negócio de editores e livreiros. 

Reparem nas Universidades privadas (fábricas de trocar dinheiro por diplomas) que oferecem milhares de cursos que nunca tiveram, nem virão a ter, qualquer utilidade para quem as frequenta. É impressionante ver tanta licenciatura sem saídas profissionais. Faz-me impressão ver alunos a saírem de Universidades com cursos que dificilmente lhes darão oportunidades reais de afirmação ou progresso profissional. 

E nós? Não dizemos nem fazemos nada? Razão tinha Miguel Torga (desculpem a repetição) quando disse: “Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados.”

Infelizmente, o que se passa de errado na Educação não é só com o negócio "da china" das editoras e seus manuais escolares, nem com o Ensino Superior. 
O grande problema é que muitos alunos chegam lá sem saberem nada de História, de Geografia de Portugal e/ou a escreverem sem h. Infelizmente também  há professores que escrevem no Livro de Ponto e no sumário da sua disciplina: "Desenho vista", como - de facto - já tive a oportunidade de ver. Esta é a realidade.
Como também é um facto (e um escândalo) aquilo que ultimamente tem sido badalado na comunicação social com os variados cursos superiores obtidos por equivalência, funcionando, na prática, como que o prolongamento das Novas Oportunidades. Ou, se recuarmos um pouco, podemos recordar o modo como o nosso antigo Primeiro Ministro obteve a sua licenciatura, também numa universidade privada, sem nunca lá por os pés, com um só professor a fazer (por fax) a avaliação a quatro disciplinas e ... num Domingo!

Por isso eu pergunto: tudo isto não demonstra que existe o (um) sistema nacional de educação? 
E porque razão ninguém do Governo diz (nem faz) nada de concreto para acabar com tudo isto? De facto, desde o encerramento compulsivo da Universidade onde Sócrates tirou a sua licenciatura que ninguém fez mais nada.
E eu que acreditei tanto (sou muito ingénuo) no actual ministro da educação!

Notas finais: 
1ª - Dias da Cunha, um antigo presidente do Sporting Clube de Portugal, denunciou, há uns anos, o sistema que existia no futebol português. Coitado! A partir daí foi de tal modo apertado que teve de abandonar o seu lugar. 
Será com receio que lhe aconteça o mesmo que o ministro da educação se mantém caladinho?
2ª - Este post pretende ser mais um dos meus gritos de revolta contra esta "escumalha" que nos tem governado. Mais do que votar, denunciar quem se aproveita dos cargos políticos para se governar é para mim um dever cívico. 
E, tal como alguém disse, "nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos."

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Eu sou o máximo!...

Hoje faz 36 anos que morreu Elvis Presley, famoso músico e actor norte americano, conhecido mundialmente como o Rei do Rock.
Para marcarmos bem esta efeméride nada melhor do que deixar aqui um vídeo com as habilidades de um candidato a seu sucessor :-)


Podem acompanhar-me se quiserem. Não?! É pena :-))

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A parábola do anel ...

Hoje vou deixar aqui a tal história que tanto me sensibilizou e me foi contada pelo Caixeiro-viajante, do qual vos falei nos posts anteriores. Posteriormente, tive a oportunidade de a ouvir mais vezes e de eu próprio a reproduzir sempre que achei oportuno no exercício da minha actividade profissional. 
Para quem nunca a ouviu aqui fica ...
O Anel
 – Venho aqui, professor, porque me sinto tão pouca "coisa", que não tenho forças para fazer nada. Dizem-me que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?
O professor sem o olhar, disse-lhe:
– Sinto muito meu jovem, mas não te posso ajudar, primeiro devo resolver o meu próprio problema. Talvez depois…
E fazendo uma pausa continuou:
– Se tu me ajudares, eu poderia resolver este problema com mais rapidez e depois talvez te possa ajudar.
– C...Claro, professor, gaguejou o jovem, mas sentiu-se outra vez desvalorizado e hesitou em ajudar o professor. Este tirou um anel que usava no dedo mindinho, deu-o ao jovem e disse:
– Monta no meu cavalo e vai até ao mercado. Tenho de vender esse anel para poder pagar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceites menos que uma moeda de ouro. Vai e volta com a moeda o mais rápido possível.
O jovem pegou no anel e partiu. Mal chegou ao mercado começou a oferecer o anel aos mercadores. Eles olhavam com algum interesse mas quando o jovem mencionava uma moeda de ouro, alguns riam, outros saíam sem olhar para ele, só um velhinho foi amável a ponto de explicar que uma moeda de ouro era valiosa demais para comprar aquele anel.
Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer-lhe uma moeda de prata e outra de cobre mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos que uma moeda de ouro e recusava as ofertas. Depois de oferecer a jóia, sem sucesso, a todos que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso montou no cavalo e voltou.
O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, livrando assim a preocupação do seu professor e podendo receber ajuda e os conselhos que pretendia.
Entrou na casa e disse:
– Professor, desculpe, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse conseguir duas ou três moedas de prata, mas não acho que se possa enganar alguém sobre o real valor do anel.
– Muito importante o que disseste, meu jovem - contestou sorridente. Primeiro devemos saber o valor do anel. Volta a montar no cavalo e vai a um joalheiro. Quem melhor para saber o valor exacto do anel. Dizes que queres vender o anel e perguntas quanto te dá por ele. Não importa quanto ele te ofereça, não o vendes... Volta aqui com o meu anel.
O jovem foi até ao joalheiro e deu-lhe o anel para avaliar. O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou-o e disse:
– Diz ao teu professor que se ele quiser vender o anel agora não posso dar mais que cinquenta moedas de ouro.
Cinquenta moedas de ouro! - Exclamou o jovem.
– Sim, replicou o joalheiro, eu sei que com o tempo poderia oferecer cerca de setenta moedas mas se a venda é urgente...
O jovem correu emocionado a casa do professor para contar o que ocorreu.
– Senta-te – disse o professor.
– Tu és como esse anel, uma jóia valiosa e única. E que só pode ser avaliada por alguém com conhecimentos para o fazer. Pensavas que qualquer um podia descobrir o seu verdadeiro valor? E dizendo isso voltou a colocar o anel no dedo.
– Todos somos como esta jóia – valiosos e únicos – e andamos por todos os mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem.

NINGUÉM PODE FAZER-TE SENTIR INFERIOR SEM O TEU CONSENTIMENTO.

(Autor desconhecido)

domingo, 12 de agosto de 2012

Software para TV

Ouve uma altura (felizmente já passou) que gostaria de ter um software, que me permitisse mudar automaticamente de canal sempre que este gajo me surgia no pequeno ecrã.

Agora vem-me ao pensamento exactamente a mesma ideia sempre que me aparece este! 
Estou a ficar preocupado! 
Isto é de mim ou será uma praga?

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Praça III

O caixeiro-viajante (que nunca mais vi na vida) era um conversador nato. Fiquei pasmado a ouvi-lo durante o resto da tarde, mesmo em frente à Farmácia Vaz e ao lado da barbearia onde frequentemente ía cortar o cabelo. 
A partir do momento em que ele se apercebeu do meu estado de espírito, sobretudo da minha falta de confiança e de motivação para os estudos, foi a vez de ele assumir o papel de "psicólogo" e, como estratégia motivacional, tratou logo de me contar uma história (que reproduzirei num dos próximos posts) e que achei verdadeiramente extraordinária.
Enquanto conversávamos o Farmacêutico Celso Vaz (irmão do meu professor de Matemática, Presidente da Câmara e Médico – Dr. Artur Vaz) veio à porta da Farmácia uma série de vezes e, quando não vinha, espreitava lá de dentro curioso. Um "cusca" que não descansou enquanto não soube quem era o estranho sujeito que comigo dialogava!
Como a conversa fluía com muita facilidade tive a oportunidade, em jeito de vingançazinha, de "traçar" resumidamente o seu perfil. O Sr. Celso Vaz era - de facto - um bom farmacêutico, daqueles em quem se podia confiar para os curativos e para as injecções, bom profissional e muito boa pessoa. Mas... (e há sempre um mas) considerava-se um erudito! Tinha a mania de querer sobressair numa conversa por muito banal que fosse e querer ser sempre o protagonista central numa boa tertúlia. Era sem dúvida uma das figuras típicas da Vila! Contavam-se várias estórias dele nessa altura. Recordo-me daquela em que respondeu (!) a uma senhora sexagenária analfabeta, quando esta lhe pediu para lhe “medir” meio litro de álcool para um frasco que trazia de casa, do seguinte modo:
- “pois muito bem, se o recipiente for susceptível de levar tal quantidade eu medir-lho-ei, com certeza!”!
-Aãããhhh! Bô!! "Atão" em que ficamos? Vende-me ou não o álcool? Perguntou a senhora aturdida com a resposta do Farmacêutico.
Falava-se também daquela mania que ele tinha de, em pleno Inverno, vir para junto da porta da Farmácia e depois de molhar um dedo na boca e de o colocar cá fora, ficando com todo o corpo recolhido no interior, dizer para os presentes e com todo o ênfase: “hoje a brisa está extremamente gélida”!

Depois desta divertida conversa e ao despedir-se, ele fê-lo com respeito, educação e um formalismo a que eu não estava habituado, ele agradeceu a minha companhia relevando ainda o facto de o ter ajudado de forma desinteressada e sem o conhecer de lado nenhum. Referiu que gostou de me conhecer e que se um dia tivesse filhos gostaria de ter um como eu. Entrou na carrinha e partiu. 

A verdade é que a história que ele contou e aquele último elogio me caíram mesmo bem e vieram na hora que eu mais precisava. Naquele dia cinzento, em que não havia esperança de nada, para nada e por nada, tiveram um efeito muito, mas mesmo muito, positivo na minha vida. Reforçaram a minha autoestima e melhoraram a minha autoeficácia. 

Estou convencido que melhorando a percepção que eu tinha de mim próprio, como de facto aconteceu, passei a acreditar que era possível, através do meu esforço pessoal, realizar o meu sonho ...


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Miúda ...

Para descomprimir e relaxar enquanto não acabo de escrever a III parte da ... Praça! :-))

 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A Praça II

- Eh, pa ... desculpa - já vi que não és! Pensei que aqui nesta terra fossem todos gagos, carago! Já perguntei qual o melhor caminho para Moncorvo a três pessoas diferentes e todas elas começaram por dizer: va...vaiii po...po...por aquiiii..aqqqui..aqui fo..fo..ra. vi.vi..ra, etc..etc... e, eu acabei por não perceber nada daquilo que me disseram! 

Posta assim a questão, lá lhe expliquei o melhor percurso para Moncorvo que, aliás, não era nada difícil, era só seguir pela estrada nacional que o tinha trazido até Vila Flor.
O senhor estacionou a carrinha e convidou-me para lhe fazer companhia no lanche que iria aproveitar para fazer. Levei-o ao Café Liz, ali mesmo na ...Praça.
Era um indivíduo alto, muito magro, uma barbicha a emoldurar-lhe o rosto macilento e cavado, o nariz adunco, que me fez lembrar alguns dos judeus presos nos campos de concentração durante a 2ª Grande Guerra e que tinha visto, recentemente, nas fotografias da revista Vida Mundial. 
Ao caminharmos em direcção ao Café ele fazia-o com um andar desengonçado, bambaleante e com um vestuário invulgar e excêntrico: casaco largo e camisa branca aberta, onde dançava uma gravata desapertada e as calças da cor do casaco, que ele prendia com uns suspensórios largos e muito coloridos.

Nunca ninguém, até esse momento da minha vida, me tinha impressionado tanto! Quer pelo seu aspecto físico, quer pela forma invulgar como se deu a conhecer, quer na forma assertiva, convincente, clara e persuasiva com que comunicava. Demonstrou ser uma pessoa dinâmica, culta, educada e bem-disposta. Notava-se que valorizava muito o que fazia e que trabalhava com prazer.
Era vendedor de bicos para fogões a gás (!) que ele próprio fabricava em sociedade com um cunhado, numa pequena fábrica ali para os lados de Ermesinde. Estava em viagem, pela primeira vez, substituindo o sócio que costumava fazer esse percurso para Moncorvo e Freixo de Espada-à-Cinta, onde já tinham clientes que encomendavam os seus produtos em quantidade que justificava, por si só, a viagem do Porto. Entretanto procurava nas localidades por onde ia passando potenciais clientes tentando rentabilizar ao máximo a viagem.

Acabei por lanchar com ele e indicar-lhe um possível cliente que tinha uma loja mesmo ali na Praça e que era justamente um dos gagos a quem ele se tinha dirigido para perguntar o caminho para Moncorvo, exactamente o senhor Eusébio Ápio Garcia. Fomos lá, ele apresentou-se, disse ao que ia, confiante, mostrou os produtos e obteve o sucesso desejado ficando desde logo com mais um cliente. Saímos e sorriu ao mesmo tempo que me deu uma pancadinha nas costas.

Achou interessante esta coincidência de um dos gagos ter ficado como seu cliente e eu acabei por lhe dizer quem eram os outros dois. Um deles era o Zé "Rutela", empregado da bomba de Gasolina da Praça (que nessa altura ainda aí existia) e o último era um dos caixeiros de outra das principais casas comerciais da Praça, propriedade do senhor Vasco Pires.

Aproveitei para lhe contar a peripécia, que diziam ter acontecido, com esses três personagens. Um dia o caixeiro foi a mando do patrão transmitir um recado ao senhor Eusébio. Quando este viu e ouviu, pela primeira vez, o caixeiro a gaguejar à medida que lhe transmitia o recado do patrão e pensando que o rapaz estava a gozar com a sua gaguez saiu de lá de dentro com um metro de madeira para lhe bater. O empregado desatou a fugir e quanto mais fugia mais o senhor Eusébio corria aos gritos atrás dele. Quando chegaram ofegantes à loja do Sr. Vasco, este, perdido de riso, lá explicou ao Sr. Eusébio que o empregado também era gago. Eis que, de repente, entrou pelo comércio o Zé "Rutela" que também vinha a correr e esbaforido lhes disse a gaguejar: eu...eu bem lhe quis ddi..di...zer que ele também é gago, popopoooporra! :-))
(continua ...)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A Praça I

Neste meu narrar desconjuntado, em que a memória salta de um para outro tempo, de um para outro lugar e de um para outro momento, apenas pela lógica do que me recordo, coisas que surgem por contraste ou porque me impressionaram, ou ainda por justaposições de que mal entendo a razão, acontece-me por vezes recordar, neste vaivém de lembranças, pequenos factos que tiveram talvez importância decisiva, e que naturalmente acabaram por fazer de mim o que sou hoje. A verdade é que nos vamos fazendo com milhões de pequeninas coisas. É em tudo o que se vai processando pela vida fora que descobrimos o que somos (ou julgamos ser) e se forma a nossa visão do mundo.

Hoje, estou plenamente convencido de que foi num pequeno episódio que me aconteceu na Praça que surgiu em mim uma grande transformação na minha postura perante a vida. E que Praça? A Praça da República, de que já aqui falei mais vezes e que é chamada simplesmente a Praça, porque ... não existia mais Praça nenhuma em Vila Flor! A Praça onde quase tudo acontecia nesse tempo :-))

Antes de contar este pequeno episódio convém  referir que ele me transformou completamente, modificando e abafando aquela rebeldia e anárquica vivência que até aí tinha sido o meu dia-a-dia. Nesse tempo era considerado pelos professores do Colégio que frequentava o aluno baldas que só lia e estudava o que lhe interessava. O aluno que era capaz de discutir com os professores questões de um nível superior para a sua idade biológica nas áreas da sociologia, psicologia e mesmo história, mas que no conteúdo curricular obrigatório era apenas medíocre. Tanto assim que acabara de reprovar no exame do antigo 5º ano que fizera no Liceu Nacional de Bragança e, durante esse mesmo ano lectivo, tinha sido suspenso das aulas durante três dias por ter recusado pedir desculpa à criada do Padre Cassiano Dimas Fais (que era também o Director do Colégio), só porque lhe tinha mandado uns piropos brejeiros. Por outro lado, acabara de ganhar um prémio de cultura geral num concurso de rádio promovido pela Emissora Nacional, a que concorrera por escrito uns meses antes.

Passemos então ao episódio. 
Naquela tarde de um dia do mês de Julho, depois de ter lido, num dos bancos da Praça mesmo debaixo de uma das frondosas tílias que aí havia, juntamente com o Abel Salgueiro (grande amigo e infelizmente já falecido) e com o Tino Navarro (que é, hoje em dia, um dos mais prestigiados produtores de cinema do nosso País) o Jornal "A Bola", que nos tinha sido emprestado pelo Senhor João "Ourives", dirigia-me para casa triste, pensativo e sorumbático. 

Os tempos estavam difíceis, andava desmoralizado, descrente de mim e da vida. Revoltado com os professores, com o Padre, com o Presidente da Câmara (que era também meu professor de Matemática e o único médico da Vila!!!) que, depois de nos chamar ao seu gabinete da Câmara(!) obrigara recentemente meu pai a pagar uma lâmpada de um candeeiro de rua, que eu, de facto, tinha partido com um chumbo, quando dei um tiro com a arma de pressão que o Paulo "Pisco" me tinha emprestado para ir aos pássaros. De repente, ainda na Praça e já muito próximo da Farmácia Vaz, pára, mesmo a meu lado, uma carrinha comercial cujo condutor me pergunta lá de dentro com uma pronúncia tripeira: "pssst ... ouve lá, tu também és gago"?
- Hããããã!!!! Que raio de pergunta é essa?! Perguntei eu rispidamente, apanhado assim de surpresa.
 (continua...)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Memória IV: Biblioteca do Museu Berta Cabral

Com o conjunto das Memórias I, II, III e agora a IV, procurei focalizar um ponto (ou o centro fulcral) do meu percurso que tenha sido o sustentáculo maior do que foi depois a minha vida. Qualquer coisa como o fiel da balança do meu destino! 
Sinceramente não sei se o consegui, provavelmente não. Pelo menos tentei e - se não consegui - pelo menos ficam as memórias!
Nomeadamente a memória que tenho da Biblioteca do Museu Berta Cabral, em Vila Flor.
Foi aqui nesta Biblioteca, que passei a frequentar aos 15 ou 16 anos, que sedimentei os meus hábitos de leitura. Na realidade passou a ser, a partir dessa altura da minha adolescência, a minha sala de leitura e o meu local preferido de estudo. Desde logo, porque ficava situada num local muito próximo da casa dos meus pais (3 ou 4 minutos a andar devagar), num edifício senhorial (Solar dos Aguillares) do século XII e XIV, muito próximo da Igreja Matriz e mesmo à entrada da Praça da República.
Contrariamente à metodologia que utilizava na Biblioteca Itinerante em que depois de selecionar os livros e fazer a sua requisição, levava-os para casa e, passados quinze dias, ia de novo à biblioteca para os substituir por outros, nesta Biblioteca preferia utilizar os livros e as revistas no próprio local. 
Esta era uma opção minha pois a Biblioteca também passou a facultar, a partir de certa altura, o empréstimo domiciliário. Mas, nunca senti essa necessidade. No centro da sala da Biblioteca havia uma mesa rectangular, rodeada de cadeiras muito confortáveis. Os livros estavam colocados e devidamente sinalizados nas enormes estantes encostadas às quatro paredes. O ambiente era agradável, calmo, tranquilo e convidando à leitura concentrada. Porquê então sair com os livros?
Para além dos livros recordo-me das revistas que aqui lia, entretanto desaparecidas, e que na época me ajudaram a introduzir nos meus hábitos de leitura o gosto pelas notícias ilustradas, comentadas e apresentadas de um modo muito diferente dos jornais. A Flama, o Século Ilustrado e a Vida Mundial foram algumas delas.
O Século Ilustrado era um suplemento semanal do jornal O Século, um diário matutino de Lisboa, publicado entre 1880 e 1978, e fundado pelo jornalista Sebastião de Magalhães Lima.
A Flama, cujo primeiro número foi publicado em 1944, tinha um cariz católico. Mas tinha também a tradição de entrevistar grandes figuras do mundo do espectáculo ao mesmo tempo que fazia o tratamento de assuntos políticos importantes.
A Vida Mundial tinha características diferentes pois preocupava-se essencialmente em apresentar uma panorâmica daquilo que de mais importante se passava no mundo, dentro das limitações impostas pelo regime político dessa época.  

Por tudo isto, estou convencido que esta Biblioteca teve uma importância decisiva e determinante no meu processo de ensino/aprendizagem. Sobretudo na forma como aprendi a organizar e a sistematizar as informações e os conhecimentos, a pensar e a encontrar respostas para os problemas que ia enfrentando.
O contacto com os livros e com as revistas que aí fui conhecendo, juntamente com a educação dos meus pais, foi também determinante para o desenvolvimento de conceitos importantes tais como saber respeitar as diferenças e tomar consciência dos meus direitos e deveres, como pessoa e como cidadão.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012